OPINIÃO

Bola de neve ou avalanche? – Por pastor Zé Barbosa Jr

Apesar de toda fachada jovial e “descolada”, a Bola de Neve sempre foi uma igreja retrógrada, conservadora e castradora

Créditos: Divulgação/SCTodoDia
Escrito en OPINIÃO el

A avalanche, sem trocadilhos, de acusações de todo tipo de violência moral, psicológica e sexual por parte de líderes evangélicos, ganhou um capítulo a mais esta semana com o anúncio de uma medida protetiva pedida pela (ainda) esposa do Apóstolo Rina, a pastora Denise Seixas, ambos dirigentes da “Bola de Neve Church”. Rina é acusado de violências diversas por Denise e a medida protetiva garante a ela, neste momento, que o apóstolo não chegue a, pelo menos, 300 metros da vítima.

Como dia o próprio site da Bola de Neve Church: “A história da Igreja Bola de Neve confunde-se com a própria história do Apóstolo Rina. Depois de uma hepatite, dores muito fortes e uma experiência pessoal com Deus, nascia, em dezembro de 93, uma reunião descompromissada. Não demorou a aparecer um nome que expressasse muito bem o grupo: uma bola de neve que, começando pequena, virava uma avalanche. Essa Bola de Neve seguiu rolando e cumprindo seu papel.” Daí o nome não muito convencional da igreja e, é claro, o “Church” acrescentado para dar ares de jovialidade e internacionalidade ao movimento.

Mas não é de se espantar que essas coisas venham à tona, finalmente. Apesar de toda fachada jovial e “descolada”, a Bola de Neve sempre foi uma igreja retrógrada, conservadora e castradora. As violências psicológicas e espirituais com os jovens frequentadores são as mais diversas, como por exemplo, a quase obrigação (velada – quem é de dentro sabe como é) da prática da “corte”, que prega não só o sexo somente após o casamento, como até mesmo o beijo. Isso mesmo!!! Só pode “beijar a noiva” APÓS o casamento. O “namoro”, ou “corte” que é o nome dado por eles é “supervisionado” pelos líderes que, muitas vezes têm até a prerrogativa de “abençoar/autorizar” ou não os casais.

Os escândalos na Bola de Neve e tantas outras igrejas legalistas e fundamentalistas demonstram o que há anos estamos falando: ambientes castradores e punitivos são verdadeiros celeiros de hipocrisia, covardia, abusos psicológicos e violências sexuais. Apesar das “paredes pretas”, dos cultos descolados, das pranchas e barris como púlpitos, dos pastores e pastoras repletos de tatuagens, quando se espreme o conteúdo, é o mais puro suco de fundamentalismo adoecedor e violento. Neste sentido, há muito mais “bolas de neve” do que imaginamos. Há até quem diga que, quando uma bola de neve derrete, surge uma Lagoinha... que perpetua as mesmas violências e absurdos.

Enquanto isso, não escapa ninguém da sanha de abusos pastorais, desde crianças (sim! Há muitos casos de pedofilia nas igrejas – a maioria não relatados por pressão dos líderes), jovens, mulheres (a maioria, pra variar!) e até homens mais velhos abusados por pastores e pastoras. Desde pastores que querem provar, dos homens, o “sêmen que cura gastrite” aos pilantras que oferecem o “sêmen abençoado” para as mulheres adoecidas aos bandidos que estupram e violentam nossas crianças com suas canalhices “ungidas”. Essa sim, a cruel bola de neve que segue crescendo no meio evangélico brasileiro.

De tudo isso, uma lição muito nítida: o fundamentalismo pregado nessas igrejas não funciona nem para eles. E eles sabem que não funciona. E não é de hoje isso: aos fariseus de sua época, Jesus disse na cara deles: "Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas.” (Lucas 11.46). São sepulcros caiados, como denunciou o próprio Jesus, moralistas canalhas, hipócritas desvairados.

São estes que alimentam as ruas de gente gritando “Deus, Pátria e Família”, que cometem as mais podres violências, mas concordam e defendem que, por exemplo, crianças e adolescentes sejam consideradas assassinas ao abortarem um feto fruto de um estupro. São estes que votam em pedófilos de verdade, assassinos de mulheres, estupradores e fazem tudo isso, “em nome de Deus”.

E, infelizmente, não posso orar como Jesus, dizendo “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”. Eles sabem! E sabem muito! E celebram sua maldade e perversidade domingo após domingo em suas “churches” recheadas da mais pura hipocrisia cristã. Já não há mais uma “bola de neve”. O que existe é uma avalanche de lixo que, ao descer dos púlpitos, continua matando e violentando muita gente no caminho.

Continuamos, profeticamente, lutando e denunciando tudo isso! Não nos calarão!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.