Minha coluna de hoje é uma continuação do que vinha falando no programa “Papo de Fé”, da TV Fórum: A falsa equivalência que Israel tenta impor à comparação propícia e corajosa que o Presidente Lula fez em Adis Abeba, na Etiópia, para a reunião da cúpula da União Africana, no último domingo, sobre o genocídio que está ocorrendo em Gaza. Lula diz, entre outras coisas: “...não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre soldados altamente preparados e mulheres e crianças. (...) É importante lembrar que em 2010 o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus...”
Note bem que Lula nem usa o termo “Holocausto”, termo quase “sagrado” para a comunidade judaica, mas fala das atrocidades de quando “Hitler resolveu matar os judeus” e é aqui que a comparação se torna ainda mais válida e corajosa: é a atrocidade de um líder perverso sobre um povo, querendo a sua eliminação. Exatamente como Benjamin Netanyahu, um extremista opressor, faz com o povo Palestino. Sim, a comparação é justa e pertinente: um líder mau que quer extirpar um povo da face da terra. Não há falsa equivalência alguma. E não são os números que serão determinantes para o que é um genocídio ou não, mas seu propósito.
Aliás, essa é uma outra falsa equivalência que precisa ser desmontada: caso apelemos para números, há genocídios até maiores na história, como o genocídio Congolês, promovido por Leopoldo II, que dizimou cerca de 10 milhões de congoleses e outros como o genocídio Armenio e o do Camboja, e ainda vários massacres registrados na história da humanidade, como os genocídios de indígenas e negros promovidos pela “colonização” das Américas. Claro que o Holocausto Judeu tem suas peculiaridades, e neste aspecto, não se repete. Mas não dá para fazer dessa tragédia de um povo uma espécie de “carta na manga” de um governo absolutista e violento para amenizar violências e genocídios que ele venha a cometer. É o que faz Netanyahu.
Uma das táticas utilizadas é a da generalização pátria: A crítica ao governo é narrada como uma crítica a todo povo. Não! Lula não está criticando o povo judeu. Aliás, há muitos judeus não sionistas que recriminam o massacre que está sendo imposto a Gaza pelo governo do Estado de Israel. Tentar dizer que Lula “compara” o genocídio de Gaza ao Holocausto para fazer que o atual massacre de palestinos perca força “moral” e acione uma espécie de memória do sofrimento judaico que, ao trazer a comparação à tona, desmerece a dor de palestinos é fazer de sua dor a legitimação da dor do outro. Desumano, além de cruel.
Termino com uma fala do querido Gabriel da Rocha Gaspar, jornalista preto, atento e bem-humorado: “O Holocausto, no discurso sionista, é um artifício ideológico, como deixou claro o pesquisador judeu Norman Finkelstein, também persona non grata em israel. Divorciado do holocausto real, transformado numa excepcionalidade histórica imune a qualquer comparação, ele se torna uma carta branca para sua própria reencenação.”
Chega de genocídios! Palestina livre já!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.