Confira o primeiro capítulo do livro Golpe de Estado (Geração Editorial), de Palmério Dória e Mylton Severiano, e entenda como o espírito do golpe de 1964 ainda se faz presente no cenário brasileiro
Por Palmério Dória e Mylton Severiano
Esta é uma matéria da Fórum Semanal. Confira o conteúdo especial da edição 208 clicando aqui
O prédio do Museu de Arte de São Paulo demorou doze anos para ser concluído, de 1956 a 1968. Foi inaugurado no dia 7 de novembro, antevéspera do maldito AI-5. Quem cortou a fita inaugural foi a Rainha Elizabeth, da Inglaterra. O idealizador da majestosa obra não estava presente. Pouco antes, depois de uma vida feérica e longa enfermidade, Assis Chateaubriand havia morrido.
O vão livre do MASP, o maior da América Latina, epicentro das manifestações que ocorrem na Avenida Paulista, é que nem papel: aceita tudo. Atos democráticos ou antidemocráticos. Aos domingos, uma sofisticada feira de antiguidades, com desfile de madames e colecionadores. Nos dias de semana, hippies tardios fumam maconha, jovens musculosos jogam capoeira, casais de namorados trocam carícias. Poucos locais são tão democráticos quanto o museu de Chatô.
Chateaubriand, o magnata das comunicações, dono dos Diários Associados, levantou mundos e fundos, tosquiou os ricos, viabilizou a obra, comprou, tomou ou extorquiu o seu acervo deslumbrante e contratou o galerista italiano Pietro Maria Bardi para dirigir o novo cartão postal da cidade.
Quem concebeu esse monumento às artes foi a mulher de Pietro, Lina Bo Bardi, arquiteta modernista italiana. Para manter a vista da Paulista, no alto de uma colina, imaginou um vão livre de 70 metros, mantendo essa estrutura pousada em quatro pilares laterais. Um milagre!
Quem tocou essa bela loucura foi o engenheiro José Carlos Figueiredo Ferraz, que depois se tornou prefeito de São Paulo, indicado por Garrastazu Médici, o mais sanguinolento dos ditadores.
Quinze de março de 2015. Em sua juventude, na Itália, Pietro Maria Bardi era devoto do ditador fascista Benito Mussolini, que se sentiria muito à vontade no vão do MASP neste domingo nublado e de chuva fina.
A multidão que passa barulhenta e circula por aqui está atrás de um Duce de ocasião, um líder que se apresente “acima dos partidos” e cultive incontido ódio por todos os tons de vermelho, como o próprio Mussolini. O humorista Gregório Duvivier, do grupo Porta dos Fundos, foi preciso no diagnóstico: “Histeria coletiva”.
No canteiro central da mais importante avenida do hemisfério sul, os relógios digitais marcam três da tarde. Um formigueiro verde e amarelo zanza de ponta a ponta nos seus 2.600 metros de extensão. A avenida ferve. Dos buracos do metrô pipocam inúmeras famílias. No meio de uma delas, uma garotinha com não mais de cinco anos, de bandeirinha nacional na mão, repete com alegria palavras das quais nem sonha o significado:
– Fora Dilma! Fora PT!
Dá para imaginar o papo dessa linda criatura com seus pais daqui a uns quinze anos, ao se flagrar em meio a tristes figuras em selfies para a posteridade, quando terá uma perfeita noção das circunstâncias deste dia 15.
– Então vocês me fizeram pagar esse mico, hein?
Vamos circular.
Um sujeito corpulento e careca, com rasgos de exibicionismo evidente, cercado de moças em trajes mínimos, desce de seu Jaguar e, com um megafone, urra, repetitivo: “Fora Dilma!”. Oscar Maroni, figurinha carimbada de programas B da televisão e empresário da noite, é o dono da sauna relax Bahamas, onde batalhões de garotas de programa atendem senhores endinheirados. Maroni, sem saber, dá o tom da festa: “Isso está uma zona! E de putaria eu entendo!”.
Cercado da mulher e familiares, o senador goiano Ronaldo Caiado, líder o DEM, vestindo uma camiseta onde se estampa a mão de Lula sem o dedo mindinho, perdido num acidente no torno, empresta ares agrários ao happening. Depois se soube que as tais camisetas eram vendidas a R$ 150,00.
Caiado, de porte físico invejável, médico ortopedista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com especialização em cirurgia da coluna pelo Serviço de Cirurgia Ortopédica e Traumatológica do professor Roy-Camille, em Paris, e com ideário político pré-queda da Bastilha, faz um tremendo su, como diria o colunista analfabeto Ibrahim Sued. Damas do society e damas do Bahamas de Maroni disputam selfies com o vistoso galã rural. Ele também posa com o roqueiro Lobão, da vanguarda intelectual do movimento, uma das sumidades formadas pelo filósofo Olavo de Carvalho. A soma delas de todas elas daria um Alexandre Frota.
Dias depois, o paladino da Paulista, pretenso candidato das massas conservadoras ao Palácio do Planalto, seria abatido por um artigo furibundo e irrespondível de outra reserva moral de Goiás: o ex-senador e seu íntimo (ex) amigo Demóstenes Torres. Uma traulitada. Do financiamento de Caiado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira a férias pagas pela emprei-teira OAS num resort baiano, Demóstenes o demoliu. Caiado respondeu com adjetivos terríveis.
Um rapaz miúdo, de dezenove anos, moreno, traços orientais, agita a massa. É Kim Kataguiri, de um certo Movimento Brasil Livre, definido pelo jornalista Paulo Nogueira como “analfabeto político mirim”, liderança saída da internet e adubada pela mídia. Uma senhora bem-vestida, com colar de pérolas de três voltas, chi-qué-si-ma, comenta com sua empregada doméstica (juntas, talvez no único momento de igualdade entre ambas), cheia de admiração.
Duas outras lideranças do ato dividem as atenções com Kim. Cada qual em seus potentes caminhões de som, Marcelo Reis – do Revoltados Online – e Rogério Chequer, chamado de “Chequer sem fundos” pelo próprio Olavo de Carvalho – do Vem Pra Rua – apresentam-se como apartidários e independentes. O Vem Pra Rua, o mais atuante, é apartidário e apolítico da cota do PSDB.
Existe algo em comum entre eles. São as novas faces da velha direita. Ninguém sabe de onde vem a dinheirama para invejável estrutura de trabalho que financia a estrutura de trabalho deles.
Chequer mitou. Foi ao Roda Viva, na TV Cultura, onde a maioria dos entrevistadores levantou bola para ele. Fernando Henrique Cardoso, em seus oitenta e três anos, deixou-se fotografar sentado em mesa de reunião com o promissor líder saído sabe-se lá de onde.
A festa durou pouco: semanas depois apareceram algumas informações sobre o tempo que o jovem pupilo deixou nos Estados Unidos, onde viveu por vinte anos. Chequer, vaidoso e bem-articulado, não é do tipo que se possa comprar um carro usado.
Marcello Reis é truculento e fanfarrão, desses que atraem atenções e olhares curiosos em botecos de esquina. Sua afetação e primarismo ideológico o fazem perpetrar barbaridades contínuas, que vão da postagem (por ele mesmo!) de um vídeo onde o síndico de seu edifício residencial o espinafra e o desmoraliza, ou embolsar dinheiro de pretensos clientes em sua pequena empresa de informática e não entregar o serviço contratado, gerando reclamações e escândalos na porta da espelunca.
Duas outras figuras chamam a atenção entre as folclóricas figuras do evento. Nicodemus, ex-motorista de Carlos Marighella, com o olhar esgazeado, uma máscara de ódio afivelada na cara, é cumprimentado com efusão. Hoje, vive em Higienópolis e faz política em São Paulo usando o verdadeiro nome.
No início dos anos 1970, Nicodemus saiu clandestino do Brasil por obra de uma vaquinha feita por amigos. E foi morar na periferia de Paris, dando duro para sobreviver. Havia acabado de participar de mais uma expropriação revolucionária, assaltando os malotes de dinheiro de um trem-pagador nas cercanias de Jundiaí. Era como um Ronald Biggs ideológico.
