Avdiivka

Stalingrado em 2024: mídia se cala sobre possível derrota da Ucrânia

Zelensky usa drones para desviar o foco da batalha decisiva

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Completei 40 anos de trabalho como repórter de TV em 2020 e meio século de Jornalismo em 2022. Fui correspondente em Nova York por quase duas décadas, da TV Manchete, SBT e TV Globo. Colaborei com as redes CNN e CBC, dos Estados Unidos e Canadá. Colaborei com a Folha de S. Paulo e a rádio Jovem Pan. Fui o primeiro repórter a fazer uma entrevista improvisada com um líder da União Soviética, em Moscou, em 1988, e a conversa com Mikhail Gorbatchov no Kremlin foi notícia nas redes norte-americanas ABC, CBS e NBC, saiu no diário soviético Pravda e, apesar de transmitida pela TV Manchete, foi noticiada no Jornal Nacional, da concorrente TV Globo. Acompanhei de perto a Queda do Muro de Berlim, em 1989. Cobri os encontros dos líderes Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov que levaram ao fim da Guerra Fria -- na Islândia, na URSS e nos EUA. Cobri o prelúdio das invasões militares do Panamá e do Iraque. Participei de coberturas de Copas do Mundo e Olimpíadas (Itália, França, Estados Unidos, Brasil) e fiz 100 transmissões ao vivo de provas de automobilismo na Fórmula Indy. Dirigi 52 edições do Programa Nova África, da produtora Baboon Filmes, exibido na TV Brasil. Ao longo da carreira, passei por Quênia, Moçambique, África do Sul, Botsuana, Namíbia, Gana, Serra Leoa, Guiné Bissau, Cabo Verde e Marrocos -- no total, trabalhei em mais de 50 países de cinco continentes. No início dos anos 2000, em Nova York, criei o site Viomundo, do qual me afastei no final de 2021 para me dedicar a outros projetos. Sou co-autor de vários livros, dentre os quais se destaca O Lado Sujo do Futebol, finalista do Prêmio Jabuti. No Brasil, atuei no Globo Repórter, especialmente em viagens pela Amazônia, ganhei o Prêmio Embratel de 2005, investigando o uso fraudulento de tratamentos com células tronco, em série que foi ao ar no Jornal Nacional e o Prêmio Esso de Telejornalismo, em 2013, com a série As Crianças e a Tortura, exibida no Jornal da Record. Recebi dias menções honrosas no Prêmio Vladimir Herzog. Fui finalista do Prêmio Esso com o documentário "Luta na Terra de Makunaima", da TV Cultura, e do Prêmio Gabriel Garcia Marquez, com série investigativa sobre médicos que se viciam com drogas de hospitais.
Stalingrado em 2024: mídia se cala sobre possível derrota da Ucrânia
Destruição total. Stalingrado e Avdiivka, batalhas decisivas em duas guerras. Wikipedia

Os implacáveis “ataques de carne” da Rússia estão desgastando as forças ucranianas, em menor número e menos armadas

Esta foi a manchete da rede estadunidense CNN há 12 horas -- sobre a batalha pela cidade ucraniana de Avdiivka.

O nome é difícil de dizer, mas o futuro da guerra entre Rússia e Ucrânia pode depender deste lugar que já teve mais de 30 mil habitantes mas é hoje quase deserto, tão fantasmagórico quanto Stalingrado no auge do cerco nazista.

Em 24 de fevereiro deste ano, a guerra iniciada pela invasão ilegal da Rússia à Ucrânia completa dois anos.

Apesar de ter violado a lei internacional e a soberania de um país, Moscou argumenta que o fez em resposta ao crescente cerco exercido pelos Estados Unidos a seu território usando a OTAN e os soldados ucranianos como bucha de canhão.

O resultado da batalha de Avdiivka é tão importante que a Ucrânia tem lançado drones tentando atingir objetivos militares a mais de mil quilômetros, em São Petersburgo, sem qualquer consequência para o futuro do campo de batalha.

É uma forma de se preparar para a eventual queda de Avdiivka, que ainda está longe de ser uma certeza.

