No final dos anos 1970, em meio a perceptíveis sinais de crise político-econômica do regime militar instaurado com o golpe de 1964, as greves do ABCD paulista, em consonância com importantes processos de lutas que ocorriam nacional e internacionalmente, passaram a despertar e a incrementar por todo o Brasil movimentos políticos, sindicais e sociais. Neste contexto, marcando a confluência principalmente de sindicalistas, de comunidades de base e movimentos populares vinculados à Igreja Católica e da esquerda então na clandestinidade, consolidou-se a ideia de se formar um novo partido: o Partido dos Trabalhadores.
Em 1º de maio de 1979 foi tornada pública a “Carta de Princípios” do PT. Depois se constituiu oficialmente, em São Bernardo do Campo, em 13 de outubro de 1979, o Movimento pelo Partido dos Trabalhadores, ou Movimento Pró-PT, como também era conhecido, que conduziu o processo de constituição e legalização do partido. Em 10 de fevereiro de 1980, na cidade de São Paulo, no Colégio Sion, para marcar a irreversibilidade desta iniciativa, realizou-se o lançamento oficial do PT, que, em 1º de junho daquele mesmo ano, será formalmente fundado” Por Perseu Abramo em Documentos e dossiês da Fundação Perseu Abramo.
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O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras nasceu das diversas lutas sociais, de um Brasil sobrevivente à sua história recente mais drástica, a ditadura militar. Conforme documentos a segmentação que constituiu o PT reflete a complexa estratificação social do povo brasileiro. O PT veio para representar a diversidade da sociedade Brasileira. Daí refletimos que o PT possui um vasto e rico componente religioso desde a sua constituição.
Nos primeiros documentos do PT temos:
“É preciso que esses núcleos saibam recolher a riqueza e a variedade de questões colocadas pelos movimentos sociais mais diversos: sindicatos, associações, comunidades, movimentos de libertação de setores discriminados ou estigmatizados, entidades estudantis, pastorais da igreja e outros grupos religiosos etc.” PONTOS PARA A ELABORAÇÃO DO PROGRAMA Comissão Nacional Provisória do Movimento Pró-PT Extraído de Mario Pedrosa. Sobre o PT. São Paulo, Ched, 1980, p. 83-106.
A diversidade religiosa do PT iniciou desde a sua fundação, no período do fim da ditadura. Foram padres, bispos, pastores, ialorixás e babalorixás, sacerdotes e sacerdotisas que à época, denunciaram, dentro dos seus espaços de fé, os absurdos cometidos pela repressão.
O nosso presidente Lula em seu discurso na primeira convenção do PT em 81 fez uma reflexão tão atual para os dias atuais:
“Não vemos a abertura como um presente dos deuses. Antes, ela foi uma conquista dos movimentos populares, da luta sindical, das campanhas pela anistia, dos protestos das Igrejas e demais setores de nossa sociedade civil.”
“Quero ainda ressaltar nosso apreço por esses companheiros que, em todos os rincões do País, dão mostras de serviço efetivo aos interesses populares, enfrentando toda sorte de perseguições, calúnias, prisões e expulsões: os membros das comunidades eclesiais de base e os padres e bispos ligados a elas. Não somos um partido confessional e não aceitamos que a Igreja interfira em nossas atividades, assim como não queremos interferir nas atividades da Igreja. Entre a Igreja e o Partido deve haver clareza das funções diferentes, distintas, embora, muitas vezes, estejamos, na vida oprimida e injusta de nosso povo, unidos pelo mesmo anseio de libertação.”
“Contudo, repudiamos a prática partidária que pretenda reduzir as comunidades de base a núcleos partidários. Respeitamos, como questão de princípio, a fé de nosso povo e seu direito de liberdade religiosa, como atividade pública, mas não seremos, jamais, um partido de crentes ou de ateus. Para nós, a divisão é outra, é entre os que estão do lado da libertação e os que estão do lado da opressão. O Partido dos Trabalhadores não poderá, jamais, representar os interesses do capital.”
