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Por Renato Rovai
O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero afirmou em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, que será divulgada hoje à noite no Fantástico, que de fato gravou uma das conversas com o presidente Michel Temer. E que também teria gravado diálogos com colegas de ministério. Na entrevista, porém, Calero não informou quais seriam esses ministros.
O momento mais preocupante da entrevista para o governo, porém, é o em que Calero explica por que agiu dessa forma:
Num sinal claro de que o mar de lama já subiu até o terceiro andar do Palácio do Planalto e que está por um fio para chegar ao quarto e invadir a sala presidencial, colocando em risco a continuidade do mandato de Temer, ele, e os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM) e Renan Calheiros (PMDB), darão entrevista coletiva conjunta ainda na tarde deste domingo.
Como se nada tivesse acontecido em relação ao episódio Gedel que possa lhes atingir, pretendem tratar da agenda parlamentar e da tal governabilidade.
O discurso para agradar ao mercado será que o Senado vai votar a PEC 55, que fixa teto para o gasto público por 20 anos, na terça-feira. Se esse discurso, porém, pode contribuir para jogar mais gasolina nas ações de rua contra Temer.
Nas conversas que têm sido divulgadas do presidente com seus interlocutores mais próximos, ele tem dito que não afirmou nada de comprometedor à Calero no episódio do apartamento de Geddel
Mas alguns juristas tem apontado que no mínimo, se soube das pressões do ex-ministros, ele teria violado o inciso terceiro do artigo nono da lei 1.979/50, que regulamenta os processos por crime de responsabilidade.
"Não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição". Essa seria uma das condições que sujeita o presidente da República a processo por crime de responsabilidade.
Para o jornalista Janio de Freitas "Michel Temer está chafurdado na manobra de Geddel, a quem buscou servir em autêntica advocacia administrativa em nível presidencial. Corrupção, nada menos". Jânio ainda acrescenta que: "Se Dilma foi processada por crime de responsabilidade, como quiseram os derrotados nas urnas, Michel Temer é passível de processo, no mínimo, por crime de irresponsabilidade."
Outro jornalista mais próximo ao atual governo, Clóvis Rossi, vai na mesma linha, o que demonstra que a insatisfação com Temer pode ser mais ampla do que parece.
"Quando um ministro e, pior ainda, um presidente acham admissível usar o cargo para advogar em favor de interesses privados viola-se a República. É simples assim. A partir desse desprezo pelos valores republicanos, abrem-se as portas para todas as demais violações", diz.
Segundo ele, Temer deveria seguir o exemplo de Geddel Vieira Lima e se demitir. E acrescenta que Temer confessou seu crime, por meio do porta-voz Alexandre Parola; "o mais elementar bom senso diz que não cabe a um presidente da República intrometer-se em interesses privados de qualquer um de seus auxiliares —a não ser para demitir quem desafiasse os valores republicanos, no caso Geddel Vieira Lima"
Ainda ontem à noite o governo Temer teria mobilizado uma série de interlocutores que abriram conversas com donos de grandes veículos de comunicação para evitar que essa crise venha a ter grande divulgação. A despeito da grande insatisfação de alguns deles com Temer, uma operação abafa teria sido acertada.
A entrevista de Calero ao Fantástico e sua provável repercussão não estão em destaque em nenhum dos grandes portais nem nos sites de grandes veículos.