Na data de comemoração dos 80 anos da libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz, na Polônia, pelo Exército soviético, somos levados a refletir sobre essa história e a atualidade.
Maior campo de concentração e extermínio nazi-fascista durante a Segunda Guerra Mundial, situado a 43 km da cidade de Cracóvia, no sul polonês, o complexo Auschwitz-Birkenau esteve sob o comando político de Heinrich Himmler, um dos principais ministros de Hitler e comandante da SS alemã.
Esse complexo era composto por três campos principais e cerca de 40 campos satélites espalhados pela região, por onde passaram aproximadamente 1,3 milhão de pessoas, das quais 1 milhão foram dizimadas.
Noventa por cento das vítimas assassinadas eram judeus, mas também foram mortas pessoas que não se alinhavam ao perfil desejado pela ditadura hitlerista. Assim, além dos judeus, que foram o principal alvo do Terceiro Reich, os povos de "segunda classe" (segundo as teorias racistas arianas) ou indivíduos com comportamentos considerados “inadequados” ou “opositores” tornaram-se alvo.
Em Auschwitz-Birkenau, segundo estimativas, foram assassinados 960 mil judeus, sendo 438 mil húngaros, 300 mil poloneses, 69.114 franceses, 60.085 holandeses, 54.533 gregos, 46.099 tchecos, 24.906 belgas, 10 mil iugoslavos e 7.422 italianos.
Além dos judeus, 74 mil prisioneiros políticos poloneses, 21 mil ciganos (Roma e Sinti), 10 mil prisioneiros de guerra soviéticos, 1.200 republicanos espanhóis (enviados por Franco como apátridas), centenas de Testemunhas de Jeová e dezenas de homossexuais foram executados no complexo das maneiras mais brutais imagináveis, incluindo câmaras de gás.
Certamente, o caso do complexo Auschwitz-Birkenau é o mais emblemático, mas faz parte de um contexto mais amplo: o genocídio nazi-fascista desenvolvido no continente europeu. Sob a liderança de Hitler e de líderes colaboracionistas em diversos países (como Mussolini, Franco, Pétain, Quisling, Mãe, Skyrpas, Horthy, Antonescu, Pavelic, entre outros), calcula-se que mais de 17 milhões de pessoas foram assassinadas.
Os números são absurdos, independentemente da perspectiva analisada. Seja por religião ou nacionalidade, trata-se de algo jamais visto e incomparável na história da humanidade em tão curto espaço de tempo.
Essa data, portanto, deve servir de reflexão não só sobre esse passado, mas também sobre os dias atuais, em que argumentos presentes nessa história retornam com força ao cenário político. A reeleição de Trump nos Estados Unidos e o fortalecimento crescente de partidos reacionários e até neonazistas na Europa trazem muita preocupação. Posições políticas que atacam abertamente minorias e desrespeitam princípios fundamentais de direitos humanos devem ser denunciadas e repudiadas veementemente.
Embora o antissemitismo continue a existir em muitos lugares do mundo, os principais alvos dessas forças políticas são, em geral, imigrantes e refugiados do chamado sul global, provenientes de regiões vítimas de guerras, conflitos políticos, crime organizado, desastres ambientais, pobreza e miséria.
Latino-americanos nos Estados Unidos, em Portugal e na Espanha, africanos negros, árabes, afegãos, bengalis, indianos, muçulmanos e homossexuais têm sido os alvos preferenciais dos ataques desses líderes. Liderados por Trump, esses políticos organizam uma "Internacional reacionária" cada vez mais apoiada no populismo e amplificada pelas redes sociais de Elon Musk e Mark Zuckerberg.
Milei na Argentina, Kast no Chile, Bolsonaro no Brasil, André Ventura em Portugal, Santiago Abascal na Espanha, Le Pen na França, Salvini e Meloni na Itália, o AfD na Alemanha, o FPO na Áustria, Viktor Orbán na Hungria, Nigel Farage no Reino Unido, Geert Wilders na Holanda, os Democratas Suecos, Netanyahu em Israel e outros líderes integram esse grupo que ameaça conduzir a humanidade a um novo desastre de dimensões irreparáveis.
Esses líderes e partidos precisam ser combatidos pelas forças democráticas em âmbito internacional, pois colocam em risco a paz, a liberdade e o bem-estar da maioria.
Será que aprendemos algo com o Holocausto? Os sinais da história mostram que o esquecimento e a indiferença abrem espaço para o retorno de ideias perigosas. O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto não é apenas um tributo às vidas perdidas, mas um alerta para que a humanidade se comprometa com a defesa intransigente dos direitos humanos, da diversidade e da dignidade de todos os povos.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum