Diante da mais grave e inacreditável ofensiva do fundamentalismo evangélico bolsonarista, os brasileiros normais devem estar se perguntando: até onde o país aguentará a barbárie desses talibãs desajustados? A pergunta passa pela cabeça de muita gente, mas uma resposta para ela segue indefinida.
Vários países mundo afora já provaram uma guinada à direita, desde nações mais ricas e com elevado padrão de vida até estados mais pobres. No entanto, o que vemos por aqui é algo tosco, ultrajante e inaceitável, de um radicalismo medieval que nos faz crer que talvez estejamos não entendendo o que se passa na realidade.
O bolsonarismo é um fenômeno difícil de se explicar em poucas palavras, mescla maldade e ignorância com colheradas generosas de falsa religiosidade hipócrita e pitadas significativas de oportunismo. Lógico que vem dando resultados “positivos” para quem explora esse filão, mas as últimas investidas dessa corja de aloprados asquerosos cruzou todas as linhas e há um ponto máximo nelas: o PL 1904, que pretende punir com pena de 20 anos de prisão (equivalente à condenação por homicídio) uma mulher que realize um aborto legal, com autorização da Justiça em casos de estupro ou risco de morte para a mãe, após 22 semanas de gestação. É algo tão nojento que provoca engulhos em todos os viventes que não estejam envolvidos com essa massa de canalhas.
Num programa de grande audiência num canal a cabo de notícias, um dos deputados evangélicos que se apossaram da Câmara, um tal Cezinha de Madureira (PSD-SP), diz após a âncora ler detalhadamente três pesquisas científicas sobre o tema realizadas por três diferentes instituições que as pesquisas dele é que são as “certas”, porque “Deus é sua pesquisa”. É possível alguém, em 2024, crer que uma declaração do tipo seja aceitável em qualquer esfera da política nacional? A declaração é digna de um talibã, e explico: esses fundamentalistas islâmicos do Afeganistão tomam decisões e propõem absurdos usando como base “Deus”.
Esse grupo de políticos, a tal "bancada evangélica", que é muito numeroso e age com chantagens e ameaças explícitas dentro do parlamento, elegeu tal agenda dantesca há muito tempo, mas vem intensificando sua artilharia bem no momento em que dezenas e dezenas de casos de estupro e violência eclodem entre “pastores” e outros picaretas pseudorreligiosos por todo o país. Após anos de denúncias de estelionato e abuso sem escrúpulos da fé alheia, a patota de celerados que vive como se estivesse no começo do segundo milênio agora se sente empoderada e está, de fato e pra valer, decidindo os rumos do Brasil.
Imagine você ter que escutar de alguém como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que tal medida cruel como o PL 1904 é “pela vida”. Um sujeito que desfila pelos corredores do poder em Brasília usando uma camiseta em homenagem a Carlos Alberto Brilhante Ustra, um psicopata torturador e assassino. Ninguém acredita nessa afirmação, nem mesmo ele. Aquilo é para ser ouvido e aceito pelos estercos humanos de mau-caráter que o admiram e pelos incautos manipulados por essas seitas de fundo de quintal que se intitulam “igrejas”.
Imagine tomar como ponto de partida para sua fé e crença em algum Deus o senador Magno Malta (PL-ES). Homem de hábitos e falas agressivas, já foi flagrando com fotos do seu pênis em rede social e acusado de mandar prender e torturar um homem que posteriormente foi inocentado pela Justiça. Seria um desperdício de tempo e espaço seguir aqui listando esses “cristãos ultraconservadores” que em muitos casos já tiverem toneladas de drogas apreendidas em suas empresas e veículos, que assediaram sexualmente mulheres do seu convívio, que desviaram dinheiro público em emendas do relator ou ainda que se relacionam homossexualmente e pregam ódio visceral aos homossexuais (não há ilegalidade ou crime algum em ser gay, mas em pregar ódio aos gays, há sim).
A chegada do PL 1904 ao que parece servirá para um outro exercício de consciência no país, e não é o da manutenção dos direitos das mulheres. É sobre o quanto mais aguentaremos ser reféns desses anormais medievalescos. É simplesmente uma experiência nauseabunda ter que ficar escutando como "argumento", nas mais variadas esferas da vida como cidadão, esses "embasamentos" de que “o meu Deus determinou tal coisa”. Ninguém está preocupado com o que “o seu Deus te falou”. É preciso, mais do que nunca, que a civilização ponha um freio nesses fanáticos sob pena de que o Brasil deixe de existir como uma nação funcional e minimamente séria junto à comunidade internacional.