Na década de 1960, Andy Warhol profetizou: “no futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”. Parafraseando o artista visual estadunidense, podemos dizer que, no Brasil contemporâneo, onde o fascismo saiu da coleira, todo bolsonarista terá seus quinze minutos de fama. Via de regra, pelos motivos mais toscos, grotescos e constrangedores. Tratam-se de pessoas anônimas (pelo menos para o grande público), responsáveis por frases e/ou atitudes deploráveis, que posteriormente viralizam nas principais redes sociais.
O fenômeno dos “quinze minutos de fama bolsonarista” ganhou força após a derrota eleitoral do “mito” em 2022 (concebida pelo gado como “fraude”). Nesse contexto, bolsonaristas fecharam rodovias em todo o Brasil, em protesto contra a vitória eleitoral do “comunista” Luiz Inácio Lula da Silva. Entre eles estava um indivíduo que subiu no para-brisa de um caminhão para impedir que o veículo ultrapassasse o bloqueio dos manifestantes. No entanto, o motorista não parou e o bolsonarista ficou por alguns quilômetros pendurado. Com as imagens inspirando inúmeros memes na internet, surgiu o primeiro personagem de nossa lista: o “patriota do caminhão”.
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Por outro lado, um dos caminhos mais certeiros para um bolsonarista alcançar os quinze minutos de fama é demonstrar seus preconceitos em público, sem máscaras. Pode até render candidatura para cargo legislativo. Nesse sentido, temos a “homofóbica da padaria”, alçada ao estrelato efêmero quando foi flagrada insultando um casal de homossexuais em uma padaria paulistana. No repertório de xingamentos, clássicos do léxico bolsonarista: “mimimi”, “eu sou de família tradicional” e “os valores estão sendo invertidos”. Para não fugir da cartilha “cidadão de bem”, a “homofóbica da padaria” tem em seu currículo acusações de extorsão e ameaças.
Do mesmo modo, um casal evangélico, dono de uma gráfica em São Paulo, teve seus quinze minutos de fama ao declarar que não faz convites para uniões homoafetivas. Com a repercussão do caso, os proprietários da empresa publicaram um vídeo, se dizendo vítimas de “heterofobia” (como se sabe, inventar preconceitos que não existem é uma das principais especialidades da extrema direita brasileira).
Por falar em religião, uma das marcas registradas do bolsonarismo é a intolerância em relação às crenças de matrizes africanas. Sendo assim, uma influencier cristã se tornou conhecida nacionalmente por publicar um vídeo em suas redes sociais que associava as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul à ira divina (por causa da grande presença de terreiros de “macumba” no estado).
Mas não basta insultar minorias sociais, é preciso ir às vias de fato. Em Fortaleza, um bolsonarista ganhou seus quinze minutos de fama por ter apalpado as partes íntimas de uma mulher, sem consentimento, enquanto ela deixava o elevador de um edifício comercial. Como sua atitude, evidentemente, não foi bem-vista (rendeu até demissão do emprego), o “assediador do elevador” recorreu à uma das máximas bolsonaristas: alegou ter “problemas psiquiátricos”.
Além do conservadorismo nos costumes, o bolsonarismo tem como slogan ser “liberal na economia” (aliás, a sua face mais cruel). Isso significa privatizações, sucateamento de serviços públicos e perdas de direitos trabalhistas, entre outras mazelas. Nessa lógica, o fundador do grupo G4 Educação é o mais recente bolsonarista agraciado com os quinze minutos de fama. O motivo: defender a superexploração do trabalhador. Como todo “cidadão de bem” respeitável, seguindo o lema “imposto é roubo”, ele tem em seu histórico uma dívida de 10,5 milhões de reais em impostos à União.
Também são dignos de uma menção honrosa os bolsonaristas que comemoraram a falsa prisão de Alexandre de Moraes (confirmando a “fraude” na eleição presidencial de 2022), os adoradores do pneu de caminhão, os patriotas que acamparam em frente a quartéis e os golpistas de 8 de janeiro.
Porém, em um futuro distópico, esses bravos cidadãos de bem não terão apenas quinze minutos de fama; serão eternizados e representados como heróis nacionais nos livros de História produzidos pela Brasil Paralelo. Nada é tão ruim que não possa piorar!