MILICOS EM BAIXA

Confiança nos militares despenca no país, por Altamiro Borges

Apesar da participação ativa de oficiais nas orquestrações golpistas, o que mais atinge a imagem dos militares em pesquisa Datafolha são as várias denúncias de corrupção

Bolsonaro em cerimônia na Acadenia Militar das Agulhas Negras em agosto de 2023.Créditos: Eduardo Anizelli/Folhapress
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Neste final de semana, o Datafolha divulgou mais uma pesquisa que confirma a drástica perda de credibilidade dos militares no Brasil. O índice de confiança é o pior desde 2017, quando o instituto iniciou a série histórica. De acordo com a sondagem, 44% da população confia pouco e 21% não acredita nada nas Forças Armadas – totalizando 65% de desconfiança. Já 34% ainda confiam na instituição e 1% não soube responder. Em 2019, no primeiro ano do covil fascista de Jair Bolsonaro, 49% dos brasileiros botavam fé nos milicos.

A acentuada queda tem relação direta com a gestão criminosa do “capetão”. Para 61% dos entrevistados, os oficiais estiveram envolvidos em mutretas durante o governo de Jair Bolsonaro. Apenas 25% não acreditam nesta hipótese e 14% dizem não saber. Como aponta o colunista Igor Gielow na Folha, “os dados da mais recente pesquisa do Datafolha ajudam a delimitar o tamanho do estrago na imagem dos militares brasileiros devido à sucessão de casos sob investigação em que fardados ligados ao governo surgem com destaque”.

Apesar da participação ativa de oficiais nas orquestrações golpistas – que culminaram com as ações terroristas do 8 de janeiro em Brasília –, o que mais atinge a imagem dos militares na pesquisa são as várias denúncias de corrupção no covil fascista. “Do ponto de vista de visibilidade e percepção popular, o caso das joias sauditas recebidas como presente pelo ex-presidente chama talvez mais atenção. Aqui, a figura do tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, é central”, acrescenta o jornalista do UOL.

Bolsonaristas frustrados com os milicos

A perda vertiginosa de confiança nos milicos nativos já havia sido registrada na pesquisa da Quaest divulgada em 21 de agosto. Na ocasião, a revista CartaCapital analisou os resultados. “Ao todo, em 2023, o volume de brasileiros que dizem confiar muito nos militares caiu de 43% para 33%... Parte daqueles que confiavam muito nos fardados passou ao grupo que diz confiar pouco nas Forças. A taxa, neste caso, saiu de 36% para 41%. No mesmo período, saltou de 18% para 23% o grupo de brasileiros que não confia nos militares”.

“A redução, importante registrar, ocorre logo após as revelações do envolvimento de militares em grandes escândalos de corrupção no governo anterior, além da participação de parte dos fardados na frustrada tentativa de golpe de Estado no 8 de janeiro”. O que chamou a atenção da CartaCapital na sondagem é que “os dados do levantamento revelam que a redução da confiança nos militares é ainda maior entre os bolsonaristas. O grupo que dizia confiar muito nas Forças Armadas entre os eleitores do ex-presidente saiu de 61% em dezembro de 2022, passando para 40% nesta pesquisa”.

“A queda de confiança mais significativa se deu entre eleitores de Bolsonaro, o que sugere, na minha avaliação, algum tipo de frustração sobre alguma expectativa que havia entre esse segmento”, opinou Felipe Nunes, fundador da Quaest, nas suas redes digitais.