Mais da metade dos brasileiros não sabiam que a decisão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em retirar a proteção de manguezais e restingas pode privilegiar a instalação de hotéis nas áreas de preservação. De acordo com a 6ª edição da Pesquisa Fórum, 51,1% disseram que não tinham conhecimento sobre essa informação.
O levantamento mostra, no entanto, que uma parcela considerável das pessoas souberam do contexto da medida e defendem que a decisão seja revertida. Esta é a opinião de 38,8% das pessoas entrevistadas pela pesquisa. Apenas 10,1% dos entrevistados disseram ser a favor do projeto do ministro.
A retirada de proteção dos manguezais ocorreu no dia 28 de setembro, através de revogação de restrições estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A medida atinge cerca de 1,6 milhão de hectares de restingas e manguezais pelo país, sendo que áreas são de preservação permanente. Sem a preservação, há a possibilidade de hotéis de luxo se instalarem em áreas de mangues, por toda a região litorânea, segundo o El País.
As mulheres são as que menos ficaram sabendo das intenções do ministro em relação aos hotéis de luxo. De acordo com a pesquisa, 56,6% disseram desconhecer a informação, enquanto 45% dos homens afirmaram o mesmo. Elas são a minoria, no entanto, entre os que apoiam a medida de Salles - apenas 6,5% afirmaram ser a favor, número inferior em relação aos homens entrevistados (14,1%).
Renda e escolaridade
Em relação aos recortes de renda e escolaridade, 62,4% dos que não ficaram sabendo da medida ganham até 2 salários mínimos e 59,1% de 2 a 3 mínimos. Conforme as classes sociais vão subindo, também cresce o número de pessoas que souberam da medida e defendem sua revogação. Entre os que ganham acima de 10 salários mínimos, por exemplo, 64,7% defendem que a decisão seja derrubada.
O número de pessoas que ficaram sabendo da medida e mesmo assim defendem o ministro também cresce conforme a renda. Entre os que ganham até 2 salários mínimos, apenas 6,5% respondeu dessa forma. Já entre os mais ricos, que ganham acima de 10 mínimos, a taxa é de 16,8%.
Mais alta a escolaridade, também maior a quantidade de pessoas que são contra a medida de Salles. Entre os que têm ensino superior, 53,5% respondeu que ficou sabendo do projeto e defende sua derrubada. Aqueles que afirmaram não saber da decisão, 65,8% estudou até o ensino fundamental.
O Sudeste é a região que concentra o maior número de pessoas que são contra a retirada de proteção dos manguezais para a construção de hotéis: 43,3%. O Sul tem o maior índice dos que apoiam a medida (17,4%), enquanto 64,8% da população do Centro-Oeste diz desconhecer tal informação. O número é igualmente alto no Nordeste, principal afetado pela medida: nessa região, 57,4% das pessoas não sabiam das intenções do ministro.
Leia também:
Mais de 30% da população não sabe nada sobre rachadinhas e cheques de Michelle, revela Pesquisa Fórum
Pesquisa Fórum: para 80%, queimadas no Pantanal e na Amazônia resultam de atos criminosos
Ótimo e bom de Bolsonaro cai e ruim e péssimo sobe em nova Pesquisa Fórum
Pesquisa inova com metodologia
A 6ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro, em parceria com a Offerwise, e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.
O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existe perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante é manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”
Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico”, sustenta.
Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, etc”, acrescenta.