A simbiose entre a extrema-direita fascista e setores do cristianismo ultraconservador é uma das heranças mais nocivas do bolsonarismo para a sociedade brasileira.
Não é à toa que Jair Bolsonaro (PL), que se diz católico, se aliou à escória do neopentecostalismo, que há décadas domina a política estadunidense e desembarcou no Brasil levando aos templos a pregação dualista - que divide o mundo entre Deus e o diabo, o bem e o mal -, e sua Teologia da Prosperidade, versão religiosa da meritocracia, dentro de uma organização empresarial, onde o Pix e as oferendas imperam.
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Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro e sua trupe de pastores utilizaram do terror dentro das igrejas para dizer que Lula fecharia templos e iniciaria uma perseguição religiosa implacável para impor o ilusório comunismo - o "homem do saco" dos adultos".
Seis meses após assumir o poder, Lula, ao contrário do que se pregava, não fechou igrejas. Pelo contrário: abriu um canal de diálogo até mesmo com setores mais reacionários do evangelismo, como o Republicanos, partido controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
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O presidente brasileiro também foi recebido pelo Papa Francisco há poucos dias no Vaticano. Um encontro carinhoso entre os dois maiores líderes progressistas do mundo, que rendeu diversas imagens que rodaram o mundo. E que chegaram às igrejas católicas.
Para tentar barrar uma investida de Lula no terreno evangélico - fértil para pregação de pautas falso-moralistas -, o bolsonarismo usa o discurso homofóbico e fascista de André Valadão, um dos pastores mais próximos do clã, como isca para ressuscitar o velho discurso da perseguição religiosa.
Valadão deu a deixa ao incitar os fiéis a assassinarem a população LGBT, em uma escalada de discursos violentos, e provocou a justa reação do governo e das autoridades, como o Ministério Público, que trata o palavrório do falso profeta como é: criminoso.
Ao sentirem que a isca foi fisgada, a contrarreação foi armada, com o apito de cachorro dado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nesta sexta-feira (4).
"Aos que estavam duvidando… a perseguição chegou dentro das igrejas, é o início do fim do resto que ainda tínhamos de liberdade religiosa", escreveu o senador no Twitter.
Junto da publicação, Flávio compartilhou uma notícia do site Pleno News, que pertence ao grupo MK Comunicação, criado pelo falecido senador e pastor Arolde de Oliveira, morto em 2020.
O grupo, que já gerenciou contas em redes sociais do próprio Flávio Bolsonaro, é um dos principais porta-vozes do ultraconservadorismo neopentecostal e tem entre seus colunistas nomes como Marco Feliciano, Bia Kicis e Elizete Malafaia.
O retorno de Lula ao poder ameaça a simbiose da extrema-direita com o ultraconservadorismo evangélico ao libertar a população mais pobre do terrorismo religioso por meio de programas sociais.
Sem fome e com conhecimento, a consciência desperta. E, consequentemente, há a percepção da manipulação covarde feita pelos falsos "messias", sejam nos púlpitos das igrejas ou da política. E o dízimo começa a secar - nas igrejas e na política, via Pix. Bolsonaro, Valadão e sua trupe sabem disso e apostam nessa segregação, nesse dualismo entre "gente do bem" e "endemoniados".
Foi assim em 2003 e começa a ser assim em 2023. Só não podemos morder a isca. E para isso é necessário cevar com conhecimento aqueles que são vítimas dessa aliança sórdida. É essa a libertação - de consciência - que o próprio Cristo prega nas escrituras. E é ela quem leva as pessoas a descobrir onde estão os falsos profetas e os verdadeiros demônios.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum