Reza a lenda que evangélicos progressistas não lotam uma Kombi. Exagero. Todavia, há de se admitir, o grupo evangélico que se identifica com as pautas da esquerda são minoria. Os que se alinham com as causas progressistas e que ainda frequentam igrejas estão cancelados (o fundamentalismo é craque em estigmatizar seus dissidentes: herege, apóstata, liberal, comunista, abortista).
Há de se admitir que movimento evangélico e progressismo quase não dão liga; parecem água e óleo. E uma questão precisa ser considerada: os “desigrejados”, isto é, evangélicos que simplesmente pararam de frequentar igrejas são em sua grande maioria progressistas e eles, os “desigrejados”, crescem todos os anos; ouso pensar que já formam uma população maior do que a dos membros ativos no movimento.
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Como os progressistas são numericamente menores, políticos de esquerda se hipnotizam pela grandiosidade dos auditórios, marchas e conferências promovidos e convocados por pastores, apóstolos e bispos.
Os acenos de diálogo da esquerda na direção dos evangélicos se concentram na ilusão de que eles “dão votos”. Ledo engano. Se um anjo descesse do céu e instruísse os caudilhos das grandes denominações a aderir pautas progressistas (direitos humanos, justiça social, racismo, misoginia, lgbtfobia, preservação de biomas, etc.) seria de todo rechaçado.
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Por que tentar dialogar com um grupo obturado por leituras literais da Bíblia, pela teologia da prosperidade, pelo pessimismo antropológico e por soluções mágicas para as dificuldades estruturais do país?
Afirmo sem medo de parecer radical: enquanto partidos de esquerda desprezarem a lotação da Kombi e se encantarem com a Paulista entupida de crentes, não só perderá eleições como empurrará o país para o temido evangelistão.
*Ricardo Gondim é teólogo e pastor da Igreja Betesda, em São Paulo
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.