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Mario Vargas Llosa, Salieri e FHC entre tantos superados por outros gênios

Azar deles que foram dar de viver nas mesmas épocas de Gabriel García Márquez, Mozart e Lula

Mario Vargas Llosa.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Não sou muito dado a astrologia (mentira, faço tipo de intelectual de esquerda raiz materialista), mas impossível não observar como o mês de abril é fatídico para a literatura universal. Por exemplo, sem nunca se terem avistado morreram no mesmo mês (22/4 um e 23/4 o outro) ninguém menos que os dois maiores nomes do cânone: Miguel de Cervantes e William Shakespeare. Quem quiser tributar na conta da coincidência, que o faça, eu fico com minhas razões supersticiosas.

Hoje, por exemplo (escrevo em 17 de abril, e há poucos dias, neste mesmo fatídico mês para as letras, foi-se Mario Vargas Llosa) é aniversário do falecimento de Gabriel García Márquez. Lembro que nossa tão canalha imprensa celebrou a ocasião não sem salientar a "opção política equivocada" do gênio colombiano. A relação entre os dois, Llosa e Márquez, foi inicialmente de amizade, terminando de forma trágica com o peruano esmurrando o colombiano por conta de ciúmes conjugais. Que não sei se eram apenas conjugais, e explico minha teoria:

Lúcifer

1) Lúcifer era o mais luminoso dos anjos do Senhor, e luzia no paraíso sem rival que o obnubilasse. Até o dia em que o Senhor achou de nomear um Filho, coisa que Lúcifer não era. Era tão somente um anjo de luz, como indicava o nome. Lúcifer intuiu que Filho era algo mais que anjo de luz e mordeu-se com as presas do ciúme bem fundo na carne. Tanto fez que despencou do paraíso e, de Anjo de Luz, passou a Anjo Caído;

Salieri

2) Antonio Salieri foi considerado o maior maestro de seu tempo. Seu tempo de vida, aliás, foi um bocado largo, fruto da generosidade que Deus não teve para com Wolfgang Mozart, a quem propiciou fugazes trinta e cinco anos. Mas a compensação (Deus é justo!) deu-se pelo fato de que em tão curto período Mozart tornou-se o maior dos maestros, não só de seu diminuto intervalo, mas de todos os tempos. Pra infelicidade do pobre Salieri que no fim da vida constatou a derrocada de sua torre de orgulho, roída na base pelo cupim do despeito;

Mario Vargas Llosa

3) Mario Vargas Llosa sempre foi um homem de espírito, espírito este que, não bastassem os dons naturais, fez cultivar com uma formação erudita magnífica. Sutil, refinado, irônico, humanista, tudo conduzia a que se firmasse como um dos maiores escritores do mundo, por certo o maior da América Latina, isto ele seria, em contraste chiaroscuro de sua elegância europeizada frente ao bruto que era o povo de seu continente. Até um dia surgir como um foguete um lírico chamado El Gabo, que pra mais de um talento absurdo tinha amor por aquele povo índio que o consagrou. Llosa acabou seus dias amargo, tendente a um direitismo que traduzia seu desprezo por aquele continente ingrato;

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4) Fernando Henrique Cardoso, a exemplo de Llosa, seu mestre, sempre foi um homem de espírito, espírito este que, não bastassem os dons naturais, fez cultivar com uma formação erudita magnífica etc. Com cultura adquirida mas sem o talento literário do paradigma peruano, Cardoso preparou-se pra ser o maior governante (escritor jamais seria) de seu país, o Brasil, que emergia de 25 anos de obscurantismo militar e bem merecia um salvador. Cardoso, vaidoso, achava que seria lembrado na posteridade como o benfeitor da pátria, o mais amado líder do povo. Aí surgiu o Lula e roubou a cena, transformando o príncipe da Sorbonne num pobre diabo.

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