WASHINGTON OLIVETTO

Washington Olivetto, o controverso “Pelé da publicidade”

Ele era tão bom que foi capaz de transformar o intervalo, aquele momento chato em que a gente levanta pra tomar café ou fazer xixi, em arte

Washington Oivetto.Créditos: Reprodução washingtinolivetto.com.br
Escrito en OPINIÃO el

Ele era tão bom, mas tão bom, que foi capaz de transformar o intervalo, aquele momento chato em que a gente levanta pra tomar café ou fazer xixi, em arte. A publicidade brasileira – e talvez a mundial – é uma antes e outra depois de Washington Olivetto. Muitas vezes, seus filmes publicitários eram melhores, mais divertidos e humilhantemente mais bem feitos do que o próprio programa que se estava assistindo.

Olivetto se foi. E com ele uma era de ouro da propaganda brasileira. Falar sobre o publicitário e seu talento é chover no molhado. Personagem controverso e extremamente vaidoso, ele próprio chegou a dizer recentemente que talvez o mundo não queira mais a publicidade que ele sabe fazer.

O fato é que, com seus filmes, invadiu os corações e mentes do povo brasileiro. O slogan ‘O primeiro Valisère a gente nunca esquece’, por exemplo, gerou um sem fim de paródias. O próprio é quem conta:

"Ele é a peça brasileira que mais ganhou prêmios no Brasil e no exterior. Ganhou todos os prêmios do mundo. E gerou uma coisa muito curiosa: a partir da frase ‘O primeiro Valisère a gente nunca esquece’, vieram uma série de paródias. O Senna disse que a primeira Ferrari a gente nunca esquece, o Pelé disse que a primeira Copa a gente nunca esquece... Se jogarmos no Google ‘o primeiro a gente nunca esquece’, aparecerão 1.180.000 citações que parodiam a propaganda em vários casos", orgulha-se Washington.

E de fato a sua agência, a W/Brasil, objeto da excelente biografia “Na toca dos leões: a história da W/Brasil”, do jornalista Fernando Moraes, foi uma das mais premiadas do mundo. Recebeu quase mil prêmios, tais como Leões no Festival de Cannes, CCSP, Clio Awards, e muito mais. Somente em Cannes foram mais de 50 prêmios distribuídos entre as categorias ouro, prata, bronze e filme.

O 3 em 1  do presidente

Olivetto era rápido no gatilho. Durante a campanha eleitoral de 1989, o então candidato Fernando Collor usou a suposta compra de um som modelo 3 em 1 pelo seu oponente, Luiz Inácio Lula da Silva, e falou durante um debate:

“Eu, por exemplo, não tenho um sistema de som tão bom quanto o meu adversário comprou.”

No dia seguinte, a agência de Olivetto publicou o seguinte anúncio:

“Collor, já que no debate você falou que não tem dinheiro para comprar um som igual do Lula, venha à Fotoptica. Temos um 3 em 1 tão baratinho que até você consegue comprar…”

Artigo constrangedor

Em 2022, Olivetto publicou no jornal O Globo o artigo “O Rio de Janeiro continua lindo”, no Globo, em que descreve um passeio de seu filho Theo, “aprovado para estudar cinema na cidade de Orange, pertinho de Los Angeles”, com os amigos durante uma semana pela capital carioca.

Internautas, entre eles escritores e jornalistas, consideraram o texto, entre outros adjetivos, como “constrangedor”, “elitista”, “paternalista”, “equivocado” e “superficial”.

Olivetto conta que “os meninos foram recebidos pela Lucia Gomyde, que foi babá do Theo, virou parte da família e hoje é quem cuida das nossas coisas no Rio de Janeiro”. A partir de então, o texto desfia uma série de programas idílicos que começam logo após os rapazes devorarem “as deliciosas empadinhas de camarão, que pedi pra ela encomendar no Caranguejo, de Copacabana”.

O deslize não ofuscou a imagem e o reconhecimento de Olivetto. Campanhas como a do garoto Bombril, estrelada pelo ator Carlos Moreno – o garoto-propaganda mais longevo da história da publicidade nacional, habitam o imaginário de todos. São inúmeros os exemplos de sua genialidade irrefutável.

Emplacou dois comerciais na lista dos cem maiores de todos os tempos publicada em 2000 por Berneci Kanner. Um deles é o da Valisère e o ouro o controverso “Hitler”, feito para o jornal Folha de S.Paulo.

Olivetto foi, sem sombra de dúvidas, o Pelé da Publicidade. Ou Pelé teria sido o Olivetto do futebol, não fosse o esporte bretão tão popular por essas plagas. Com ele se vai uma era e fica, ao menos por enquanto, um mundo um tanto mais pobre de ideias.