Os implacáveis “ataques de carne” da Rússia estão desgastando as forças ucranianas, em menor número e menos armadas
Esta foi a manchete da rede estadunidense CNN há 12 horas -- sobre a batalha pela cidade ucraniana de Avdiivka.
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O nome é difícil de dizer, mas o futuro da guerra entre Rússia e Ucrânia pode depender deste lugar que já teve mais de 30 mil habitantes mas é hoje quase deserto, tão fantasmagórico quanto Stalingrado no auge do cerco nazista.
Em 24 de fevereiro deste ano, a guerra iniciada pela invasão ilegal da Rússia à Ucrânia completa dois anos.
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Apesar de ter violado a lei internacional e a soberania de um país, Moscou argumenta que o fez em resposta ao crescente cerco exercido pelos Estados Unidos a seu território usando a OTAN e os soldados ucranianos como bucha de canhão.
O resultado da batalha de Avdiivka é tão importante que a Ucrânia tem lançado drones tentando atingir objetivos militares a mais de mil quilômetros, em São Petersburgo, sem qualquer consequência para o futuro do campo de batalha.
É uma forma de se preparar para a eventual queda de Avdiivka, que ainda está longe de ser uma certeza.
STALINGRADO
O cerco a Stalingrado, hoje Volvogrado, durante a Segunda Guerra Mundial, durou 872 dias.
Uma vitória de Hitler na cidade facilitaria para os alemães a conquista de toda a região do Cáucaso, com seus poços de petróleo e produção de cereais.
A resistência russa em Stalingrado é vista hoje como essencial para a eventual derrota dos nazistas.
Em 30 de julho de 2014, durante a guerra civil da Ucrânia, as forças de Kiev tomaram Avdiivka do controle de separatistas pró-Rússia.
Muito embora tenha havido um hiato nas escaramuças militares, pode se dizer que a disputa por Avdiivka vai completar dez anos em breve.
O presidente da Ucrânia, que chegou a visitar a frente de batalha no ano passado, admitiu que é um confronto decisivo:
A Rússia está perdendo homens e equipamento perto de Avdiivka mais rapidamente e em maior escala do que, por exemplo, perto de Bakhmut. Resistir à pressão deles é extremamente difícil... Quanto mais forças russas forem destruídas perto de Avdiivka, pior será a situação geral para o inimigo e o curso geral desta guerra
Moscou não fornece informações sobre as batalhas.
Meios pró-Ucrânia falam em centenas de corpos de soldados russos abandonados no gelo, em temperaturas negativas.
Alguns dizem que os russos já perderam.
É impossível confirmar informações sobre o conflito de forma independente, uma vez que as máquinas de propaganda atuam 24 horas por dia.
O blogueiro militar russo Rybar, embora tenha lado, é citado até pela mídia ocidental como confiável.
Ele tem um canal no Telegram com mais de um milhão de seguidores.
As informações dadas por Rybar em geral são confirmadas dias depois por autoridades da Rússia e mesmo da Ucrânia.
OFENSIVA DE INVERNO
Depois de uma contraofensiva da Ucrânia que não obteve grandes resultados, os russos lançaram sua própria ofensiva de inverno no final do ano passado.
Ela vem registrando modestos avanços desde então.
Em Avdiivka, a guerra é metro a metro.
As forças russas avançaram em V e criaram um bolsão onde eventualmente podem cercar tropas da Ucrânia, conquistando Avdiivka e livrando a maior cidade sob controle russo, Donetsk, do alcance da artilharia ucraniana.
O blogueiro Rybar diz que os soldados da Ucrânia estão oferecendo uma resistência feroz, mas que os russos conquistaram a base militar que existia ao sul do que hoje é uma cidade-fantasma.
Avdiivka, com pouco mais de mil habitantes, refugiados em sótãos e abrigos subterrâneos, é uma fortaleza onde os ucranianos construíram trincheiras, barreiras de concreto e controlam a fábrica de coque e produtos químicos, que está inoperante mas serve de esconderijo.
A Rússia parece disposta a torrar recursos na região.
Numa batalha de seis meses, os russos finalmente conquistaram Bakmuth em 2023. A cidade fica 100 quilômetros ao norte de Avdiivka. O custo estimado foi de 100 mil vidas, entre soldados e civis dos dois lados.
A manchete da CNN há 12 horas, de que Moscou está fazendo "ataques de carne", ou seja, de levas de infantaria, tem tudo para ser um exagero.
Como na guerra da Ucrânia os drones tem papel destacado, tanto na espionagem quanto na ação de camicazes, os dois lados evitam grandes concentrações de tropas, que seriam óbvio alvo do inimigo.
Parece certo, no entanto, que Moscou está disposta a bancar perdas superiores à média em Avdiivka, uma vez que uma vitória nesta batalha consolidaria as duas repúblicas que Vladimir Putin promoveu como independentes da Ucrânia: a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk.
Com as regiões de Zaporizhia e Kherson, elas formam uma "ponte de terra" que garante o controle russo sobre a Crimeia, o mar de Azov e, pelo menos parcialmente, o Mar Negro.