A compra da mansão de R$5,97 milhões em Brasília feita recentemente por Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) não é vista com bons olhos pela população brasileira. É o que aponta a 8ª edição da Pesquisa Fórum, realizada entre 12 e 16 de março, em parceria com a Offerwise.
A negociação milionária feita por um senador da República, filho do presidente, em meio a uma pandemia, já soa no mínimo estranho e insensível, mas o histórico de "esquemas" do parlamentar contribui para a desconfiança geral.
Denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) pelo esquema das "rachadinhas", Flávio teria se apropriado, segundo a promotoria, de salários de assessores quando era deputado estadual pelo Rio de Janeiro, e as cifras desviadas chegariam a R$6,1 milhão, praticamente o valor da compra do imóvel de luxo. As investigações apontam ainda que o senador tem por hábito comprar imóveis para lavar dinheiro.
De acordo com o levantamento feito pela Fórum, 65,4% da população acredita que o dinheiro para comprar a mansão veio de corrupção. Apenas 19,3% dos entrevistados afirmam que a negociação não teve origem ilícita e outros 15,3% não sabem ou se recusaram a responder.
Desconfiança maior entre as mulheres
A desconfiança com relação à compra do filho do presidente, segundo o estudo, é maior entre as mulheres: 69,1% acham que a aquisição do imóvel de luxo é, sim, fruto de corrupção, enquanto entre os homens esse índice é de 61,4%.
Região
A região brasileira em que a aquisição da mansão é vista com mais descrédito é a Centro-Oeste, onde 67,8% dizem que o dinheiro para comprar o imóvel é ilícito. Já o Norte é onde Flávio Bolsonaro tem mais credibilidade na compra: 24,3% dos entrevistados da região acham que a transação foi lícita. Ainda assim, o índice é menor do que entre aqueles que acham a aquisição da casa veio a partir de um esquema corrupto: 52%.
Quanto mais rico, menor a desconfiança
No recorte por renda, os que mais desconfiam do filho do presidente são as pessoas que ganham entre 3 e 5 salários mínimos. 67,6% dos entrevistados com essa faixa salarial acham que o dinheiro para comprar a casa é fruto dos esquemas ilegais do senador. Esse índice cai para 57% entre os mais ricos, isto é, aqueles que recebem 10 ou mais salários mínimos.
Jovens atentos
A Pesquisa Fórum mostra também que a tese de que o dinheiro de Flávio para comprar a mansão é oriundo de corrupção prevalece mais entre os jovens: na faixa de idade entre 25 e 34 anos, essa desconfiança atinge o índice de 76,9%, enquanto entre os mais velhos, isto é, pessoas com 60 anos ou mais, esse número cai para 59,6%.
Maioria da população sabe
O levantamento da Fórum mostra também que a maior parte das pessoas ficou sabendo da compra da mansão de quase R$6 milhões. 70,1% dos entrevistados têm ciência da transação milionária do senador, enquanto 23,8% não sabem e 6,1% não responderam.
O índice de conhecimento da compra é maior entre os homens (72,1%), moradores da região Centro-Oeste (75,1%), pessoas que ganham de 5 a 10 salários mínimos (85,6%) e entrevistados com 60 anos ou mais (83,6%).
Pesquisa inova com metodologia
A 8ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 12 e 16 de março, em parceria com a Offerwise, e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.
O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existe perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante é manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico.”
Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, entre outras”, acrescenta.