OPINIÃO

Bolsonaro na embaixada: covardia ou provocação para prisão?

Dúvida paira sobre ministros do STF, que decidirão pela prisão preventiva ou uso de tornozeleira. Para aliados do ex-presidente, Bolsonaro na cadeia geraria comoção entre os extremistas e faria explodir atos pelo país.

Manifestantes pedem prisão de Bolsonaro.Créditos: Danilo Verpa/Folhapress
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Os vídeos que mostram Jair Bolsonaro (PL) perambulando pela Embaixada da Hungria no dia 12 de fevereiro após ter o passaporte confiscado pela Justiça, revelados pelo jornal The New York Times, dividem as opiniões no mundo jurídico e na cúpula do judiciário, especialmente entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A possibilidade de que Bolsonaro teria negociado um asilo político na embaixada do país comandado pelo amigo fascista Viktor Orbán seria motivo para a prisão do ex-presidente, investigado pela tentativa de golpe em 2022, segundo juristas como Pedro Serrano e Kakay - que até então se colocavam contra o encarceramento preventivo do ex-mandatário.

No cenário político, Bolsonaro teria se revelado um "covardão" - como definiu Lula - ao se esconder para evitar sua prisão.

No entanto, ministros do próprio STF avaliam que a fuga para a embaixada pode ser uma estratégia de Jair Bolsonaro para provocar a prisão preventiva, se antecipando a um julgamento que, a cada dia, coleciona provas mais robustos. 

A tese suscitaria a dúvida entre a prisão e a colocação de uma tornozeleira eletrônica, que permite monitorar os passos de Bolsonaro.

A própria nota divulgada pelos advogados do ex-presidente é vista como uma forma de provocação ao Supremo. 

A narrativa de que Bolsonaro teria passado duas noites na embaixada, "a convite", para fazer contato com autoridades húngaras não cola. O ex-presidente mora a 20 minutos do local e poderia fazer esses contatos de casa.

No entanto, ao final do texto, vem a provocação: "quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news".

Após ser convocado por Alexandre de Moraes a prestar esclarecimentos no prazo de 48 horas, Bolsonaro deu chilique e, em seguida, emendou a narrativa de que está sendo perseguido.

"Porventura dormir na embaixada, conversar com embaixador. Há algum crime nisso?", afirmou, caindo na vitimização.

Segundo os defensores da tese, o ex-presidente estaria provocando a prisão enquanto tem apoio considerável dos apoiadores radicais. 

Bolsonaro na cadeia geraria uma comoção entre os extremistas e faria explodir atos de protestos pelo país - semelhantes aos que foram convocados na surdina após a derrota para Lula nas eleições de 2022.

Essa incitação, no entanto, perderia força caso Bolsonaro continuasse "sangrando", com provas e fatos divulgados diariamente, que desmobilizariam a horda até o julgamento, quando deve ser decretada a prisão definitiva do ex-presidente.

O fato é que Bolsonaro será preso. A dúvida é: quando? E, principalmente, como isso vai reverberar num país ainda dividido, em que os apoiadores radicais do ex-presidente seguem sendo ceivados por narrativas fascistas que incitam o ódio.