É fato que a grande imprensa brasileira (seguindo os ditames de seus congêneres internacionais) cobre o genocídio do povo palestino a partir da visão dos colonizadores israelenses. Basta uma simples análise de editoriais, reportagens e artigos de opinião para constatar esse tipo de jornalismo covarde.
Nesse sentido, há as manipulações costumeiras: maniqueísmos, patemização, jornalismo de adjetivação e ocultação da historicidade das relações entre palestinos e israelenses.
Te podría interesar
No entanto, no artigo "Por que tanta confiança nos dados do Hamas?", publicado no jornal O Globo, o cientista político sionista Igor Sabino superou qualquer tipo de manipulação jamais imaginada.
Como não poderia deixar de ser, o texto de Sabino traz todos os chavões para a defesa do genocídio. Cita o Hamas como "grupo terrorista" e culpado pela "guerra com Israel" (que busca apenas "se defender"). Além disso, minimiza os 44 mil mortos em Gaza desde o (segundo ele) "massacre" de 7 de outubro de 2023.
Te podría interesar
Para o cientista político sionista, metade desses óbitos foram de "terroristas" do Hamas. Logo, está justificada a atual etapa do genocídio.
Embora Tel Aviv tenha uma política clara de minar a capacidade reprodutiva do povo palestino (eliminando mulheres e crianças), para Sabino, a maioria dos mortos no "conflito" com o Hamas são do sexo masculino, com idades entre 15 e 45 anos (faixa etária dos combatentes). Segundo Igor Sabino, os vários casos de homens mortos, registrados como "mulheres" e "crianças", explica o porquê de mulheres e crianças serem as principais vítimas da "guerra contra o Hamas".
Nas bastassem todas as mentiras elencadas acima, Sabino chegou ao nível de insinuar que poderosos veículos da imprensa imperialista - como CNN, BBC, Reuters, New York Times e Associated Press - cobrem a geopolítica palestina a partir de um viés "pró-Hamas", pois divulga o número de mortos no genocídio fornecido pelo grupo que domina politicamente a Faixa de Gaza.
Por mais surreal que possa parecer, Sabino afirma ser bastante grave o viés jornalístico da imprensa imperialista que (supostamente) dá mais credibilidade ao que é divulgado por um grupo terrorista, que iniciou o conflito, que ao país que busca se defender.
Por fim, o artigo termina questionando sobre o porquê de os órgãos de imprensa imperialistas acreditarem no Hamas? Ou seja, insinua que esses grupos seriam favoráveis aos palestinos e contrários ao Estado de Israel.
Como escrevi em artigo anterior, a grande imprensa brasileira é mais sionista do que seus similares europeus e estadunidenses.
Mas afirmar que a mídia internacional defende o Hamas demonstra que, por aqui, o fundo do poço jornalístico não tem fundo.