PERIGO

Cartão vermelho! – Por Chico Alencar

É necessário controle rígido do funcionamento dessas casas de apostas em território brasileiro, o que não é fácil

A máfia das apostas movimenta muito dinheiro.Créditos: Reprodução/Ministério Público
Escrito en OPINIÃO el

O futebol é considerado, no Brasil, o “esporte das multidões".

Pois esse jogo, tão apreciado pelos brasileiros, está correndo sério risco de perder a credibilidade. As denúncias sobre o esquema de apostas que envolve jogadores e apostadores, denunciado pelo Ministério Público (MP) de Goiás, pode levar ao descrédito completo da "paixão nacional" junto a quem acompanha as partidas nos estádios ou nas telinhas de TV: o(a) torcedor(a).

Já houve, em um passado não muito distante, uma CPI que mirava os dirigentes das entidades que organizam os campeonatos brasileiros. Eles foram denunciados por supostamente cobrarem comissões em contratos de licenciamento de publicidade e de transmissões televisivas.

Agora é diferente e pode ser mais danoso ao futuro do nosso futebol.

O esquema denunciado mexe diretamente no resultado do jogo. Ao provocar um cartão amarelo ou vermelho, ou fabricar um pênalti, em troca de pagamentos, o jogador e seus aliciadores mexem com o resultado do jogo, põem em xeque a lisura da disputa.

Não é coincidência esse esquema ter aparecido com tal força depois que os sites de apostas esportivas foram legalizados, no fim do governo Michel Temer. Se, antes – sabe-se lá! – havia apostas, eram ilegais e movimentavam pequenas somas de dinheiro. Peixe pequeno, se comparado à atuação livre das atuais casas de apostas (Bets) que invadiram de forma avassaladora o mundo esportivo e televisivo de todos os brasileiros.

Para se ter uma ideia, o Ministério da Fazenda estima em cerca de R$ 10 bilhões a receita gerada por esses sites.

O combate a esse crime é urgente. Exige investigação aprofundada, estudo minucioso de seu funcionamento e, claro, punição severa aos participantes da máfia das apostas.

Mais que isso: é necessário controle rígido do funcionamento dessas casas de apostas em território brasileiro, o que não é fácil, já que têm sede em paraísos fiscais ou em outros países.

Fica difícil fiscalizar uma aposta que é feita em um celular no Rio e creditada em Liechtenstein, por exemplo.

O governo, até hoje, não regularizou o funcionamento destas casas de apostas. Na verdade, elas são a ponta do iceberg da legalização definitiva dos jogos no Brasil.

E aí fica a pergunta: precisamos disso? Não será, sobretudo, mais um elo da corrupção sistêmica, estrutural, que degenera, em quase todos os aspectos, a vida nacional?

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.