O reconhecimento do cinema brasileiro no cenário internacional, exemplificado pela indicação ao Oscar 2025 de Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, destaca a urgência em garantir o direito à cultura, não apenas como valorização, mas como acesso igualitário para todos. Este marco celebra o talento nacional e nos convida a refletir sobre o "viralatismo cultural", que frequentemente desvaloriza nossa identidade e produção artística.
Para garantir esse direito à cultura, a legislação brasileira estabelece diretrizes claras. A Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura que todos têm o direito de participar livremente da vida cultural, de desfrutar das artes e de se beneficiar do progresso científico. No Brasil, a Constituição Federal reforça esse princípio, estabelecendo o papel do Estado na garantia do exercício dos direitos culturais e na promoção da valorização das manifestações culturais. Apesar dessa base legal sólida, é crucial reconhecer que barreiras culturais internas ainda dificultam o pleno reconhecimento da nossa produção artística, limitando o acesso à cultura como um direito.
É comum ouvir críticas infundadas ao cinema nacional, muitas vezes baseadas em preconceitos ou desconhecimento, como a alegação de que "o cinema brasileiro só fala de pobreza" ou que "filmes brasileiros são ruins". Tais afirmações revelam uma visão superficial e desinformada que ignora a diversidade temática e estética das produções nacionais, bem como o papel da arte como espelho da sociedade. Curiosamente, esses mesmos críticos exaltam produções estrangeiras que abordam temas semelhantes, revelando uma contradição: desprezamos nossa própria narrativa enquanto buscamos validação externa para reconhecer nosso valor. Este "viralatismo cultural" não só prejudica o reconhecimento do nosso próprio valor, mas também nos impede de desenvolver uma autêntica identidade cultural.
Ademais, a educação emerge como um pilar essencial para garantir o acesso à cultura, formando cidadãos conscientes e engajados com a produção artística nacional. Ao incluir o ensino de arte e cultura nas escolas, podemos criar uma nova geração que valorize e reconheça a riqueza cultural brasileira. Além disso, a educação cultural deve ir além da sala de aula, incentivando a participação em atividades culturais e a exploração de diferentes expressões artísticas.
Muitas vezes, o acesso à cultura é limitado por barreiras econômicas e geográficas. Essas barreiras podem ser superadas por meio de programas de financiamento para produções culturais, a criação de espaços culturais em áreas periféricas e o uso de novas tecnologias para democratizar o acesso à arte. A cultura também possui um potencial incrível para promover a inclusão social. Ao valorizar as manifestações culturais das diferentes comunidades, é possível criar um ambiente mais diverso e inclusivo, onde todos se sintam representados e valorizados. Além disso, a cultura pode ser uma ferramenta para empoderar grupos marginalizados e dar voz a suas histórias.
O direito à cultura está intimamente ligado ao direito à identidade. Ao valorizar e promover a cultura nacional, estamos fortalecendo nossa identidade coletiva e afirmando nosso lugar no mundo. Isso implica reconhecer e celebrar as tradições culturais, mas também incentivar a inovação e a criatividade. Os exemplos de filmes nacionais que alcançaram reconhecimento internacional são inúmeros. Além de Ainda Estou Aqui, podemos citar Cidade de Deus e Central do Brasil que conquistaram aclamação da crítica e do público, demonstrando a capacidade do cinema brasileiro de produzir obras de qualidade e impacto global.
A cultura é, portanto, um instrumento de resistência e transformação. Ao valorizar a nossa produção cultural, reafirmamos a nossa identidade e fortalecemos a nossa posição no cenário internacional. Se o cinema brasileiro é capaz de chegar ao Oscar, é porque ele carrega uma força criativa que reflete a complexidade e a riqueza do Brasil. Devemos deixar de lado o complexo de inferioridade e reconhecer a grandiosidade que já existe em nosso cinema, nossa música, nossa literatura e todas as manifestações artísticas que compõem o mosaico da cultura brasileira. A cultura nacional não precisa de tradução para ser universal. Ela é, por si só, um patrimônio que merece ser celebrado. Este reconhecimento deve servir como um catalisador para uma mudança de mentalidade, na qual valorizamos genuinamente a produção cultural nacional.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum