Cerca de 3 mil pessoas participam de evento em apoio ao candidato petista, entre elas personalidades, intelectuais e artistas
Por Adriana Delorenzo
A três dias da eleição, cerca de três mil pessoas lotaram a Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, na Capital, em apoio ao candidato do PT, Fernando Haddad, nesta quinta (25). Apesar de as pesquisas apontarem o petista com ampla vantagem sobre o tucano José Serra, Haddad destacou que a disputa só termina no próximo domingo. “Não vamos botar salto alto nos 60%”, disse. Para ele, “dois dias podem parecer pouco, mas numa eleição no Brasil é uma eternidade”. Isso porque, segundo o ex-ministro, a campanha não se dá por meio de contraposição de propostas para a cidade.
A vice-candidata Nadia Campeão afirmou que um dos momentos mais significativos da campanha até agora foi o dia 13 de agosto. Nesta data, foi apresentado o plano de governo de Haddad construído coletivamente, por meio de seminários com movimentos sociais, professores, especialistas, entre outros. “Foi um marco, depois deste dia esperávamos que os outros [candidatos] fizessem o mesmo. Mas o único que apresentou foi o Chalita que hoje está nos apoiando”, ressaltou Nádia.
Enquanto o plano de Haddad foi amplamente divulgado e disponibilizado na internet, o candidato Serra lançou seu programa no dia 16 de outubro, sob ataques ao petista. “Vejam a diferença do respeito que temos por São Paulo”, comentou Nadia. A vice ainda criticou a recente entrevista concedida pelo tucano à rádio CBN, onde ele diz que pretende fazer um convênio com a Fundação Casa (ex-Febem) para atuar nas escolas identificando potenciais criminosos. A mesma pergunta foi direcionada a Haddad, que defendeu investimentos em cultura e educação, com a escola em tempo integral, como medidas para combater a violência nas escolas. “Tivemos um exemplo das diferenças profundas entre as duas candidaturas”, afirmou.
Na ausência de projetos de seu adversário, para Haddad, boatos podem surgir a qualquer momento nessa reta final da campanha. “Não podemos baixar a guarda até domingo”, disse ele. E foi justamente sobre o Enem a primeira mentira espalhada nesta quinta (25) pelo Twitter. Segundo Aloizio Mercadante, o atual ministro da Educação, que participou do ato em apoio ao seu antecessor, foi divulgado que a prova do Enem que acontece nos dias 3 e 4 de novembro haviam sido canceladas. No entanto, trata-se de um boato falso, que começou a circular nas redes sociais com base em uma notícia de 2009, quando de fato a prova foi remarcada por causa do furto ocorrido dentro da gráfica da Folha de S. Paulo.
Mercadante não só defendeu o Enem, como afirmou que Haddad foi o melhor ministro da Educação que o Brasil teve nos últimos anos. De acordo com o ministro, há uma disputa entre o velho e o novo em São Paulo, sendo que Haddad representa “o enfrentamento com aqueles que não aceitam os avanços que o Brasil teve no governo Lula”.
[caption id="attachment_19525" align="alignleft" width="300"] (Foto: Paulo Pinto)[/caption]“São Paulo não aproveitou nenhum convênio com o governo federal”, destacou a ex-prefeita Marta Suplicy. A ministra da Cultura lembrou que importantes políticas públicas iniciaram na cidade como os CEUs e o bilhete único. E prometeu: “Vamos dar todo o apoio para que a nossa cidade possa ser o farol do Brasil na área da cultura”.
Tempo novo
Assim como o ato da Cultura com Haddad realizado no primeiro turno no Teatro do Hotel Jaraguá reuniu importantes personalidades da intelectualidade paulistana, dessa vez não foi diferente. Todos os artistas e intelectuais presentes defenderam a candidatura de Haddad por uma renovação profunda na cidade.
A cineasta Tata Amaral destacou que “estamos às vésperas de uma transformação em São Paulo”. Segundo ela, a cidade hoje está abandonada, “assaltada pelos especuladores”. “Queremos produzir arte numa cidade que respeita o cidadão, que respeita a diversidade cultural, sexual e religiosa”, disse.
Nordestinos também demonstraram seu apoio, representados pelos cantores Chico César e Alceu Valença. “O meu nordeste faz parte desse caldeirão humano e cultural que é São Paulo”, disse Valença.
Cláudio Prado, em nome da Cultura Digital e do coletivo Fora do Eixo, ressaltou que agora a cidade tem a fantástica possibilidade do novo. Ele lembrou a manifestação realizada no último domingo (21) com o Festival “Existe Amor em SP”, que levou 20 mil à Praça Roosevelt – “que agora chamamos de Praça Rosa”. “Não houve qualquer incidente, isso mostra esse novo estado de espirito de uma nova visão cultural.”
O sociólogo Emir Sader afirmou que São Paulo é uma cidade extraordinária, mas foi transformada por sua elite numa cidade cruel, triste, cinzenta. Os educadores presentes também criticaram às últimas gestões da Capital. “Serra não tem compromisso com as questões sociais. Sentimos na carne o que é o autoritarismo do PSDB”, afirmou Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp (sindicato dos professores do estado de São Paulo).
“Os educadores de São Paulo não querem a Febem dentro das nossas escolas, queremos escola de tempo integral, cultura esporte, que nossas escolas sejam transformadoras”, afirmou Eneias Rodrigues, da rede municipal de ensino.
Já Maria Alice Setubal, presidente da Fundação Tide Setubal, disse que “ter o Haddad como prefeito é um privilegio na área da educação. São Paulo vai poder ser uma referência, sendo uma cidade educadora.”
Ainda passaram pelo ato outros nomes como Fernando Morais, Vladimir Safatle, Sérgio Mamberti, Maria Victoria Benevides, Tobias da Vai-Vai, Pedro Serrano etc.
O poeta Sérgio Vaz, da Cooperifa, traduziu o sentimento de otimismo do evento: “Milagres acontecem quando a gente vai à luta”.