Neste 15 de março, eleito senador por São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira prega o impeachment da presidente recém-eleita. Não se conforma com a derrota sofrida como vice-presidente da República na chapa de Aécio Neves, que disse que ia ao ato, mas por incrível que pareça, não foi. Deveria estar tomando seus vinhos nos salões do Palácio do Jaburu, mas está – sentindo-se injustiçado – em plena Paulista, cercado pelo populacho cheiroso, de direita, seguindo as palavras de ordem gritadas pelo jovem Kim. C’est la vie, Nicodemus Nunes Ferreira.
O capitão e deputado carioca Jair Bolsonaro chega acompanhado do filho, eleito deputado federal por São Paulo. Um rapagão boa-pinta, que em outro ato da mesma estirpe carregava uma pistola Glock na cintura.
As velhas e os integralistas remanescentes vão ao êxtase. Capacetes de voluntários de 1932 e bandeiras com o sigma de Plínio Salgado são agitados ao vento com a chegada de mais uma liderança daquela gente branca, diferenciada e esnobe. São raros os negros e pobres, mas a elite paulistana se dobra diante do capitão radical dos subúrbios cariocas.
Bolsonaro tem expressão desafiadora, sobe num dos caminhões de som e é ovacionado pela patuleia. Mas não falou. Alguns líderes acharam prudente evitar o seu discurso homofóbico, racista, ressentido, raivoso. Quando integrava um grupo de jovens oficiais do Exército, durante campanha por aumento de vencimentos, Bolsonaro sofreu uma Síndrome de Burnier: queria explodir o sistema de abastecimento do Rio de Janeiro.
Um ancião chamado com carinho pelos presentes de “Vovô Metralha”, com capacete militar e gravata borboleta, faz selfies com jovenzinhas e empunha um cartaz provocador com uma petição: “Quero ser ouvido pela Omissão da Verdade!”.
Trata-se do agente Carlos Alberto Augusto, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Visivelmente perturbado, mas ainda com o mesmo espírito dos tempos em que era o braço-direito do terrível delegado Sérgio Paranhos Fleury, o mais notório assassino e torturador das masmorras da ditadura.
Frio, Vovô Metralha participou de detenções ilegais, torturas e execuções. Entre suas vítimas estão o guerrilheiro Carlos Marighella e Pauline Reichstul, irmã de Philippe Reichstul, presidente da Petrobras no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele aproveita o evento convocado à exaustão pela mídia para relembrar seus “feitos”. Em entrevistas, se vangloria: faria tudo outra vez.
Na Folha de S. Paulo, o jornalista Clóvis Rossi saiu em defesa da classe média aqui representada. Disse que ela sempre foi a base dos movimentos democráticos. Mas ninguém viu uma figura tão nefasta ser tratada como herói em nenhuma dessas ocasiões cívicas.
Vovô Metralha é a mais perfeita tradução do evento, no qual se pode ver jovens fazendo a saudação nazista e todos acham normal, assim como posar ao lado da tropa de choque da Polícia Militar, aquela que baixa o porrete na juventude aqui mesmo na Paulista.
Uma loira de farmácia, com corpo razoavelmente voluptuoso, despe-se pregando o impeachment. É aplaudida. Um jovem negro, pobre, histérico e ameaçador, grita incessantemente, pulando no palco, “Golpe! Golpe! Golpe!”. Madames aplaudem Fernando Holliday, a quem jamais convidariam para suas mansões e apartamentos de cobertura.
O prédio do extinto Banco Mercantil de São Paulo, ao lado do MASP, reflete a personalidade do fundador, o banqueiro Gastão Eduardo de Bueno Vidigal. Doutor Gastãozinho, um conservador que dividia com Jânio Quadros paixão declarada por Londres, plantou aqui um edifício que poderia estar muito bem na velha Albion: cinzento, solene, triste. [caption id="attachment_70738" align="alignleft" width="333"] Capa do lançamento da Geração Editorial[/caption]
Ele bem que poderia ser o patrono dos grupos que convocaram os atos que ocorrem na Paulista desde novembro de 2014, após a reeleição de Dilma Rousseff, em segundo turno, no dia 26 de outubro de 2014.
