CANGAÇO

Cangaço Novo é eletrizante da trama à trilha, com regravações de Fagner e Chico Science

Com trilha, atores e ambientação originais, série é um banho de lugar de fala nordestino

Cena de Cangaço Novo.Créditos: Divulgação
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A série “Cangaço Novo”, produção da Prime Vídeo, é daquelas que prende o espectador desde seus instantes iniciais, com cenas de ação raramente vistas em produções brasileiras e atores que roubam a cena. O trio central da trama é ótimo. Ubaldo Vaqueiro (Allan Souza Lima), Dinorah (Alice Carvalho) e Dilvânia (Thainá Duarte) enchem a tela.

A história do herói às avessas, que, assim como “O Cobrador”, de Rubem Fonseca, se revolta e resolve tomar à bala tudo o que sempre lhe faltou, abusa da possibilidade de confundir o público. De quebra, sem perdoar nada e nem ninguém dentro do jogo político tradicional, a série traz uma espécie de Bolsonaro sertanejo, com direito a motociata e gesto de arminha.

Como pano de fundo, mas disputando a atenção com o belo roteiro e com os protagonistas, a trilha sonora é feita predominantemente por jovens valores da região Nordeste. Traz uma linda releitura para “Espumas ao Vento”, de Accioly Neto, sucesso de Fagner, na voz da atriz Alice Carvalho. Além dela, uma regravação do clássico “Da lama ao Caos”, feita com exclusividade para a trilha pela própria Nação Zumbi.

A trilha original foi feita por Beto Villares, Érico Theobaldo & Submarino Fantástico, um coletivo formado pelos músicos Otavio Carvalho, Kezo Nogueira, Ingo André e Cauê Gas, que ainda conta com a participação de Siba e Allen Alencar.

A trilha é repleta de composições originais que foram gravadas exclusivamente para a série por Aíla&Jader, Getúlio Abelha, Daniel Groove, Rachel Reis e Beto Villares.

Rachel Reis é responsável pela faixa “Caju”, Daniel Groove interpreta “Volante da Maldade”, Getúlio Abelha canta “Ilusão” e Aíla & Jader entoam “me Liga”.

O resultado é eletrizante da trama à trilha, do roteiro à cenografia e figurinos. Tudo remete a um sertão real e contemporâneo, sem folclorização nem falsos sotaques. O elenco foi escolhido entre mais de 2 mil pessoas, todas nascidas no Nordeste brasileiro, e depois passou por treinamento conduzido pela preparadora Fátima Toledo.

Com direção de Aly Muritiba (O Caso Evandro, Deserto Particular) e Fábio Mendonça (Vale dos Esquecidos, O Doutrinador), e história criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, “Cangaço Novo” foi totalmente filmado entre o Sertão da Paraíba e o Rio Grande do Norte.

O resultado final é um banho de Lugar de Fala. O sertão contemporâneo precedido por “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho, se aprofunda em “Cangaço Novo” em suas cores, sotaques e sons graças ao formato mais longo. A minissérie tem oito episódios e, quando acaba, o espectador vai imediatamente procurar saber quando vem, e se vem, a segunda temporada.

Enquanto isso, sobram duas alternativas. Assistir novamente e ouvir a trilha, que já está disponível nas plataformas digitais.