Muito se pergunta sobre a tal polarização. Existe? Seria prejudicial à política? Terá alguma influência nas eleições municipais deste ano? As respostas exigem História. O que fez o nazifascismo, culminando com a devastadora Segunda Guerra Mundial, não deixa quaisquer dúvidas. O processo de desnazificação que se procedeu a partir da vitória dos democratas, capitalistas e comunistas, não foi suficiente. Assemelhou-se ao resultado do acordo anistiando também os que cometeram crimes hediondos, tortura e assassinatos, utilizando a máquina do Estado, tomada pelo golpe de 1964. E, com a vitória do capitalismo ao final da Guerra Fria, a globalização e o neoliberalismo conseguiram, em trinta anos, aumentar vergonhosamente a miséria, a fome e a desigualdade social. Sobre o combate à pandemia, não se precisa falar muito, 700 mil mortos. Com tal conjunto de fatores, a ressurreição da extrema direita ocorreu não apenas no nosso país. Assim, a polarização existente não é entre esquerda e direita, e sim entre os democratas, de todos os matizes, conservadores ou liberais, combatendo o fascismo, o autoritarismo e a violência.
Com ódio e intolerância, fixando-se em “mitos, chefes, líderes” ou afins, os fascistas atuam contando mentiras e produzindo farsas. Apresentam-se ora “anarcocapitalistas”, ora projetando propostas “ultraneoliberais”, sendo, na realidade, fascistas, almejando a destruição do Estado democrático para a implantação de um poder autoritário. Pintam-se como conservadores ou não nas questões comportamentais, de acordo com a plateia, e especulam na grande mentira que se denomina “meritocracia”. Ora, sem condições de dignidade, saúde, educação, moradia e tudo o mais, não existem méritos.
Faço questão de insistir: o fascismo se utiliza de três pregações na seguinte ordem: fomentam a ignorância, como se conhecimento demais causasse graves problemas, tensões e revoltas; apostam no medo, especialmente o temor daquilo que não conhecemos; e, por fim, geram o ódio, ódio mortal contra o que causa medo. Daí para a valentia dos covardes, tipo “quinze baterem em um” ou “quem tem revólver manda”, é um passo rápido, culminando, por exemplo, com as arruaças golpistas de 8 de janeiro do ano passado.
Qual será a influência de tal polarização nas eleições municipais? Dependerá dos candidatos que se apresentam. Quando um deles abraça a violência e a intolerância, insiste na negativa da ciência e “jura” que não existiu o golpe fracassado no dia 8 de janeiro, certamente ocorrerá a polarização; entre este, que representa o fascismo, e todos os outros, defensores da democracia. Onde o fascismo estiver derrotado, sem candidato ou devidamente alijado no primeiro turno, então sim, teremos debates sobre projetos, políticas sociais mais ou menos inclusivas, taxas e impostos e suas finalidades.
A polarização não acontece, como pintam alguns, entre esquerda e direita, entre o atual governo e o anterior desgoverno, e sim entre a Democracia e o fascismo que se apresenta em todo o mundo. Nas eleições municipais, ocorrerá algum efeito da polarização se existir algum candidato claramente imbuído dos ditames fascistas, ódio e intolerância, negando a ciência e a história. Nestes casos, a polarização se dará entre os democratas- todos – e o fascismo. Entre os democratas, sim, se fará política no combate apenas com ideias e propostas.
*Sergio Pardal Freudenthal é advogado e professor de Direito Previdenciário.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.