O cinema é um instrumento de educação, ainda que, muitas vezes, seja movido por sentimento, por uma necessidade humana de expressar a criatividade. Ainda assim, ele possui sua dimensão pedagógica.
No que diz respeito às comunidades étnicas que conseguiram chegar ao século XXI preservando sua memória e cultura, o cinema ganha uma importância muito maior, pois, por meio dele, essas comunidades podem contar ao mundo quem são e suas histórias.
Dessa maneira, o cinema também tem o poder de promover diálogos intercomunitários e dar voz a grupos étnicos para que contem sua própria história.
Trata-se da sétima arte enfrentando a ignorância, levando às pessoas realidades que elas não conhecem. Ou até mesmo, quando são histórias totalmente fantasiosas, ainda assim transmitem ensinamentos e promovem valores.
O cinema e a educação possuem uma relação que pode ser tanto complementar quanto desafiadora. Embora a cultura escolar e a cultura midiática tenham diferenças marcantes, a interação entre elas pode enriquecer o aprendizado e tornar a educação mais dinâmica. Em vez de enxergar o cinema apenas como uma ferramenta para ilustrar conteúdos escolares, é essencial valorizá-lo como uma forma de arte e um meio de expressão que estimula o pensamento crítico.
Um dos desafios dessa integração é a tendência de usar o cinema de maneira superficial, apenas como um recurso didático auxiliar. Para que seu potencial seja realmente explorado, é necessário incorporá-lo de forma mais estruturada ao currículo escolar, promovendo debates e análises que incentivem os estudantes a compreender a linguagem audiovisual e suas múltiplas camadas de significado. Dessa forma, o cinema pode se tornar uma ferramenta pedagógica capaz de ampliar horizontes e estimular reflexões sobre diferentes temas sociais, culturais e históricos.
Além disso, é fundamental transformar a escola em um espaço que valorize a curiosidade e o prazer pelo aprendizado, rompendo com práticas autoritárias que muitas vezes limitam a criatividade dos alunos. O cinema, com sua capacidade de envolver e emocionar, pode contribuir para uma abordagem mais lúdica e participativa no ensino, tornando as aulas mais envolventes e significativas.
Por fim, para que essa relação entre cinema e educação seja bem-sucedida, é necessário investir na formação dos educadores e na criação de políticas públicas que incentivem o uso do cinema nas escolas. Ao superar os desafios e explorar seu potencial, o cinema pode se tornar um importante aliado na construção de uma educação mais crítica, inclusiva e transformadora.
O fenômeno que tem contribuído muito para que o cinema seja a voz de setores específicos tem sido os festivais de cinema. Entusiastas da sétima arte e empreendedores culturais criam mostras de cinema em que trazem, em sua curadoria, temáticas relacionadas ao grupo étnico cuja cultura será representada no festival. São muitos os festivais de cinema temáticos que abordam culturas específicas, e o ano de 2025 se inicia com um grande evento: o Miami Jewish Film Festival.
O Miami Jewish Film Festival de 2025 apresentou o maior programa de cinema judaico do mundo! O público experimentou a magia do cinema e descobriu o melhor do cinema mundial, com mais de 130 estreias de filmes exibidos nos cinemas e virtualmente, permitindo que muitos assistissem no conforto de suas casas ao longo de 15 dias.
O festival teve momentos de muita luz e significado, como, por exemplo, a celebração da estreia mundial de One Happy Family, um filme emocionante e alegre, e a homenagem à extraordinária Linda Lavin, artista de teatro e cinema judia que faleceu. A atuação de Linda em One Happy Family é um testemunho de uma carreira marcada por beleza, ternura e profundidade. Seu legado inclui um Globo de Ouro, um Tony Award e inúmeras inspirações para as próximas gerações.
O festival também teve o prazer de receber a roteirista e atriz Thelisa Brenner na estreia mundial do filme. Na ocasião, a comunidade judaica de Miami prestou uma homenagem a Linda Lavin. Todos que participaram e assistiram ao Miami Jewish Film Festival saíram com a impressão de que foi uma edição especial e de grande valor, sobretudo em um momento em que a comunidade judaica mundial enfrenta o aumento do antissemitismo.
Cinema e Educação
O cinema é uma poderosa ferramenta de reflexão e transformação, que nos convida a ir além da superfície e a questionar aspectos profundos da vida. Ele não é apenas um meio de entretenimento, mas um espaço de aprendizado coletivo, onde as histórias apresentadas nas telas provocam sentimentos intensos, reflexões sobre a condição humana e questionamentos acerca das escolhas individuais e coletivas. Ao assistir a um filme, não apenas observamos, mas também experimentamos, discutimos e compartilhamos, criando uma visão coletiva que enriquece a experiência pessoal de cada espectador.
Um dos aspectos mais valiosos que o cinema proporciona é a reflexão sobre os julgamentos rápidos que fazemos. Em muitas situações, somos tentados a formar opiniões precipitadas sobre pessoas e acontecimentos, muitas vezes sem entender completamente o contexto ou as nuances envolvidas. Filmes que exploram a diversidade de pensamentos, comportamentos e escolhas de vida nos ensinam a desacelerar e acolher as diferenças. Esse processo de empatia, iniciado na tela, é um exercício vital na educação e na convivência, pois nos leva a refletir sobre como lidamos com as pessoas ao nosso redor, especialmente aquelas que pensam ou agem de maneira diferente.
Além disso, o cinema oferece uma poderosa metáfora sobre os espaços internos e externos que construímos em nossas vidas. Algumas histórias mostram como os personagens criam mundos próprios, mais gentis e acolhedores, contrastando com a dureza ou indiferença do mundo exterior. Essa criação de universos particulares nos leva a pensar sobre como, muitas vezes, é necessário buscar em nós mesmos os refúgios de acolhimento e compreensão que o mundo nem sempre oferece. Filmes que exploram o amor, a amizade e a aceitação nos lembram da importância de cultivar esses valores em nossas próprias vidas.
Outro elemento fundamental do cinema, frequentemente subestimado, é a trilha sonora. A música, em muitos casos, desempenha um papel crucial, não apenas como um fundo sonoro, mas como uma extensão da narrativa. Ela amplifica as emoções, intensifica os momentos-chave da trama e nos conduz por uma viagem emocional que, muitas vezes, transcende as imagens. Para os apreciadores de música, as trilhas sonoras oferecem uma camada extra de significado, transformando cada filme em uma experiência sensorial completa. Essa conexão entre imagem e som é um dos aspectos que tornam o cinema uma experiência única e inesquecível.
Por fim, o cinema, tal como a educação, é um processo contínuo de transformação. Cada filme é uma oportunidade de mudança, de sair da sala de exibição com uma nova visão sobre o mundo. A discussão coletiva sobre as obras cinematográficas permite que cada espectador não apenas compreenda a história, mas também se veja refletido nela, ampliando suas perspectivas sobre o que é verdadeiramente importante. Ao compartilhar nossas interpretações, contribuições e impressões, o cinema se torna um exercício de crescimento, em que o aprendizado vai além da sala de aula, levando-nos a refletir sobre nossas próprias atitudes, valores e a forma como nos relacionamos com os outros.
Assim, o cinema não é apenas uma arte de contar histórias, mas um convite constante à reflexão e à transformação pessoal e coletiva. Ele nos ensina a olhar o mundo com mais atenção, mais paciência e, acima de tudo, com mais humanidade. Ao nos envolvermos nas narrativas cinematográficas, somos chamados a questionar nossas certezas, expandir nossa compreensão sobre o outro e, quem sabe, sair um pouco mais conscientes e sensíveis diante da complexidade do mundo que nos cerca.