O Rio Grande do Sul e o Paraná, duas das principais economias do país, enfrentam as piores crises de suas histórias recentes. Mas seus governadores contam com o apoio de poderosas estruturas de mídia no plano local e a persistente condescendência de boa parte dos grandes grupos de comunicação em âmbito nacional
Por Vinicius Wu
O Rio Grande do Sul e o Paraná, duas das principais economias do país, enfrentam as piores crises de suas histórias recentes. No primeiro, uma escalada de violência vem agravando o quadro caótico, iniciado desde que o governo local resolveu parcelar o salário dos servidores estaduais, com consequências diretas na prestação de serviços de segurança, educação e saúde. Já no Paraná, até o almoço de policiais foi cortado recentemente. Entretanto, a maioria dos grandes veículos de mídia nacional segue fazendo ouvidos moucos diante desses dois desastres produzidos pelo campo oposicionista.
A última semana no Rio Grande do Sul foi um verdadeiro pesadelo para um estado pouco habituado a conviver com atos de violência tão extremados. Arrastões, ônibus incinerados e quinze homicídios em menos de 24 horas na região metropolitana (entre os dias 02 e 03/09) escancararam a atual crise enfrentada pelos órgãos de segurança no estado. Impossível não relacionar a escalada de violência à decisão desastrada de parcelamento dos salários dos servidores públicos, incluindo os policiais civis e militares.
Desde o início do ano, o governo de Ivo Sartori, da ala oposicionista do PMDB, parece apostar na criação de um ambiente de perplexidade e caos, visando à aplicação integral de seu programa de desmonte do aparato estatal. O Rio Grande do Sul é um dos poucos estados da federação que manteve estruturas já privatizadas pela maioria dos governos estaduais no Brasil. O Banco Estadual, as companhias de energia e de saneamento, controladas pelo Estado, dentre outras empresas públicas, parecem estar na mira dos grupos econômicos locais que viabilizaram a eleição do ex-prefeito de Caxias do Sul, em 2014.
E os efeitos de decisões desastradas que o governo gaúcho tem tomado, desde janeiro, começam a aparecer também na economia do estado. No mês passado, a arrecadação do governo gaúcho registrou recuo na casa dos R$ 100 milhões. Em parte, devido à crise econômica. Mas, há, certamente, uma cota de responsabilidade a ser creditada ao governo local, que estreou, no inicio do ano, anunciando a suspensão de pagamentos a fornecedores. O impacto dessa e outras medidas sobre as perspectivas de investimentos no estado ainda está por ser medido. Para completar o quadro, o governo do RS teve suas contas bloqueadas, por dois meses consecutivos, em função do atraso no pagamento da parcela da dívida com a União.
O Paraná, recentemente, ocupou o noticiário nacional (o assunto já foi devidamente retirado da pauta) em função da forma incrivelmente violenta com que o governo local tratou os professores do estado em greve. As cenas da brutal repressão ao movimento grevista expuseram o governo tucano, mas este foi apenas um dos sintomas da grave crise que o estado enfrenta.
A crise financeira do estado levou Beto Richa a propor a retirada de R$ 8 bilhões do fundo previdenciário dos servidores estaduais, visando equilibrar suas contas. Foi o que motivou a greve dos professores e gerou fortes enfrentamentos na Assembleia Legislativa local. O Paraná – governado pelo mesmo partido que criou a Lei de Responsabilidade Fiscal, LRF – fechou 2014 com um déficit relativo a fornecedores e servidores na ordem de R$ 4,65 bilhões.
Mas, tanto Sartori, no Rio Grande do Sul, quanto Beto Richa, no Paraná, contam com o apoio de poderosas estruturas de mídia no plano local e a persistente condescendência de boa parte dos grandes grupos de comunicação em âmbito nacional. Ambos fazem parte do campo de oposição ao governo federal e, assim como Geraldo Alckmin, em São Paulo, raramente aparecem como responsáveis pelos problemas enfrentados pelos estados que governam.
A blindagem sobre Sartori e Richa não tem nada de ocasional. São duas peças importantes de um tabuleiro que mal começou a se desenhar em direção a 2018. A oposição tem consciência do papel que os estados do sul desempenharam nas ultimas eleições.
Sartori venceu, em 2014, turbinado por um antipetismo acrítico, que o alçou à condição de governador sem precisar sequer elaborar um programa de governo. Richa trabalhou fortemente, nos últimos anos, para transformar o Paraná num reduto tucano. O fracasso de ambos pode alterar, significativamente, a correlação de forças na região sul e influenciar, decisivamente, a sucessão presidencial.
A forma generosa como determinados grupos de mídia abordam as administrações do Rio Grande do Sul e Paraná deve prosseguir. Entretanto, a situação dos dois estados é, de fato, grave. E com a crise econômica, o quadro deve piorar.
Há um nítido esforço sendo feito no sentido de responsabilizar, exclusivamente, o governo da Presidenta Dilma por tudo o que ocorre de negativo no país. Mas, às vezes, a realidade simplesmente se impõe. Dramaticamente. E não há blindagem que segure o desastre que têm sido os governos Sartori e Richa por muito tempo.