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"Antes de pensar no dia seguinte, é preciso pensar sobre o dia final – o momento no qual o impeachment será decidido - e buscar uma solução capaz de afastar a possibilidade de uma tragédia (...) A política precisa prevalecer sobre a histeria e a irracionalidade que parecem contagiar amplos segmentos da sociedade"
Por Vinicius Wu
As manifestações a favor da democracia e contra o impeachment da presidente Dilma atestaram que a esquerda e o governo possuem real capacidade de mobilização. Não há nenhuma importância em saber se foram maiores ou menores do que as mobilizações do dia 13. Certamente, foram menores. Mas, somente os porta-vozes mais estúpidos de alguns meios de comunicação percebem um processo político tão complexo como uma gincana.
O que importa saber é que o país vive uma perigosa escalada de radicalização e acirramento político, cindindo-se em dois campos mobilizados e, cada vez mais, distantes de qualquer diálogo.
Quem viveu ou está informado sobre os conflitos diários que estão ocorrendo pelo país sabe o que isso representa.
Uma elite política cada vez mais distante da realidade de seu povo e uma mídia comprometida, exclusivamente, com os interesses econômicos do capital financeiro e internacional estão criando um ambiente explosivo e estimulando a formação de uma onda de irracionalidade política e intolerância.
A expulsão de líderes oposicionistas dos atos do dia 13, as ofensas à senadora Marta Suplicy no mesmo local deveriam servir de alerta. Mas, a ânsia por conquistar pela força aquilo que não conseguirem através das urnas parece cegar os partidos de oposição.
Por sinal, foi Aécio Neves, com a arrogância e a falta de seriedade que lhe são características, quem começou a falar em “dia seguinte” à deposição de Dilma. O raciocínio é típico de lideranças políticas acostumadas a pôr em risco a ordem democrática para impor seus interesses. Oligarcas de direita na América Latina são assim. Como jamais estarão na linha de frente da defesa de suas posições nas ruas e já que nunca se envolvem diretamente nos confrontos que estimulam, pouco importa se há, ou não, o risco de um conflito generalizado. Certamente, Aécio e seus pares estarão longe de qualquer confronto, protegidos e assistindo, pela TV, seus correligionários sofrerem nas ruas as consequências de sua aventura.
Estive em frente ao Palácio do Planalto no dia da posse de Lula e participei do ato em Brasília no dia 18/03. Não consigo deixar de pensar na imagem de dois blocos posicionados em frente ao Congresso Nacional no dia da votação do impeachment. O risco de presenciarmos um confronto - de proporções jamais vista no Brasil - é imenso.
Imaginemos os dias que antecederão as votações mais importantes no Congresso. Acampamentos, vigílias, boataria generalizada, agressões verbais e físicas, radicalização completa nas redes sociais. Alguma dúvida de que isso ocorrerá?
E no dia da votação que poderá afastar Dilma, o que teremos? Dois blocos posicionados em Brasília, frente a frente. Nesse dia, muitos estarão ali prontos para uma guerra campal (quem pôde testemunhar o clima dos manifestantes pró-impeachment no dia da posse de Lula sabe bem do que estou falando).
Quem vai aplacar os ânimos? O que fará o lado que sair derrotado? A Polícia Militar está preparada para lidar com essa situação? Pretendem acionar o Exército?
Portanto, antes de pensar no dia seguinte, é preciso pensar sobre o dia final – o momento no qual o impeachment será decidido - e buscar uma solução capaz de afastar a possibilidade de uma tragédia.
É hora de se buscar algum tipo de pactuação. Um processo de impeachment conduzido por Eduardo Cunha não tem a mínima legitimidade para garantir que seu resultado seja aceito sem fortes questionamentos.
A política precisa prevalecer sobre a histeria e a irracionalidade que parecem contagiar amplos segmentos da sociedade. O governo deve utilizar sua capacidade de mobilização social e política apontando uma solução. Da mesma forma, setores mais lúcidos da grande mídia, do Judiciário, do Poder Legislativo e da intelectualidade devem começar a trabalhar por uma solução que evite confrontos e traumas que poderão marcar para sempre nossa jovem democracia. Não será nada simples e, talvez, já não haja mais tempo. Mas, qualquer esforço no sentido de um entendimento parece melhor do que esperarmos, inertes, e pagar para ver.