Não, este colunista não errou a data.
Apenas está adequando o cumprimento aos nossos governantes, desejando-lhes saudações de uma época com a qual eles devem se identificar mais. Há pessoas que gostam de rememorar o passado, agora, o que eles têm demonstrado é que de fato querem viver no passado.
Te podría interesar
A forma de governar e boa parte dos projetos e propostas de Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas parecem escancaradamente retirados dos anos 70. É bastante assustador! E triste, considerando vamos viver nas cidades que eles estão governando.
O rodoviarismo – que, só pelo nome, remonta a Juscelino Kubitschek, nos anos 50, ou a Paulo Maluf, nos anos 70 – é só o exemplo mais concreto. Propostas como a duplicação da Rodovia Raposo Tavares, o túnel na Sena Madureira, a ampliação da Marginal Pinheiros, entre outras, nos remetem imediatamente a fotos em preto e branco e vídeos a ufanistas da época da ditadura.
Alguém, em sã consciência, ainda acredita que algum túnel vá “desafogar trânsito”? Existe algum túnel em São Paulo que não esteja congestionado às 19h, ou até mesmo em outros momentos do dia? Por vezes, parece até uma piada de mau gosto.
Sim, nos anos 60 e 70 essa ideologia estava no auge. Mas é bom lembrar que ela sempre foi questionada. Sempre foi perceptível a inviabilidade de tentar resolver o trânsito dando mais espaço ao carro e estimulando seu uso. Saturnino de Brito e Anhaia Melo – que virou nome de avenida, coitado – são exemplos de nomes que mostram que já havia propostas de cidades diferentes, não centradas no carro.
Hoje, com o esgotamento desse modelo e diversos estudos internacionais que mostram como a construção de novas vias piora o trânsito, é ainda mais impensável que governantes e órgãos técnicos proponham e executem ideias como essas. Além disso, em pleno 2024, enquanto o planeta inteiro discute como reduzir emissões e melhorar o transporte público, nossa dupla paulista continua falando de túneis e avenidas, como se estivéssemos na década de 1970.
Talvez seja também por essa mentalidade setentista que o prefeito Ricardo Nunes não invista como deveria na eletrificação dos ônibus. Deve ter fresco na memória as dificuldades que o inventor e visionário brasileiro João Gurgel enfrentou nos anos 70.
Apesar de ser extremamente importante e louvável, a iniciativa da fábrica de ônibus elétricos não deu certo naquela época. Mas, Nunes parece não perceber que já se passaram 50 anos, que há cidades latino-americanas com 12 vezes mais ônibus elétricos que São Paulo, mesmo sendo menores que nossa capital.
Outro aspecto que exala anos 70 nos nossos governantes é a completa falta de diálogo, transparência e participação nas decisões. Nunes ainda tenta manter uma imagem de participação em alguns conselhos, criados por governos progressistas, mas só pela imagem mesmo. As decisões vêm prontas do gabinete ou de pedidos de empresários, bem parecido com 50 anos atrás.
Tarcísio, por exemplo, anuncia o novo valor das tarifas de metrô e trem com um ar de “Diga ao povo que é R$5,20. E ponto.”, quase remetendo a 1870.
Tarcísio também resgata o Reinado de Pedro II e a República Velha no extremismo ultraliberal. Naquela época, acreditava-se que construir redes de trilhos com a iniciativa privada era viável e consistente. Com a falência dos projetos do Barão de Mauá e tantas outras ferrovias privadas, ou até a quebra da Light e da rede de bondes na capital, por se acreditar que a tarifa deveria pagar toda a conta, já era para ele ter aprendido que isso não vai dar certo.
A Prefeitura paulistana no governo Nunes tem ainda outra característica semelhante aos anos 70: a descontinuidade administrativa com “gestores biônicos”. Durante os oito anos de governo de seu grupo político, só na pasta de Mobilidade e Transportes, entre mudanças e bagunças na organização da repartição, 10 pessoas ocuparam algum cargo de secretário. E como no caso dos biônicos, nenhum mandava, pois foram colocados lá pelo presidente da Câmara.
E assim seguimos e talvez entraremos em 2025 nos próximos dias.... Nos anos 70, as pessoas imaginavam que no futuro haveria chamada por vídeo, eletrodomésticos com comando de voz e robôs que limpam a casa. Hoje, de fato, temos tudo isso e poderíamos sonhar com mais! Mas estamos nas mãos de governantes que querem voltar àquela época e abrir mão de qualquer avanço nos anos que virão.
**Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum