Escrito en
POLÍTICA
el
Em conversa com a Fórum durante o "Emergências", no Rio de Janeiro, o músico e escritor filosofou sobre a relação entre cultura e política e disse acreditar que toda a discussão em torno de um afastamento da presidenta não passa de um "aprendizado" : "A democracia está firme no Brasil"
Por Ivan Longo, do Rio de Janeiro
Jorge Mautner, no auge de seus 74 anos, se comporta como um jovem entusiasta quando analisa o cenário político e cultural do país. Com uma vida inteira dedicada à música e à militância socialista - com um exílio durante o regime militar dos anos 70 no currículo -, o "filho do Holocausto" acredita que ainda que seja perceptível o avanço de forças conservadoras no cenário político do país, qualquer discussão sobre o afastamento da presidenta Dilma Rousseff não passa de um "aprendizado", já que, segundo ele, estamos vivendo a "exuberância da democracia".
"Estamos na exuberância da democracia! O impeachment é um instrumento democrático, de exceção, mas não é o caso. Tivemos três mulheres candidatas: a primeira guerrilheira da democracia, Dilma Rousseff; Marina Silva Jesus de Nazaré Amazônia; Luciana Genro com grande votação e o Aécio, até o Aécio tem afinidades com o Tancredo Neves e o partido dele é signatário da segunda internacional. Então, na realidade nunca tivemos tanta exuberância. Essa discussão toda de impeachment é didatica, é ensinamento para as pessoas", disse o cantor em conversa com a Fórum nos bastidores do "Emergências" - evento que debaterá cultura e política até o próximo domingo (13) no Rio de Janeiro - no final da tarde desta segunda-feira (7).
"Eu acho que a democracia está firme no Brasil, os direitos humanos são respeitados e isso tudo que está havendo são aulas didáticas para todo mundo aprender o que é a jurisprudência. Sou contra. Não tem base para impeachment. Mas essa discussão toda faz parte da democracia", completou o compositor que, apesar de não participar de nenhuma mesa de discussão do evento ao longo da semana, foi até o Circo Voador para acompanhar o discurso de abertura feito pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, que tocou exatamente nos pontos do avanço conservador e das tentativas de "golpe" ao longo de sua fala.
Com relação ao "Emergências" em específico, que pretende ser um evento que pensará e repensará as relações entre política e cultura e seus efeitos, Mautner não economizou seu conhecimento histórico e seu tom filosófico para explicar que o evento sintetiza o multiculturalismo e a diversidade que o país carrega e que a "simultaneidade" nos permitiu chegar a um momento inédito na história da humanidade.
"Temos que injetar a amálgama do Brasil: essa amálgama nossa que foi José Bonifácio de Andrade Silva (poeta brasileiro) quem, em 1823, nos definiu: diferente de outros povos e culturas, nós somos a amálgama, tão difícil de ser feita. Não existe em outro lugar do mundo: o multiculturalismo, a diversidade. Só para dizer da instantaniedade da amálgama: os japoneses chegaram na década de 60 em São Paulo e imediatamente a Umbanda criou o orixá Samurai. Então, tem que injetar essa amálgama nos neurônios de todos os seres humanos", filosofou, ao ser perguntado sobre o encontro de culturas e vivências distintas que se fazia presente no evento.
"A simultaneidade se acentuou cada vez mais na História. Um tempo muito antigo em que essa simultaneidade entre cultura e politica é interessantíssima. No Império, só existia maracatu de baque quebrado. Eles mimetizavam o Império. Então, só cidadãos e cidadãs de etnia negra podiam participar. Mulato, cafuso, mameluco, índio e branco não podiam. Foi quando se proclamou a Republica e imediatamente surgiu o baque solto. Aí pode entrar o índio. Marx, em 1848 no Manifesto Comunista disse que a grande novidade é a comunicação. Então imagina hoje em que são transmitidas emoções e as neurociências já provaram que todos os nossos neurônios são pura emoção. Então, a informação é emoção, comunicação é comunhão. E aí, então, chegamos em um momento inédito da história", completou.
Foto: Vladmir R./Agência Brasil