JUROS

Os acordes dissonantes que regem o Banco Central – Por Chico Alencar

Do jeito que opera hoje, o BC só beneficia os donos da banca. Uma rapina organizada e contínua que crava suas garras no desespero dos mais vulneráveis

Créditos: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Escrito en OPINIÃO el

Em reunião nesta quarta-feira, dia 22, o Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central (quantos representantes dos trabalhadores há lá?) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.

A decisão vai contra a expectativa do governo Lula, dos setores produtivos do capital e da opinião de renomados economistas brasileiros e estrangeiros. Um verdadeiro descalabro.

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Em artigo que publicamos aqui neste espaço, no dia nove de fevereiro, alertamos que esse patamar elevado (que torna a nossa taxa de juros reais a mais elevada do mundo), “paralisa a atividade econômica, bloqueia o crescimento do emprego e da renda e gera impacto negativo na situação fiscal, ao aumentar os custos da dívida pública. O custo social desta política é enorme”.

De lá para cá, a situação fiscal do governo deu sinais de melhora, conforme divulgado pelo Ministério da Fazenda, com previsão do déficit nas contas deste ano sendo revisto de R$ 231 bilhões para R$ 107 milhões.

Na véspera, em seminário promovido pelo BNDES, o presidente da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes da Silva, classificou as taxas de juros como “pornográficas”.

No mesmo encontro, o professor da Universidade de Columbia (EUA) e Prêmio Nobel de economia (2001), Joseph Stiglitz, defendeu um afrouxamento da política monetária. Para ele, os juros altos são “chocantes” e capazes de “matar” uma economia como a nossa.

O insuspeito economista André Lara Resende, considerado um dos “pais do Real”, também foi na mesma linha: “a combinação de juros muito altos e impostos também altos é profundamente recessiva e impede o crescimento da economia”, afirmou.

Os jornais de terça-feira (21) traziam notícias preocupantes de paralisia da atividade econômica, ao registrar que empresas do setor automobilístico estão dando férias coletivas aos empregados, por causa da crise que atinge o setor, puxada pelos juros altos. "Dominus, domínios, juros além" amarram os créditos para a expansão econômica.

O Banco Central não ouve a voz das ruas e da sociedade civil. Somente os acordes dissonantes da opinião do mercado financeiro e dos rentistas, que soam como música aos ouvidos insensíveis de sua diretoria. Para piorar, nesse "cabo de guerra" com o governo, Roberto Campos Neto e seus financistas sinalizam até com nova alta!

É necessário um debate sério, amplo, geral e irrestrito sobre a política monetária praticada pelo Banco Central. Do jeito que opera hoje, o BC só beneficia os donos da banca. Uma rapina organizada e contínua que crava suas garras no desespero dos mais vulneráveis. Já passa da hora de mostrar que existem limites para tamanha voracidade.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.