OPINIÃO

A controversa mudança de postura da Direita brasileira que agora defende quem viola a Lei

Depois do julgamento que tornou Bolsonaro inelegível essa situação escancarou uma face obscura daqueles que outrora cunharam os termos “Bandidolatria e democídio”

Jair Bolsonaro.Créditos: YouTube/Reprodução
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É fato incontroverso, nos últimos anos somos testemunhas de uma reviravolta política intrigante: A emergência de um discurso vindo de setores da direita (dita conservadora) que historicamente demonizou defensores dos Direitos Humanos e agora parece não só defender os direitos e interesses de indivíduos violadores da lei como também justifica seus delitos. O que desafiará Cientistas Políticos, Sociólogos e Historiadores nos próximos cem anos, tem se revelado um fenômeno polêmico, trazendo à tona questionamentos sobre os princípios ideológicos, ditos tradicionais e o posicionamento político de grupos conservadores.

Depois do julgamento que tornou Bolsonaro inelegível essa situação escancarou uma face obscura daqueles que outrora cunharam os termos “Bandidolatria e democídio” ao referirem-se aos setores que defendem os Direitos Humanos e demais garantias constitucionais.

Historicamente, a direita esforçou-se em pintar um quadro associado às políticas de segurança rígidas, fundadas em “defesa da lei e da ordem”, bem como uma renitente abordagem punitiva em relação à violação da norma penal.

Quem não se recorda dos críticos ferrenhos das “brandas leis brasileiras”? Entretanto, com a derrota nas eleições presidências e conjuntura política atual, temos presenciado uma direita que literalmente passou direito na curva da estrada que ela mesma pavimentou sobre uma ideia fundada na punição rígida e exemplar daqueles que violam a lei. E muito pior, passou fazer exatamente aquilo que demonizava e dizia de forma insultuosa ser coisa de esquerda: Defender violadores da lei. Ou, como diziam, defender bandidos.

Líderes e grupos de direita, que agora expressam apoio e compreensão em relação aos autores de delitos, são os mesmos que ontem chamavam ideólogos de esquerda de “defensores de bandido”.  Hoje tentam emplacar um suposto abuso de poder por parte do Estado e suas instituições policiais, que, segundo eles, violariam os direitos dos indivíduos acusados de cometer crimes. E quem diria, alegam inclusive que há casos de prisões arbitrárias, violência policial excessiva e falta de respeito ao devido processo legal. Assistimos perplexos defensores do “bandido bom é bandido morto” fazendo inspeção em unidades prisionais em busca de violação de Direitos Humanos.

Se alguém que entrou em coma profundo antes do final de 2022 retornasse ao convívio social do Brasil pós junho de 2023 teria muita dificuldade em entender quem “defende bandido” e quem defende a “aplicação e defesa da lei”. Grupos nas redes sociais entoam em coro que Bolsonaro apenas cometeu o erro de “quere jogar limpo em um país de corruptos”. Isso sem contar na cega “defesa” do ex-Procurador Federal que teve mandato cassado na câmara dos deputados, do Senador e ex – juiz federal que fez a própria regra processual e julgou de acordo com interesses, ou mesmo àqueles que aderiram ao terror e hoje são réus.

O que essa nova tendência significa para o futuro da direita política e sua base de eleitores é ainda incerto. As ideias em torno da criminalidade e justiça penal estão em constante evolução. Obviamente, no pior dos cenários, tal mudança de paradigma ainda que renda muitos “memes” na internet ressalta que a defesa dos direitos dos acusados não deve ser jamais confundida com uma apologia à criminalidade. Quem defende uma abordagem mais cautelosa em relação aos indivíduos envolvidos em crimes defendendo as garantias constitucionais não está apoiando suas ações, mas sim buscando uma justiça mais equitativa, que respeite os princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito.