Para a maior parte dos brasileiros a imagem do país no exterior piorou no governo Jair Bolsonaro. É o que dizem os dados da 8ª edição da Pesquisa Fórum, feito em parceria com a Offerwise, instituto líder em pesquisas na América Latina. O levantamento mostra que 61,5% dos entrevistados consideram que nossa reputação ficou prejudicada no mundo desde o início do mandato do atual presidente.
Já para 21,6% das pessoas ouvidas, a situação permaneceu inalterada, mantendo-se o cenário de governos anteriores. Apenas 16,8% dos participantes afirmam que nossa imagem melhorou com a gestão do líder de extrema direita.
Uma análise minuciosa dos dados aponta que as mulheres têm uma visão mais pessimista de nossa reputação no exterior, já que 67,1% opinaram nesse sentido. Entre os homens, a maioria também vê uma degradação do país no estrangeiro, mas o índice, menor, ficou em 55,2%.
Num recorte pelas cinco regiões brasileiras, foi no Nordeste que o maior número de entrevistados considerou que houve uma piora na forma como os cidadãos de outros países nos veem: 67,4%. Não sequência vem o Sudeste, com 61,4%, seguido pelo Sul, com índice de 60,3%, logo à frente do Centro-Oeste, com 56,9%. A região onde a menor fatia dos entrevistados considerou que o país vem sofrendo prejuízos em sua reputação foi o Norte, com 50,1% dos participantes ouvidos opinando nesse sentido.
Quando a análise dos números é feita levando em consideração a faixa de renda, os cidadãos que ganham entre 2 e 3 salários mínimos foram os que mais consideraram haver prejuízo em nossa imagem (63,8%). Entre aqueles que recebem mensalmente mais de 10 salários mínimos, o índice dos que acham que perdemos prestígio fora do Brasil foi de 59,7%.
No estado de São Paulo, que tem a maior população do país, 64,8% viram desgaste de nossa imagem para além das fronteiras. No Distrito Federal, onde está a população que concentra maior renda e estão as repartições ligadas à diplomacia brasileira, 69,6% pensam que a imagem da nação sofreu danos com o governo Bolsonaro.
Histórico de conflitos
Desde que colocou a faixa presidencial, em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro coleciona conflitos e problemas com governos estrangeiros. O mandatário brasileiro já se intrometeu nas eleições da Argentina e do Uruguai. Elogiou o ditador chileno Augusto Pinochet e atacou o pai da ex-presidenta do país, Michelle Bachellet, um oficial general da Força Aérea morto após uma brutal sessão de tortura, numa prisão de Santiago, em 1974. Bolsonaro também se negou a cumprimentar e abrir diálogo com Alberto Fernández, atual ocupante da Casa Rosada, em Buenos Aires, após sua vitória eleitoral.
O apoio aberto e subserviente a Donald Trump, ex-presidente dos EUA derrotado por Joe Biden, foi outro caso de má-condução diplomática do Brasil. O país insistiu na delirante versão de fraude nas eleições norte-americanas, criada por Trump, ficando isolado das demais nações do planeta, que prontamente reconheceram a vitória do democrata no pleito de novembro passado.
A lista não para por aí, já que Jair Bolsonaro comportou-se de forma hostil em eventos internacionais importantes, como na Abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2019, quando proferiu um discurso caótico e horripilante, chocando os chefes de Estado e de governo presentes no encontro. Ele ficou escanteado no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, onde foi almoçar sozinho num bandejão, no mesmo ano.
Seus seguidos rompantes ofensivos contra autoridades de outros países, como Emmanuel Macron, da França, Angela Merkel, da Alemanha, e Xi Jinping, da China, assim como a descabida e bizarra postura do chanceler Ernesto Araújo, colocaram o Brasil como nação-pária no cenário internacional, sobretudo pela condução dada pelo Planalto e pelo Itamaraty em questões ambientais, de direitos humanos e de cooperação global.
Pesquisa inova com metodologia
A 8ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 12 e 16 de março, em parceria com a Offerwise, e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.
O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existe perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante é manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico.”
Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, entre outras”, acrescenta.