FASCISMO BOLSONARISTA

Bolsonaro, Braga Netto e os ratos que - ainda - querem impor uma nova Ditadura ao Brasil

"Tem que ser a rataria, ele [Bolsonaro] e a rataria”, classificou o coronel "kid preto" Reginaldo Vieira de Abreu, chefe de gabinete do general Mario Fernandes, sobre o "petit comité" golpista. Indiciamento acuou alguns desses ratos, que pressionados podem atacar

Jair Bolsonaro, Braga Netto e a "rataria" que tomou conta do poder no Brasil.Créditos: Luis Macedo Câmara dos Deputados / Marcos Corrêa PR
Escrito en OPINIÃO el

Chefe de gabinete do general Mario Fernandes, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro (PL), o coronel "kid preto" Reginaldo Vieira de Abreu reclamou, em troca de mensagens no dia 4 de dezembro de 2022, da presença de "esse pessoal acima da linha da ética" nas reuniões golpistas com Jair Bolsonaro (PL).

“Kid Preto, o presidente, ele tem que fazer uma reunião Petit comité. O pessoal ia fazer uma reunião essa semana, o comandante do exército, aí chegou Paulo Guedes, chegou o pessoal da TCU, da AGU, aí não pode, tem esse pessoal, é... Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião, tem que ser Petit comité, pô", disparou o militar, que em outra ocasião afirmou "quatro linhas [da Constituição] é o caralho", sobre expressão frequentemente utilizada por Bolsonaro.

Em seguida, Velame como era conhecido - jargão usado para descrever o paraquedas no meio militar - classificou com um nome simbólico quem deveria ser convocado para o "petit comité" em que se discutiria, entre outros temas, o assassinato do presidente e vice eleitos, Lula e Geraldo Alckmin (PSB), e do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes.

 

"Tem que ser a rataria, ele [Bolsonaro] e a rataria”, afirmou.

 

O dicionário Michaelis define o termo como "ratada, ninhada de ratos, grande número de ratos".

Troca de mensagens entre o coronel Abreu e o chefe, general Mario Fernandes (Reprodução / PF)

Foi com esses ratos que Bolsonaro chegou ao poder, corroeu todas as entranhas do poder e tramou, com requintes de crueldade, um golpe militar, assim como são 25 dos 37 indiciados pela Polícia Federal na organização criminosa que planejou a instalação da Ditadura da Rataria, sob o comando do "capitão" que tem um longo histórico golpista em seu currículo, incluindo dentro do próprio Exército.

Entre os indiciados há oito generais, seis tenentes-coronéis, sete coronéis, um capitão, um subtenente e dois majores. Todos eles com acesso ao comando militar e com salários acima dos dois dígitos - assim como Bolsonaro, que vai receber R$ 100 mil em salários e aposentadorias em recursos públicos a partir do ano que vem, mesmo dentro de uma possível prisão.

O rato graúdo

Além de Bolsonaro, que nutria um sentimento de vingança ao se declarar rotineiramente "comandante em chefe das Forças Armadas" durante a Presidência, o general Walter Braga Netto é um dos militares de alta patente que merecem um aprofundamento das investigações, quiçá em um novo inquérito.

Vice na chapa de Bolsonaro após passar pelo comando do Exército, Casa Civil e Defesa nos quatro anos do ex-governo, Braga Netto é o elo que liga o golpismo histórico das Forças Armadas à tentativa frustrada que ocorreu em 2022.

Formado na turma de 1978 da Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN), um ano depois de Bolsonaro, Braga Netto deixou suas impressões digitais em praticamente todos os núcleos do comando golpista. 

Mas sua sanha pelo poder foi despertada no golpe anterior, contra Dilma Rousseff (PT), quando foi alçado por Michel Temer (MDB) para comandar o gabinete de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

Instalado um mês antes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 16 de fevereiro de 2018, o gabinete de intervenção virou um antro de suspeitas de corrupção pelas compras sem licitação e alçou militares para os alicerces da milícia política. 

Responsável por um contrato suspeito de compras de armas Glock no valor de R$ 46 milhões durante a gestão das finanças da intervenção, o general de divisão Laélio Soares de Andrade foi para a chefia de gabinete da presidência do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), onde atuou Domingos Brazão, preso como mandante do assassinato de Marielle e Anderson Gomes.

Etchegoyen e Villas Boas

Já para Braga Netto, o comando da intervenção no Rio serviu para selar a aproximação com os golpistas históricos da caserna, como Sergio Etchegoyen, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e homem forte do governo Temer, e Eduardo Villas Bôas, que teria avalizado sua indicação à empreitada em terras cariocas.

Com o prestígio do cargo, Braga Netto começou a desfilar nas fileiras do Alto Comando das Forças e cooptar, por dentro, novos membros ao PMB, como é conhecido o Partido Militar Brasileiro, que não tem personalidade jurídica formada, mas atua especialmente dentro dos clubes militares, saudosistas da Ditadura.

Mesmo com várias suspeitas de envolvimento do clã Bolsonaro com a milícia fluminense e outros grupos criminosos, Braga Netto deixou a intervenção no Rio em janeiro de 2019 e foi alçado diretamente para o comando do Estado-Maior do Exército pelo "capitão" que chegara à Presidência.

Um ano depois, entrou para a reserva para assumir a Casa Civil de Bolsonaro, passou pelo Ministério da Defesa, até escantear o colega, general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) - ex-presidente do Clube Militar do Rio de Janeiro, um antro golpista -, e ganhar o posto de candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, já devidamente nos quadros do PL, partido do qual é hoje secretário nacional de Relações Institucionais.

Braga Netto ganhou a vice em uma disputa obscura, que agora começa a vir à luz. Além de ser um dos principais articuladores do golpe no governo, o general atuou dentro do comando militar visando dar um "golpe dentro do golpe", como revelou Cleber Lourenço nesta Fórum.

O general, no entanto, não agia sozinho. O vice de Bolsonaro teria na empreitada apoio da linhagem golpista histórica da cúpula militar.

Nomes que ficaram fora dos 37 denunciados na organização criminosa golpista e que seguem corroendo as entranhas da democracia, seja no Congresso, nas Forças Armadas, na própria Polícia Federal e até mesmo na cúpula do Judiciário e do Ministério Público.

O relatório da Polícia Federal não acaba com a rataria levada às instituições e ao poder por Bolsonaro. Apenas acua alguns ratos. Que acuados podem atacar.
 

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.