OPINIÃO

Como saber se seu padre ou pastor é golpista? - Por Pastor Zé Barbosa Jr

Um líder religioso consciente e verdadeiramente democrata deverá, necessariamente, agradecer à sua Divindade na próxima celebração o fato de não termos sido vítimas de um golpe de Estado

Como saber se seu padre ou pastor é golpista?.Padre José Eduardo e pastor Silas MalafaiaCréditos: Reprodução / Redes sociais / Lula Marques (agência PT)
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O próximo domingo (24) será um dia decisivo na vida de muitas igrejas no Brasil. É uma espécie de “pente-fino” ou “teste final” para saber se as igrejas e suas lideranças são ou não compactuadas com o golpe contra a democracia que tentou se estabelecer em nosso país, afinal há um acordo claro no texto bíblico para que cristãos, de todos os lugares, orem pelas suas “autoridades”.

Já escrevi em texto anterior a interpretação que penso caber ao texto da carta de Paulo aos Romanos no capítulo 13.1-2, que diz o seguinte: “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos.”

A palavra grega "exousia" (que é utilizada nesse texto) significa autoridade, poder, força... E é empregada, por exemplo, quando os fariseus perguntam a Jesus "Com que autoridade (exousia) você faz essas coisas?" (Marcos 11.28)

O que Paulo, provavelmente, está dizendo é que o "princípio da autoridade" é instituído por Deus (Paulo vem de um judaísmo hierárquico e usa também muitos termos militares), mas não necessariamente que AQUELE QUE está no poder é instituído por Deus, muito pelo contrário, tanto que, para Paulo, a autoridade deve ser exercida de modo digno, ou seja, o "princípio da autoridade" está acima de quem exerce a autoridade.

Partindo, então, desse princípio da autoridade posta no texto, que mais que uma “pessoa”, diz respeito ao que está ali representado é que eu digo que será fácil saber de qual lado seu padre ou pastor está, a partir deste domingo, pois esta semana ficou claro para todo o Brasil que havia um golpe tramado para matar os então eleitos presidente e vice-presidente, além de um Ministro da suprema corte deste país. O golpe não era “somente” contra Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, ainda que atentasse direta e covardemente contra a vida deles. Era a trama de um atentado contra a democracia, ao Estado de Direito e, em suma, ao povo brasileiro.

Qualquer padre ou pastor que queira valer-se, como o empresário da fé Silas Malafaia, do argumento de que “se não houve a consumação do fato, não houve crime” estará, no fundo, legitimando a tentativa de golpe e, em última análise, o próprio golpe. A não ser que o padre ou pastor não acredite mais nas palavras de Jesus, quando diz no Evangelho de Mateus que a intenção, por si só, já é o suficiente para que sejamos “culpados”. Que não adianta não “matar” fisicamente o seu próximo se, em seu coração, deseja e trama a morte dele. Isso sem contar que, no que se refere ao Estado, é, sim, crime o conjurar, o planejar e arquitetar golpe que, levado às últimas consequências, teria, no mínimo, três assassinatos. Malafaia sabe disso, mas prefere continuar na mentira, que é o seu único lugar de fala.

Um líder religioso consciente e verdadeiramente democrata deverá, necessariamente, agradecer à sua Divindade na próxima celebração o fato de não termos sido vítimas de um golpe de Estado, que ainda padece com uma frágil e recente democracia. E não só “agradecer aos céus ou à espiritualidade”, mas chamar os fiéis de sua congregação/agrupamento/igreja a um compromisso com a verdade e a democracia. Ainda que “cidadãos do Reino” (como se dizem os cristãos), também somos cidadãos e cidadãs da pátria brasileira e devemos rejeitar qualquer tentativa de traição à nossa constituição e poderes institucionais legitimamente ocupados.

Chegou a hora de saber quem é quem. Pois, como disse Jesus “Seja o vosso falar sim, sim e não, não. O que passar disso procede do mal”.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum