BARBÁRIE

A violência misógina fantasiada de tradição esportiva na Medicina – Por Monica Benicio

Nossa luta não terá progresso significativo enquanto o pacto da masculinidade não for rompido

Imagem Ilustrativa.Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil
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A misoginia não está somente na violência física contra uma mulher. Ela está também na naturalização simbólica da violência, na cultura do estupro, que faz com que dezenas de homens se masturbando em público possa ser normalizado e considerado uma tradição acadêmica em uma faculdade de Medicina.

E veja bem, aqui não estamos falando só de igualdade de direitos porque tem gente falando por aí que as mulheres da torcida rival também mostraram a bunda. Eu nem vou dizer o quanto acho tosco usar esse argumento como defesa. Até porque o princípio da justiça tem que levar em conta o contexto social. Sabemos o quanto as faculdades de Medicina são historicamente elitistas e racistas em todo o país e isso precisa mudar. Mas hoje quero me atentar ao episódio em si.

A gente está falando de uma cena dessas num país em que mais de 30 milhões de mulheres foram assediadas sexualmente no último ano, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Onde explodem, a todo momento, denúncias de médicos homens que se aproveitam de situações de extrema vulnerabilidade de pacientes para estuprá-las. De um lugar em que, em apenas um ano (2022), 75 mil estupros foram registrados. Uma média de 205 mulheres violadas por dia. Esses dados evidenciam a dura realidade das mulheres no Brasil e torna a cena da masturbação coletiva ainda mais violenta e perversa. É uma chacota machista ao que vivenciamos nesse país. O patriarcado protege os homens. E se eles forem brancos e ricos, a impunidade é certa.

A assustadora naturalização da misoginia, da violência contra a mulher e da cultura masculina do estupro tem se agravado nos últimos anos e nos levado para um buraco grotesco, uma pintura vil, perversa e atrasada. É preciso dizer: a violência é uma prática masculina de supremacia. Que sejam todos punidos e que a universidade seja responsabilizada por ser conivente com um comportamento estrutural que viola e coloca mulheres em risco. Não devemos ter nenhuma tolerância. As mulheres brasileiras permanecem sobrecarregadas em dinâmicas de trabalho e cuidado exaustivo, enquanto os homens seguem protagonizando cenas de barbárie.

O nojo e a raiva que me dão vendo isso é porque não se trata de apenas mais um absurdo de gente tacanha, elitista e sem noção da realidade. Mas de uma violência perversa em um contexto marcado pela misoginia, em um ambiente que deveria ser de cuidado, acolhimento e confiança, como um consultório médico. Nossa luta não terá progresso significativo enquanto o pacto da masculinidade não for rompido.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.