Inconformados com o resultado apertado – Dilma teve 51,64% dos votos, e Aécio Neves, 48,36% –, e no embalo da Operação Lava Jato a oposição passou a contestá-lo. Acabou caindo numa galhofa que já entrou para o folclore político como “terceiro turno”, digna de figurar no Febeapá – Festival de Besteira que Assola o País – do cada vez mais saudoso Stanislaw Ponte Preta.
Na frente do MASP, o Parque Trianon, um mini Central Park. Alguns Integrantes do grupo do S.O.S Forças Armadas aqui entrincheirados entram em êxtase quando a PM superfatura cinco vezes a multidão e chuta 1 milhão de pessoas na Paulista. Sobem o tom da arenga pela volta dos militares ao poder – a Globo News, que cobria o evento desde cedo, exaltava seu caráter pacífico; mas, se um desavisado desse o azar de atravessar a Paulista de camisa vermelha naquele momento, seria trucidado por eles.
Os facinorosos do S.O.S. Forças Armadas não devem ter a menor ideia que o nome oficial do Parque Trianon, um belo resto de Mata Atlântica, é Parque Tenente Siqueira Campos, um dos principais personagens do movimento tenentista e da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em julho de 1922.
Rumo à Consolação, entre a multidão, chega-se uma quadra adiante ao Conjunto Nacional, com sua megalivraria Cultura, dois cinemas, um teatro, exposições permanentes, lojas e escritórios. Foi construído por José Tjurs, com dinheiro do Banco do Brasil no governo do amigo JK.
Em sua torre de apartamentos morou Yolanda Penteado, ícone da elegância e da classe dos quatrocentões. Imagine o choque que ela tomaria ao topar na Paulista a socialite Ana Eliza Setúbal, mulher de Paulo Setúbal, da família que controla o Itaú, com aquela camiseta dos quatro dedos. Ana Eliza brada contra a corrupção. O Itaú, todos sabem, deve quase R$ 19 bilhões ao Leão.
Rosângela Lyra, sogra do craque Kaká, também desfila com o mesmo modelito. Ela tem pretensões eleitorais. Fez campanha para Aécio em 2014 e pretende ser candidata tucana a deputada estadual em São Paulo.
Líder das senhoras dos Jardins, a base de Operações dela é a ONG Amor Horizontal, destinada a “combater o mal” e cuidar de crianças carentes, associada a outras 20 ONGs. Dizem que, para ela, quanto Dior – a marca francesa que representou no Brasil durante muitos anos –, melhor.
O deputado federal Paulinho da Força, do Solidariedade, que levou três carros de som para esquina da Paulista com a Augusta, improvisa uma tenda para colher assinaturas pelo impeachment de Dilma. Recebe duas celebridades, o ex-jogador Ronaldo, trajando camiseta criada pelo estilista Sérgio K com a frase: “A culpa não é minha: eu votei no Aécio”, e a cantora Wanessa Camargo, a quem coube a tarefa de coroar o evento, estraçalhando – a capela – o Hino Nacional.
Paulinho tinha passado por uma saia justa por volta do meio-dia. A repórter Aline Ribeiro, da revista Época, testemunhou. Um cidadão pediu sua atenção e deu-lhe um conselho:
– Andei pela Paulista inteira e quase não vi pobres nem negros. Vocês precisam chamar os trabalhadores. A pequena burguesia não faz revolução.
Paulinho concordou. Mesmo assim, na euforia que tomou a Paulista após a estimativa furada da PM, decide subir num dos caminhões para fazer um discurso. Mal chega perto do microfone, os manifestantes berram palavrões e o obrigam a deixar a avenida sob escolta de seguranças.
A Marcha do Milhão se desvaneceu em poucas horas. Eram 210 mil manifestantes na Paulista, se tanto, cravou o Datafolha. Os cálculos em outras capitais brasileiras também tinham sido superfaturados pelas PMs.
