O relato de um repórter fotográfico agredido e preso pela Polícia do Senado

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Veja o vídeo da detenção do jornalista Lula Marques, que denuncia os excessos cometidos também contra manifestantes. Segundo ele, só há complacência no Congresso com protestos que "atacam a presidenta Dilma" Por Leonardo Fuhrmann Na última quarta-feira (25), durante votação que manteve a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), o repórter fotográfico Lula Marques – atualmente dono de uma empresa de comunicação que presta serviços para a Agência PT, mas com mais de três décadas de experiência em grandes jornais, como a Folha de S. Paulo – foi detido pela Polícia do Senado. Um dos mais reconhecidos profissionais de imagem da imprensa de Brasília, Lula é credenciado há 36 anos no Congresso Nacional. "Temos visto casos de abusos contra manifestantes e agora também contra jornalistas. Na semana passada teve uma manifestação de blogueiros contra a Samarco e um deles chegou a tomar um mata-leão [golpe de jiu-jitsu] de um desses seguranças. Só pararam de bater porque o rapaz ficou desacordado. Por isso, o agressor ficou assustado, achou que podia ter matado ele", conta. Para Lula, o aumento da agressividade é fruto de uma geração de profissionais que chegou com poder de polícia e também da crescente tensão política. "Você vê hoje que eles permitem abrir faixas contra a presidenta Dilma Rousseff, ter manifestantes contra ela na Praça dos Três Poderes, coisas que nunca permitiram, só com o intuito de incomodar a presidenta. Contra ela vale, no mais, é proibido. Eu não sou petista, falo isso como jornalista mesmo", diz. Ele também destaca a formação de bancadas radicais para o acirramento dos ânimos. "Fora a reação que a gente vê da própria população", completa. Segundo o fotojornalista, os excessos têm sido cometidos inclusive contra funcionários do Congresso Nacional. "Há casos em que os funcionários são detidos e depois as câmaras mostram que não houve motivo justo para tal", ressalta. O jornalista destaca que, com longa trajetória dentro do Legislativo, já conhece seus direitos e o regimento interno. "Sei onde posso ou não fotografar e, se nunca tive problema em 36 anos, dá para perceber quem está errado nessa história. Vou entrar com ações judiciais e administrativas por conta dessa agressão, não posso deixar quieto", diz. A prisão, registrada em vídeo (confira abaixo), teria ocorrido após Marques contestar uma funcionária que impedia a entrava dos profissionais de imprensa no plenário.

Minha prisão no Senado

Entrei na Casa Branca, em Washington, umas cinco vezes. Palácio do Eliseu, em Paris, outras três. Palácio Imperial, em Tóquio, uma. Além de cúpulas internacionais e Assembleias da ONU. Importantes coberturas no mundo. Conto isso pra deixar claro que usar a credencial de imprensa é um hábito, uma rotina no mundo e aqui no Brasil também. Ela tem que estar bem visível na minha profissão...

Passo meus dias entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Sempre que atravesso a rua que separa os dois prédios, troco a credencial para dar visibilidade à do órgão que vou entrar. Isso facilita a correria do dia a dia atrás da notícia.

Uma coisa é certa, nossos seguranças são desqualificados para lidar com o público, imagina com a imprensa... Não sabem ser simpáticos e ver que estamos ali trabalhando como eles. Não custa olhar nos olhos, dar um sorriso, ser gentil, dar um bom dia. Por isso, sempre que posso levanto a minha credencial.

Fui acusado de entrar nas galerias do Senado sem credencial. Naquela tarde tensa, estávamos ansiosos para entrar no plenário – o dia entraria para a história. Foi o dia em que a Casa autorizou a permanência de um de seus pares na cadeia. Fomos barrados por duas terceirizadas com “poder” de decidir quem iria entra na galeria. Pouco antes, estávamos no Salão Azul do Senado esperando o presidente Renan chegar para iniciar a sessão quando fomos avisados que ele já estava no plenário. Corremos todos, fotógrafos, cinegrafistas e alguns repórteres.

Arrogantes e mal informadas, duas funcionárias terceirizadas nos seguraram por quase cinco minutos. Todos sabiam que a sessão seria às 17 horas. Foi anunciado mais cedo pelo vice-presidente da Casa. Só as duas pareciam não saber o que estava acontecendo ali. Chegaram a dizer que não havia sessão. Detalhe, sempre entramos no plenário mesmo quando não há sessão.

Pedi a uma delas para entrar em contato com seu superior. Estávamos perdendo imagens importantes por culpa de uma pessoa que não deveria estar ali, quanto mais tratar com os profissionais de imprensa. É o que acontece quando pessoas despreparadas têm algum poder. Depois de um tempo dependendo da boa vontade da funcionária, fomos liberados para entrar mediante a apresentação da credencial. Todos estavam com ela no peito. Naquela confusão, fui o único que levantei a credencial com a mão, como você pode ver no vídeo abaixo. Ela pareceu não gostar do que fiz e avisou que chamaria a polícia. Levou uma vaia de todos e eu fui o escolhido. Já na galeria, enquanto fotografava, veio pedir meu nome.

Deixei claro que estava extrapolando suas funções. Como eu estava trabalhando falei pra ela fazer o mesmo. Minutos depois chegou um segurança, agora chamado de polícia do Senado, que com “poder” me deu voz de prisão:

– Quero saber porque!, reclamei.

– Me acompanhe, o senhor está preso, disse ele.

– Conheço o regimento, sei onde posso fotografar, sempre respeitei as regras nesses 36 anos credenciado no Congresso.

Mostrei minha credencial e falei que estava trabalhando e só iria se soubesse o motivo da minha prisão. Recebi como resposta que estava preso e teria que acompanha-lo. Bom, falei, sem motivo só à força.

A truculência da segurança no Congresso tem sido uma constante nos últimos anos. Ninguém escapa, imprensa, servidores, transeuntes, sem falar nos manifestantes, sempre tratados como bandidos. Não sabem a importância que têm a imprensa, a democracia e o direito de ir e vir.

Resisti, sempre resistirei e sei que quando estamos certos devemos brigar até o ultimo momento. Não me envergonho do que fiz. Resisti à prisão para criar um fato e defender a nossa liberdade de trabalhar e espero que alguma coisa aconteça, que aprendam a nos respeitar. Aos hipócritas que me criticaram sem estar lá, está aqui o vídeo que fala por si só. Perdi a cobertura de um acontecimento inédito. Perdi e minha empresa perdeu. Fiquei preso por mais de quatro horas.

Agradeço a solidariedade dos amigos e do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, único parlamentar solidário com a minha prisão e agressão. Sei que o que aconteceu comigo ocorre com funcionários e manifestantes que vão defender seus direitos e sempre acabam presos espancados ... (essa semana um rapaz foi desacordado pela segurança da Câmara).

Espero que tudo isso mude. Peço a todos que quem tiver alguma imagem ou teve algum problema com essa “polícia” Pretoriana, poste aqui. Lula Marques. Cynara Menezes, Paulo Pimenta, Alan Marques, Jornalistas Livres, sjpdf.org.br, ABRAJI.

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