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Quem vai decidir o futuro do mandato de Dilma é um Congresso que foi eleito com caixa dois e formado por centenas de suspeitos de corrupção
Por Lincoln Secco, na Carta Maior
A história se acelerou. No momento em que cada um de nós pensa ou discute a crise política, ela já mudou. Agora mesmo aflige-me a possibilidade de uma iminente prisão do líder mais popular do Brasil. Inútil me perguntar por que ele e Dona Marisa já não estão numa embaixada denunciando mundo afora que estamos em meio a um golpe de estado.
No entanto, a batalha ainda não foi perdida. Longe de mim dizer o que as forças políticas de esquerda devem fazer. Em minha opinião, todas elas já estão fazendo o que podem. Com exceção de pequenos grupos sem nenhuma expressão social, os partidos, artistas, intelectuais progressistas, lideranças comunitárias, movimentos sociais, sindicatos e cada um em suas conversas na família, na vizinhança, nas igrejas, teatros, bares, faculdades, locais de trabalho e até na rua já resistem espontaneamente ao golpe.
O Pântano
Recentemente, a imprensa noticiou um cacique peemedebista dizendo que não adianta mais o governo oferecer cargos. “Nessa altura do campeonato, eles que fiquem com o Titanic”. Ainda assim, um membro do partido aceitou a Secretaria de Aviação Civil. Por que aceitar um cargo por apenas 30 ou 40 dias?
O fato é que o jogo ainda não terminou. Os deputados do pântano, ora na base governista, ora indecisos, não são influenciados tanto assim pela grande imprensa como imaginamos. Seu interesse “maior” se resume a emendas no orçamento e indicação para cargos públicos. Um deputado do interior de Alagoas não tem o tipo de eleitorado de outro do sudeste, onde campeia o conservadorismo mais estreito. Além disso, quem está no governo precisará, em caso de impedimento da presidenta, trocar o certo pelo duvidoso. Um novo governo fará nova coalizão e haverá uma dança das cadeiras.
Por fim, as ilegalidades da operação Lava Jato finalmente atingiram a presidência da República. Enquanto isso não acontecia, Dilma tolerou a “independência” da Polícia Federal. Depois do grampo telefônico, ela reagiu e o novo Ministro da Justiça anunciou a troca do delegado geral e, possivelmente, da equipe da operação golpista.
Aqui reside o ponto. O cálculo de uma parte do Congresso é que enquanto Dilma permanece no poder, ela e o PT são o alvo principal e os reais corruptos se salvam. Agora Dilma sugere também que pode despolitizar a ação da PF trazendo alguma previsibilidade à vida política.
Aqui me atenho a uma descrição sem considerações morais. Afinal, quem vai decidir o futuro do mandato de Dilma é um Congresso que foi eleito com caixa dois e formado por centenas de suspeitos de outras modalidades de corrupção.
Qual o problema a ser enfrentado agora? Naturalmente, o PT perdeu quase toda a capacidade de governar. Qualquer medida contra os amotinados da PF será contestada na justiça. E para quem os tribunais darão ganho de causa? Um doce para quem adivinhar. Diante dessa situação já previsível, o governo teria que partir para o confronto final, mantendo suas decisões e atacando politicamente a polícia partidária. Demonstrações de rua serão um apoio indispensável. Um líder resistindo, melhor ainda. Se isso vai acontecer? O histórico do governo não ajuda a acreditar. Porém, a história do futuro não pode ser escrita, precisa ser feita.
Foto de capa: José Cruz/Agência Brasil