Estamos chegando ao fim do Mês do Orgulho, que marca a luta das pessoas LGBTs no mundo inteiro, relembrando nossos marcos históricos, conquistas e os desafios que ainda temos pela frente. E, como em todos os anos, além de celebração, esse mês também traz novos ataques para a nossa comunidade.
Ainda no começo de junho, o pastor bolsonarista André Valadão, um dos nomes mais representativos do fundamentalismo religioso hoje no Brasil, atacou a população LGBTQIA+, dizendo, num culto, que “Deus odeia o orgulho”, numa alusão óbvia ao 28 de Junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Depois, não satisfeito de fazer de seu suposto templo um palco para o preconceito, o pastor também repetiu a tal frase num post do Instagram.
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Infelizmente, não dá para falarmos das lutas e das dores das dissidências sexuais e de gênero sem falarmos sobre como, muitas vezes, a fé é manipulada para espalhar ignorância e ódio. Apesar do expressivo número de pessoas cristãs que exercem o amor e o respeito ao próximo, ainda vemos uma parcela maior, estridente e barulhenta, que usa do seu poder midiático, político e econômico para atacar as chamadas minorias sociais. André Valadão, Silas Malafaia e Marco Feliciano são alguns deles. Felizmente, eles não representam todos os evangélicos, que são cada vez mais críticos aos mercadores da fé, porém, eles ainda são muito influentes. E, quando um líder (seja político ou religioso) alimenta ódio contra algum grupo social, mesmo que num aparente “inocente” post em rede social, esse ódio reverbera como uma licença para todo tipo de violência, inclusive física, contra aquele tal grupo.
Nós, pessoas LGBTs, avançamos muito nas últimas duas décadas no Brasil. O avanço em direitos sociais é perceptível. Casais homoafetivos podem casar, adotar e registrar corretamente seus filhos, pessoas trans podem retificar seus documentos e a lgbtfobia foi, ao menos em teoria, criminalizada. Mas, apesar dessas conquistas, ainda somos um país moldado sob uma forte cultura de violência racial e de gênero, que afeta diretamente as maiorias minorizadas, ou seja, toda a parcela de cidadãs e cidadãos que foram, ao longo da história, marginalizados, criminalizados e invisibilizados. E a comunidade LGBTQIA+ está inserida aí.
Na semana passada, o apresentador Ratinho disse que a “parada gay” de São Paulo deveria acontecer no sambódromo, pois a Avenida Paulista é um lugar “para as famílias”. A escolha de palavras de Ratinho não foi um engano, mas sim um ataque proposital. Ele, que já foi condenado por trabalho análogo à escravidão, usa seu tempo e sua visibilidade para, mais uma vez, menosprezar pessoas que só estão tentando viver suas vidas com dignidade e honestidade. Pessoas LGBTs possuem família. Ele, que é um homem cisgênero, heterossexual e branco, não possui o monopólio sobre o conceito de afeto e de amor. Aliás, amor, aparentemente, é o que lhe falta.
Acredito que falta muito amor na vida de quem decide usar seu tempo e sua energia para atacar outras pessoas apenas por suas sexualidades e seus gêneros. Falta amor em todo mundo que planta o ódio. Falta amor em toda criatura que, deliberadamente, escolhe aproximar o Brasil de regimes autoritários e repressivos da diversidade. Falta amor em seres vazios, que respiram, que ocupam espaço na terra, mas que são desprovidos de qualquer sensibilidade, respeito e solidariedade.
Os tempos são outros. Nós não apenas existimos, mas hoje nós fazemos com que a nossa voz seja ouvida. Esse não é mais o Brasil de Bolsonaro e em breve, acredito eu, também não será mais o país da mediocridade bolsonarista. Possuímos cores, brilhos, dignidade e muita sede de visibilidade e de justiça social. Os armários foram rompidos e os conservadores terão que se segurar, pois vamos passar com o nosso orgulho!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.