Escrito en
POLÍTICA
el
Em entrevista coletiva a blogueiros, ex-presidente disse também que Lei Antiterrorismo é desnecessária: “Não temos terrorismo no Brasil”
Por Redação
“Não sou candidato, a minha candidata é a Dilma Rousseff”. Foi isso o que declarou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da possibilidade de ser candidato à presidência da República em 2014. Ele respondeu a essas e outras perguntas durante entrevista coletiva concedida a blogueiros na sede do Instituto Lula, em São Paulo, na manhã desta terça-feira (8).
O fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) comentou sobre seu atual papel de ex-chefe do Executivo. Para ele, essa é uma função difícil, que lhe exige, talvez, maior tranquilidade do que quando estava à frente do Palácio do Planalto. “O [Bill] Clinton falou ‘olha, Lula, aqui nos Estados Unidos, não damos palpite sobre quem está governando’. Acho que eu vinha com uma ideia de que era preciso que a gente aprendesse, no Brasil, a ser ex-presidente. Não ficar dando palpite, tenho que tomar cuidado para não ter interferência”, afirmou.
Lei Antiterrorismo e manifestações
Indagado sobre a Lei Antiterrorismo, o ex-presidente foi categórico. “Não acho que o Brasil precisa de uma lei antiterrorismo, porque não temos terrorismo no Brasil. A própria sociedade aprendeu a depurar que tipo de pessoa vai em prol de uma causa e quem vai para fazer baderna”, apontou.
Lula se mostrou favor das manifestações de rua, que estouraram em junho de 2013 por conta do preço da tarifa do transporte público em São Paulo e continuam a acontecer, agora, com diversas pautas. “A democracia que nós queremos construir não significa um pacto de silêncio, isso já tivemos no Brasil”, disse. “Não temos que reclamar que a sociedade se manifestou, é bom que se manifeste. Aprendemos a fazer política fazendo manifestações. Precisamos aprender a lidar com isso e tirar lições. Não vi nenhuma reivindicação absurda, mas pedindo para o Estado cumprir sua condição de Estado”.
Eleições presidenciais
Quanto à disputa eleitoral desse ano, Lula disse que a vitória da atual presidenta é "necessária", segundo seu ponto de vista. “Dilma precisa continuar governando esse país para que ele não seja pego de sobressalto”, indicou. O ex-líder sindical revelou, ainda, que tem “belíssima relação” com Eduardo Campos, pré-candidato à presidência pelo (PSB-PE) e provável adversário de Dilma. “Sou agradecido a ele pelo que contribuiu com o meu governo e ele deve ser agradecido a mim pelo que fiz pelo desenvolvimento de Pernambuco. Mas não entendo por que ele resolveu antecipar um processo que poderia ser natural no desenvolvimento da aliança com o PT. A Marina entendo, sei de uma parte das divergências entre as duas, ela e Dilma, quando estavam no governo, mas o Eduardo não compreendo”, comentou.
Para o petista, que ressaltou os avanços obtidos em seu governo e na gestão atual, a economia assumirá papel central na campanha. “O povo quer mais, então temos que atender à demanda. A Dilma vai ter que dizer isso na campanha claramente: como vamos melhorar a economia brasileira.”
Lula cobrou ainda o deputado federal André Vargas (PT-RS) a respeito do uso do jatinho de propriedade do doleiro Alberto Yousseff. "Quando você está num cargo desse [vice-presidente da Câmara] tem que ser isento, espero que ele consiga provar que não tem nada além da viagem de avião porque, no final, quem paga o pato é o PT. E a viagem já é um erro."
CPI da Petrobras
O ex-presidente criticou a tentativa de instauração, por parte da oposição, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis irregularidades na Petrobrás. “Não é a primeira vez que se levantam coisas sobre a Petrobrás em período eleitoral. O caso de Pasadena já foi para o Tribunal de Contas, para o Senado. São pessoas ansiosas para fazer a CPI trabalhar para o enfraquecimento da Petrobras”, declarou.
Lula comparou a situação à CPI dos Correios, que resultou na Ação Penal 470. Para ele, o Partido dos Trabalhadores não pode “permitir que, por omissão nossa, a mentira continue prevalecendo”. “O PT tem que ir pra cima. Espero que tenha aprendido a lição do que significou a CPI do Mensalão, que deixou marcas profundas nas entranhas do PT. Se o partido tivesse feito o debate político no momento certo e não esperado uma solução jurídica, talvez a história fosse outra. A imprensa construiu o resultado desse julgamento. E o tempo vai julgar”, salientou.
Mais Médicos e saúde
“Não existe forma barata de resolver o problema da saúde no Brasil”, disse Lula. Para ele, faltam recursos para o setor. Ainda assim, defendeu o Sistema Único de Saúde. “Poucos países têm um sistema público de saúde como o SUS.”
O ex-presidente falou também sobre o programa “Mais Médicos”, que não considera a solução definitiva para a questão da saúde nas áreas mais pobres e afastadas do país. “O Mais Médicos não resolve o problema, agrava, porque quando a pessoa tem acesso ao primeiro médico, vai precisar de um especialista. Aí o cara tem que entrar em uma fila e esperar cinco, seis meses. Tem que credenciar a rede médica de especialistas desse país que possa atender a quem precisar”, sugeriu.
Economia e progresso social
O ex-metalúrgico discorreu sobre a atual situação da economia brasileira. Para ele, apesar da crise mundial – “umas das maiores de sua história” -, o desempenho do Brasil é satisfatório. “Se você pegar os indicadores econômicos, tem poucos países com a condição do Brasil. Entretanto, vejo pessoas que outro dia defendiam que o crescimento de 2% era bom, hoje falam que crescer 2,9% é pouco”.
Lula destacou a ascensão social como um das grandes conquistas do governo do PT. “Quando uma madame passa um perfume para ir jantar na sexta-feira e, na segunda, a empregada doméstica chega para trabalhar com o mesmo perfume, comprado em 16 prestações, incomoda. Essa ascensão social acho ótima, acho maravilhosa, que seja assim”.
Foto de capa: Reprodução/Instituto Lula