O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) divulgou um estudo da Rede de Observatórios da Segurança intitulado “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, que mostrou a cara do racismo em nossa sociedade.
O estudo monitorou a letalidade policial em oito estados. Dos 3.171 registros de morte com informação de cor/raça declaradas, os negros somam 87%, um total de 2.770 pessoas. Os dados foram obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública de Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo, via Lei de Acesso à Informação (LAI).
São números chocantes. A maioria desses crimes atinge jovens. No Rio de Janeiro, por exemplo, 40% das vítimas têm entre 12 e 29 anos.
Por coincidência, a divulgação se deu um dia após a data comemorativa da Proclamação da República. E nos faz pensar na sociedade em que vivemos. Nossa república é digna desse nome? República vem de "res publicus", que quer dizer "coisa pública", governo do povo.
Se pensarmos em como ela foi instituída, por meio de um golpe militar em 1889, entenderemos um pouco do caráter excludente que a molda. Nossa república é capenga. Sofre da falta de participação popular e de mecanismos de controle social sobre gastos e políticas públicas. Em seus 134 anos, foi marcada por várias tentativas de golpe.
Nos momentos de ascensão das forças populares e da ampliação da democracia, a tutela militar, sempre a serviço das classes privilegiadas, mostra suas garras. Foi assim no golpe empresarial-militar de 1964; ocorreu agora, na intentona de 8 de janeiro, que acabou frustrada.
A república nem sempre usa dos militares para impor seu caráter elitista. Basta olharmos o Congresso Nacional nos últimos anos: as reformas constitucionais são sempre contra os interesses populares. A “Constituição cidadã” de 1988, como a chamou Ulysses Guimarães, de lá para cá sofreu várias emendas – em sua grande maioria sempre restritivas aos interesses democráticos.
Esse estudo mostra com clareza como a sociedade brasileira é extremamente desigual e cruel com os mais pobres, que são pardos e pretos em sua maioria. Não chegaremos a lugar nenhum enquanto houver racismo nas políticas públicas brasileira.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.