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O homem mais poderoso da Câmara dos Deputados começa a dar sinais de enfraquecimento após denúncia de cobrança de propina investigada pela Operação Lava-Jato; os antigos parceiros já evitam ser associados ao seu nome, o próprio partido se opôs ao rompimento com o governo e a sociedade civil se mobiliza para pedir a derrubada do parlamentar
Por Redação
OPERAÇÃO LAVA-JATO
Em novo depoimento, o empresário Júlio Camargo, delator na Operação Lava Jato, acusou Eduardo Cunha de exigir o pagamento de propina de US$ 5 milhões. A notícia caiu como uma bomba no Congresso durante essa semana e abalou a imagem e a força política do presidente da Câmara. O ex-consultor do grupo Toyo Setal disse ter repassado o dinheiro por pressão de Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de desvio de recursos da Petrobras. Para apressar o pagamento, Cunha teria articulado a apresentação de requerimentos, na Câmara, contra o próprio Camargo e contra uma empresa do grupo Toyo Setal.
PERDA DE APOIO
A denúncia de corrupção envolvendo Cunha, no foco da operação policial de maior destaque no país, fez com que antigos parceiros recuassem. Conhecido pelo poder de articulação e de influência dentro da Casa, o peemedebista passou a ser evitado por muitos parlamentares, sob o risco de terem seus nomes associados às irregularidades. As manobras regimentais, antes realizadas com facilidade, passarão a ter menos adesão a partir de agora e o raio de atuação ficará mais restrito. O próprio Cunha, provavelmente, deverá fugir dos holofotes.
PEIXES PEQUENOS
Quem acompanhou a coletiva de imprensa em que Eduardo Cunha anunciou o fim das relações com o governo de Dilma Rousseff sentiu falta das figuras graúdas da Câmara, que sempre fizeram questão de posar ao lado do homem mais poderoso da Casa. Desta vez, os únicos que se prestaram a esse papel foram os deputados Hildo Rocha (PMDB-MA), Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), Édio Lopes (PMDB-RR) e André Moura (PSC-SE), de pouca expressão entre os parlamentares.
“POSIÇÃO PESSOAL”
O anúncio de que, a partir desse momento, ele romperia com o governo e passaria à oposição não surtiu efeito nem dentro do próprio partido. Em nota, o PMDB afirmou que a decisão se trata de uma “posição pessoal” e não representa uma convicção da legenda. De acordo com o comunicado, esse tipo de postura só pode ser tomada “após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional”. Cunha alega estar sendo vítima de um complô entre o governo federal e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para incriminá-lo e diz que defenderá o afastamento definitivo do PMDB durante um congresso interno, realizado em setembro.
TEORIA CONSPIRATÓRIA
Ao defender a ideia de que há um grupo conspirando para derrubá-lo do poder, sobraram críticas até para o juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância. Cunha chegou a afirmar que o magistrado “pensa que é o dono do país”. “Acha que é o dono do Supremo Tribunal Federal, do Superior de Tribunal de Justiça. Vamos entrar com uma reclamação no Supremo”, anunciou. Em nota, a 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, da qual Moro é titular, declarou que não cabe ao Juízo "silenciar testemunhas ou acusados na condução do processo".
RISCO DE IMPEACHMENT
Logo após as denúncias, os deputados Silvio Costa (PSC-PE) e Ivan Valente (PSOL-RJ) vieram a público, nesta sexta-feira (17), para cobrar o afastamento do peemedebista do comando da Casa enquanto a Operação Lava-Jato não for concluída. Costa, que é um dos vice-líderes do governo na Câmara, disse que vai fazer uma consultoria jurídica para avaliar a possibilidade de pedir o impeachment de Cunha. Pela legislação, os presidentes da República, do Senado e da Câmara podem ser afastados do cargo, por meio desse procedimento, se tiverem cometido crime de responsabilidade, como atentar contra a probidade da administração, os direitos políticos dos cidadãos ou a lei orçamentária.
MOBILIZAÇÃO POPULAR
Às 20h25 de hoje, Eduardo Cunha fará um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV durante cinco minutos para falar sobre as atividades realizadas na Câmara. A previsão é que ele aborde alguns projetos polêmicos, como os que tratam da redução da maioridade penal e do financiamento empresarial de campanhas. A notícia não passou despercebida nas redes sociais e já está sendo organizado um protesto para esse horário. O evento “Barulhaço no Pronunciamento de Eduardo Cunha”, divulgado no Facebook, já conta com 60 mil pessoas confirmadas, que prometem usar apitos e panelas para fazer barulho durante a fala de Cunha. Segundo os organizadores, a manifestação é também contra o fundamentalismo religioso, o machismo e a homofobia presentes nos discursos do deputado.
Foto de capa: Fotos Públicas