NOVO FORMATO

"Beleza Fatal" e "Todas as Flores" mostram que novelas não precisam de 200 capítulos

A baixa audiência dos folhetins não pode ser explicada apenas pela falta de qualidade dos produtos exibidos

"Beleza Fatal" e "Todas as Flores" mostram que novelas não precisam de 200 capítulos.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

O sucesso de “Beleza Fatal” (Max) e de “Todas as Flores” (Globoplay) mostra que as novelas não precisam mais de 130 ou 200 capítulos e que tal formato de teledramaturgia chegou ao seu teto, e isso, muito provavelmente, reflete na baixa audiência de todas as novelas das 21 horas da Globo, que não têm alcançado grande audiência. Com muito esforço, chegam na casa dos 20 pontos.

Por exemplo, “Beleza Fatal”, que terá o seu capítulo final exibido na próxima sexta-feira (28), terá contado a sua história em 40 capítulos. Dinâmica, mas sem perder de vista a sua estética de folhetim, o produto se tornou um fenômeno nas redes e entrou no top 10 mundial da Max. Além disso, a novela foi vendida para a Band e deve alcançar outros públicos.

Já “Todas as Flores”, a primeira novela da Globo feita exclusivamente para a Globoplay (streaming), contou com 85 capítulos, o dobro de “Beleza Fatal”, mas bem mais enxuta do que os folhetins exibidos na TV aberta. Também foi um sucesso de público e crítica e viralizou nas redes. E, assim como a novela da Max, foi novela com cara de novela, sem tentar copiar a narrativa dramática de séries dos EUA e Europa.

O sucesso de “Beleza Fatal” e “Todas as Flores” pode, também, ser explicado pelo viés de mudança de hábito do telespectador, que ainda gosta de um bom novelão, mas que não está mais disposto a assistir diariamente, por longos meses, o mesmo produto.

Ainda que se argumente que algumas séries são tão longas quanto algumas novelas, as séries são fornecidas a partir de temporadas, e, de uma para outra, levam, em média, um ano.

A novela não vai desaparecer; ela já passou por outras tantas mudanças. Por exemplo, se pegarmos a primeira versão de “Vale Tudo”, que foi exibida entre 1988 e 1989, teremos cenas longas, com diálogos que duram quase 10 minutos, fumaça de cigarro por todos os cantos... coisas que hoje em dia são inimagináveis e antes eram parte do produto. 

O tempo dos diálogos e das cenas mudou antes mesmo do fenômeno dos streamings e das narrativas aceleradas, que se tornaram populares com os videoclipes (MTV) e com a popularização das séries do Brasil com a chegada da TV a cabo nos anos 1990.

A crise de audiência das novelas da TV aberta não possui solução que passe apenas pela qualidade do produto entregue, até porque, se tem uma coisa que o folhetim brasileiro entrega é qualidade. Ela também se dá pela profunda mudança de hábitos dos consumidores, que não se sentam mais em frente à TV, mas passam horas no celular e no computador, por onde consomem séries, vídeos aleatórios e, claro, as novelas.

“Beleza Fatal” e “Todas as Flores” estão aí para comprovar que insistir no formato de folhetim que durou mais de 40 anos — é bastante tempo — é querer vivenciar crises sucessivas. As novelas não precisam mais de 200 capítulos. 40 ou 80 está de bom tamanho, e isso nada tem a ver com qualidade, e sim com formato de produto. O consumidor mudou; a novela também precisa mudar.

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