“Reconhecendo todos aqueles que na Igreja prestam serviços à causa do povo brasileiro, denunciamos as perseguições que o governo faz a leigos, padres e bispos, em nome do fantasma do comunismo. Nosso partido apoiará sempre, independentemente de sua confissão ou crença religiosa, todos aqueles que, neste país, são vítimas da intolerância, do arbítrio e da crueldade do poder”. Trechos do discurso de Lula na primeira convenção do PT em 81.”
É no contato com o povo e na luta organizada que o PT vai se enraizando na sociedade brasileira. A participação do PT nas eleições majoritárias e proporcionais são momentos da disputa por uma sociedade mais justa e igualitária. Mas esta disputa não se restringe e nem deve, às eleições. O PT está conectado com os movimentos sociais do campo e da cidade. São 44 anos de lutas e conquistas.
Se no final da década de 70 e início de 80 a luta era pelo fim do regime militar e pelas diretas-já, 44 anos depois a nossa luta não para. Ela agora muda de cara. A disputa é contra o crescimento e avanço do fascismo e da ultradireita, contra a intolerância e racismo religioso. É contra o extremismo da direita que se apropriou de setores conservadores das igrejas evangélicas fazendo associação da fé aos aspectos mais nefastos da política, seja pela disseminação de fake News, seja pela supervalorização de uma moral e ética conservadora da sociedade.
O PT continua ao longo dos seus 44 anos sendo o partido da diversidade religiosa, o partido que nunca fechou nenhuma igreja, que nunca interferiu na atividade religiosa neste país.
O texto de Paul Singer na Folha de São Paulo no início de 80 é tão atual com aquilo que acreditamos ser:
“(…) As classes dominantes compensam sua inferioridade numérica pelo seu poderio econômico, que lhes permite dominar os meios de divulgação e exercer forte influência nos aparelhos ideológicos: universidades, igrejas, centros de estudos e pesquisas(…).” Documentos e Dossiês da Fundação Perseu Abramo. A FUNDAÇÃO Paul Singer Folha de S.Paulo. São Paulo, 14 fev. 1980, p. 3 (“Tendências e Debates”).
Com muita luta e formação política, disputando a sociedade, fortalecendo as organizações de base mudaremos esta curva conservadora crescente no mundo e na sociedade brasileira. A ideologia é nosso alicerce, a fé nos dá esperança, a luta nos encoraja.
Para demonstrar a diversidade religiosa que engrandece nosso partido trazemos abaixo um estudo sobre a composição dos filiados e das filiadas do PT e das pré-candidaturas para eleições de outubro deste ano.
O PT possui um sistema de filiados próprio (SISFIL) de responsabilidade da Secretaria Nacional de Organização. Possui um Setorial Inter-religioso organizado nacionalmente desde 2020. Ao longo da história constitui-se vários núcleos que sempre estiveram próximo do diálogo pela diversidade religiosa e em defesa do estado laico. Os núcleos de base de Fé e Política, os MEPs (Movimentos Evangélicos Progressitas) e mais recentemente em 2015 foi criado o Núcleo de Evangélicos e Evangélicas do PT (NEPT) organizado nacionalmente e em todos estados da federação, dentre outros movimentos relacionados ao ecumenismo e diversidade religiosa como um todo.
Nas disputas eleitorais de 2024 temos também um conjunto de companheiros e companheiras que se organizam em diversos espaços de fé e que colocaram seus nomes a disposição da sociedade para o sufrágio de outubro. Trazemos aqui ao final um levantamento em gráficos que expressam a diversidade de fé existente no PT no seu quadro interno de filiados e para as disputas eleitorais.
Que este texto e estudos sirvam de reflexão para demonstrar o quão rico e diverso é o nosso Partido.
Façam boa leitura!
Para sugestões e informações sobre o setorial inter-religioso segue o e-mail institucional para contato: interreligioso@pt.org.br
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.
Gutierres Barbosa Gaspar é evangélico, vice-presidente da Igreja Batista Nazareth em Salvador -/BA, Secretário de Desenvolvimento Territorial do PT/BA e Coordenador Nacional do Setorial Inter-religioso do PT.