STALINGRADO

O cerco a Stalingrado, hoje Volvogrado, durante a Segunda Guerra Mundial, durou 872 dias.

Uma vitória de Hitler na cidade facilitaria para os alemães a conquista de toda a região do Cáucaso, com seus poços de petróleo e produção de cereais.

A resistência russa em Stalingrado é vista hoje como essencial para a eventual derrota dos nazistas.

Em 30 de julho de 2014, durante a guerra civil da Ucrânia, as forças de Kiev tomaram Avdiivka do controle de separatistas pró-Rússia.

Muito embora tenha havido um hiato nas escaramuças militares, pode se dizer que a disputa por Avdiivka vai completar dez anos em breve.

O presidente da Ucrânia, que chegou a visitar a frente de batalha no ano passado, admitiu que é um confronto decisivo:

A Rússia está perdendo homens e equipamento perto de Avdiivka mais rapidamente e em maior escala do que, por exemplo, perto de Bakhmut. Resistir à pressão deles é extremamente difícil... Quanto mais forças russas forem destruídas perto de Avdiivka, pior será a situação geral para o inimigo e o curso geral desta guerra

Moscou não fornece informações sobre as batalhas.

Meios pró-Ucrânia falam em centenas de corpos de soldados russos abandonados no gelo, em temperaturas negativas.

Alguns dizem que os russos já perderam.

É impossível confirmar informações sobre o conflito de forma independente, uma vez que as máquinas de propaganda atuam 24 horas por dia.

O blogueiro militar russo Rybar, embora tenha lado, é citado até pela mídia ocidental como confiável.

Ele tem um canal no Telegram com mais de um milhão de seguidores.

As informações dadas por Rybar em geral são confirmadas dias depois por autoridades da Rússia e mesmo da Ucrânia.

OFENSIVA DE INVERNO

Depois de uma contraofensiva da Ucrânia que não obteve grandes resultados, os russos lançaram sua própria ofensiva de inverno no final do ano passado.

Ela vem registrando modestos avanços desde então.

Em Avdiivka, a guerra é metro a metro.

As forças russas avançaram em V e criaram um bolsão onde eventualmente podem cercar tropas da Ucrânia, conquistando Avdiivka e livrando a maior cidade sob controle russo, Donetsk, do alcance da artilharia ucraniana.

O blogueiro Rybar diz que os soldados da Ucrânia estão oferecendo uma resistência feroz, mas que os russos conquistaram a base militar que existia ao sul do que hoje é uma cidade-fantasma.

Avdiivka, com pouco mais de mil habitantes, refugiados em sótãos e abrigos subterrâneos, é uma fortaleza onde os ucranianos construíram trincheiras, barreiras de concreto e controlam a fábrica de coque e produtos químicos, que está inoperante mas serve de esconderijo.

A Rússia parece disposta a torrar recursos na região.

Numa batalha de seis meses, os russos finalmente conquistaram Bakmuth em 2023. A cidade fica 100 quilômetros ao norte de Avdiivka. O custo estimado foi de 100 mil vidas, entre soldados e civis dos dois lados.

A manchete da CNN há 12 horas, de que Moscou está fazendo "ataques de carne", ou seja, de levas de infantaria, tem tudo para ser um exagero.

Como na guerra da Ucrânia os drones tem papel destacado, tanto na espionagem quanto na ação de camicazes, os dois lados evitam grandes concentrações de tropas, que seriam óbvio alvo do inimigo.

Parece certo, no entanto, que Moscou está disposta a bancar perdas superiores à média em Avdiivka, uma vez que uma vitória nesta batalha consolidaria as duas repúblicas que Vladimir Putin promoveu como independentes da Ucrânia: a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk.

Com as regiões de Zaporizhia e Kherson, elas formam uma "ponte de terra" que garante o controle russo sobre a Crimeia, o mar de Azov e, pelo menos parcialmente, o Mar Negro.

Dentre os objetivos da Rússia estão consolidar as repúblicas de Donetsk e Lugansk e o controle sobre o mar de Azov

 

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