No Brasil, o volume médio mensal de transferências via Pix para sites de jogos é de R$ 21 bilhões, segundo uma análise técnica feita pelo Banco Central, levando em conta apenas apostadores e bets que o BC conseguiu identificar. Um montante gigantesco de dinheiro.
Para além do valor monetário, essa febre das apostas diz bastante sobre o que somos como sociedade.
Os valores da educação e do trabalho como caminho de oportunidade para uma vida digna, por exemplo, parecem estar distantes do horizonte dos brasileiros. Há descrédito com as políticas públicas de promoção social. Prevalece a lógica do reinado do "cada um por si”, essência do capitalismo. Muitos acreditam que só conseguirão progredir na vida individualmente, num "golpe de sorte".
Os mais pobres parecem ser os mais suscetíveis a essa tese, e não hesitam em fazer a sua "fezinha": pessoas atendidas pelo Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas online por meio de pagamentos com Pix, apenas em agosto. Ou seja, um programa que visa a diminuir o impacto da pobreza, pode ter seus efeitos sociais comprometidos pela jogatina, um meio que surge como um caminho mais fácil para mudar de vida, na percepção dos mais vulneráveis.
Todo vício é, de alguma forma, uma degeneração da virtude: é natural o desejo de prosperar, de "subir na vida". Mas jogar tanto em apostas, ficar "prisioneiro" das tais bets, com sua propaganda avassaladora, é enredar-se na ilusão.
A corrupção – cupim da República – claro, está presente nesse universo das bets. Os sinais do uso de dessas empresas para a lavagem de dinheiro é evidente, e a PF tem averiguado algumas delas. Estão aí sendo investigados os "acertos" de jogadores de futebol profissional para produzir resultados e favorecer amigos e parentes.
O ministro Haddad disse nesta quinta-feira (3) que até 2.000 bets sairão do ar no próximo dia 11. São sites irregulares, operados por estrangeiros, sem representação legal no país, que sugam dinheiro de brasileiros, principalmente dos mais necessitados.
Os poderes da República precisam criar regras mais rigorosas para esse "mercado" doentio das operadoras, onde apenas os seus donos saem ganhando.
O Brasil não pode se tornar um imenso cassino virtual.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.