No protesto seguinte, marcado para dali a quase um mês, 12 de abril, esses números caíram pela metade. No intervalo entre um e outro ato, a Polícia Federal desencadeou a Operação Zelotes, que investiga fraudes cometidas por grandes empresas brasileiras. O tamanho do rombo pode chegar a R$ 19 bilhões; e o SwissLeaks, escândalo de proporções galácticas de lavagem de dinheiro e sonegação no HSBC em Genebra, engrossou.
Envolve 8.667 contas de brasileiros. O rombo pode chegar a R$ 15 bilhões.
Nenhum deles mereceu um mísero cartaz na Paulista. O do HSBC inclusive, com nomes de poderosos da mídia, “seus probos de arribação”, posta no Twitter o jornalista Xico Sá, e pergunta: ‘Vocês acham justo? Eu não’”.
Não é segredo que os barões da mídia fogem desses escândalos como o diabo da cruz. Assim como do mensalão tucano e do trensalão. Também aliviam a parada para o governo paulista naquilo que a Unesco classifica como tragédia da “crise hídrica”. O mesmo acontece com a epidemia de dengue no Estado, que revela um certo fascínio tucano pelo Aedes aegypti.
Basta lembrar que, em 1999, no governo FHC, o ministro da Saúde José Serra demitiu quase 6 mil agentes de saúde, deixando o Brasil à mercê da dengue. Mas os exércitos dos barões estão por conta do “petrolão”.
Pesquisadores da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo – e da USP – Universidade de São Paulo – saíram a campo no dia 12. O que pensam, o que sentem, o que imaginam os participantes do ato? A pesquisa, coordenada por Esther Solano, traz revelações espantosas sobre a indigência intelectual e a paranoia deles. Uma delas: o grosso dos manifestantes admira os jornalistas Raquel Sheherazade, do SBT e da Jovem Pan, e Reinaldo Azevedo, da Veja e da Folha. Outra: boa parte acredita que Lulinha, o filho de Lula, é mesmo dono da Friboi. Mais uma: engolem que o PT buscou 50 mil haitianos para ajudar Dilma a vencer a eleição de 2014. Só mais uma: 64% dos entrevistados acreditam que o PT quer implantar o comunismo no país. Ou seja: não é só Elvis Presley – Leonor de Barros, a mulher de Adhemar Rouba Mas Faz de Barros, que comandou em 1964 a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, vive.
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O Brasil também vive em estado de golpe permanente, hoje mantido pelos Grandes Irmãos da Mídia, o Judiciário e o Parlamento, em alucinada aprovação de pautas que nos devolvem em passo acelerado ao século XVIII.
Como em outros tempos, esses poderes têm usado atos dessa natureza para dar marcha à ré na História.
De longa data os meios monopolistas de comunicação tentam barrar os avanços sociais. Em 1954, diante das medidas nacionalistas e a favor dos desvalidos tomadas por Getúlio - Petrobras e o monopólio estatal do petróleo, que irritaram as petroleiras do hemisfério norte; Volta Redonda,
fundadora da nossa indústria de base; salário mínimo dobrado de uma penada etc. Então, as incipientes redes, como os Diários Associados de Assis Chateaubriand, e os principais jornais e rádios (televisão engatinhava) bateram bumbo contra Getúlio. Criaram o mote demolidor: mar de lama, para induzir o povo de que Getúlio estava mergulhado na corrupção – ele, que ao morrer deixou apenas a fazenda herdada dos pais e um apartamento modesto no Rio. O “demolidor de presidentes” Carlos Lacerda falava no rádio e na tevê e escrevia em seu jornal, Tribuna da Imprensa. E batem o bumbo do atraso até hoje.
“Estado de golpe permanente” era uma expressão usada por Mylton Severiano, uma das mentes mais brilhantes do jornalismo brasileiro, que nos deixou em maio de 2014, aos setenta e quatro anos. O jornalista comparava a atual situação a um trem-fantasma. Um susto em cada curva. Mas nada abalava sua confiança e bom humor. Myltinho enfrentou situações bem piores. E tirou tudo de letra.