OPINIÃO

Resposta a Marco Sabino, do UOL, que se mostrou ainda mais desatualizado que a CET

O colunista do UOL não tem visão suficiente para perceber que ele está mais desatualizado que os aplicativos da CET ao achar que o trabalho dela deve ser ‘resolver o trânsito’

Agente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) monitoram o trânsito na rua da Consolação.Créditos: Rovena Rosa/Agência Brasil
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O jornalista Marco Antônio Sabino se aventurou a escrever um artigo sobre mobilidade urbana, mas derrapou bastante. Sua agressividade ao criticar o que ele acredita ser o trabalho da CET revelou mais erros seus do que da Companhia. Não que ela não erre, mas ele não acertou quase nenhum erro dela. Ele está mais ultrapassado do que os aplicativos que criticou.

Se alguns programas da CET estão, de fato, “parados nos anos 90”, a visão que ele defende está parada nos anos 70, quando se promovia construção de viadutos para resolver o trânsito. Sua visão ignora não só que já está comprovado que “alternativas viárias” ou ajustes de semáforos não resolvem o problema, como também ignora que o país tem uma Política Nacional de Mobilidade e a cidade possui um Plano Diretor, um Plano de Mobilidade, um Estatuto do Pedestre e um Plano Cicloviário.

Em outras palavras, para simplificar para o leitor, quem precisa resolver o trânsito de São Paulo não é a CET, mas sim a SPTrans, o Metrô, a CPTM e a EMTU. O que resolve o trânsito é o transporte coletivo! Para que menos pessoas usem carro, aumentando a eficiência do deslocamento de pessoas (e não de veículos). Possíveis ajustes que a CET possa fazer por uma suposta fluidez - como a ideia jurássica de ‘onda verde’, corretamente abandonada - não conseguem dar vazão a um alto volume de carros se mais gente quiser se deslocar assim.

Não existe nesse universo solução do congestionamento na engenharia de tráfego! Ela organiza, orienta, mitiga, estuda e, principalmente, garante segurança. Mas, quem resolve é o transporte coletivo.

Ora, se o Marco Sabino sabe que na Rebouças ele se desloca mais rápido a pé, porque ele não experimenta caminhar no dia a dia? É ótimo, barato, saudável, bom para ele e para a cidade. A calçada lá é ótima! Se quiser, pode até experimentar a ciclovia! Ela não congestiona como a avenida, porque a bicicleta é eficiente, não ocupa 10m² por pessoa, como o carro. Duvido que o número de ciclistas por hora esteja muito abaixo do que as faixas de carro, que só aguentam cerca de mil veículos por hora.

Ao embarcar nesse conceito errado, o colunista cai em críticas muito equivocadas. Diz que as placas de sinalização “jogam o motorista no caos”, quando quem alimenta esse caos de verdade é a gestão Nunes, ao restringir o trabalho da SPTrans a reduzir frota e aumentar intervalo de ônibus, empurrando pessoas para o carro, a moto e os aplicativos. Depois, ele reclama dos semáforos e ignora que eles foram concedidos à Ilumina, em uma manobra abominável do Ricardo Nunes, sem licitação, projeto ou debate, tirando o controle da CET sobre eles.

A comparação entre câmeras que Marco Sabino faz é patética. É claro que os equipamentos do Smart Sampa são melhores que os radares, que, por sua vez, são melhores que as câmeras da CET. Os primeiros fazem reconhecimento facial, que exige altíssima definição, os radares só precisam ler placas, já as câmeras da CET monitoram veículos, algo que qualquer câmera digital do século passado faria.

Multas de trânsito são tema frequente de reclamações, e o colunista cai em profunda contradição no assunto. Depois de fazer piada sobre a qualidade dos radares - reforçando o discurso raso de ‘indústria da multa’, que só serve para defender infratores e violência no trânsito - ele assume o óbvio: é fácil ver nas ruas que a fiscalização de trânsito é insuficiente. Precisamos de mais equipamentos e de agentes de trânsito, para as penalidades que os radares não pegam. Mas, outra vez, Marco Sabino não aponta o erro do governo Nunes que suspendeu a contratação de radares já aprovada pela CET.

Falando nos agentes de trânsito, talvez o único ponto que o artigo quase acerta seja a redução da CET. Mas, mais uma vez, omite o responsável: o prefeito Ricardo Nunes, na sequência da precarização que já ocorria com Dória e Covas. Ao contrário, o colunista ataca os trabalhadores, que em sua maioria concordam com a sua visão de enfraquecimento da companhia, e lutam pelo óbvio direito de periculosidade, já que atuam sujeitos a ocorrências de trânsito. Também é óbvio que uma empresa focada em planejamento e operação, e não em obras, terá a maior parte do orçamento em pessoal.

Ainda houve espaço para criticar o vereador Milton Leite, que, de fato, controla a CET há anos. Mas, o acordo para isso foi feito por quem? Pelo próprio Ricardo Nunes, que inclusive também foi indicado à vice em acordo com Milton Leite. Mas, curiosamente, o nome do prefeito só foi citado em um elogio, num artigo que lista erros de seu governo.

É fato que a CET tem problemas, e o governo Nunes tem ainda mais, que inclusive prejudicam o trabalho da empresa. Porém, o maior erro é que essa visão pré-histórica de “aliviar o trânsito” ainda tem força no poder público. Algumas das leis modernas de mobilidade citadas aqui, estão na gaveta, enquanto projetos ultrapassados, como o Túnel Sena Madureira ou o túnel da Avenida Roberto Marinho, são vendidos como solução. Sem falar na alucinação de alargar a Rebouças, que o colunista denunciou, mas nunca foi citada pela Prefeitura.

O principal trabalho da CET precisa ser melhorar as condições para os outros modos de transportes, como o a pé, a bicicleta e o transporte coletivo. Assim, mais pessoas poderão perceber, como o próprio Marco Sabino, que caminhar pode ser melhor. E, se adotarem esses costumes, ajudarão a cidade a cobrar a CET por soluções ainda mais modernas.

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