Na mesma nota em que condenou os ataques do Hamas contra civis israelenses, argumentando que se trata de crime de guerra, a Anistia Internacional disse que é preciso encontrar uma saída para a questão palestina:
As causas profundas destes repetidos ciclos de violência devem ser abordadas com urgência. Isto exige a defesa do direito internacional e o fim do bloqueio ilegal de Israel a Gaza, que dura 16 anos, e de todos os outros aspectos do sistema de apartheid de Israel imposto a todos os palestinos. O governo israelita deve abster-se de incitar à violência e às tensões na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, especialmente em torno de locais religiosos. A Anistia Internacional apela à comunidade internacional para que intervenha urgentemente para proteger os civis e evitar mais sofrimento.
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Ao meio dia deste domingo, mais de mil pessoas já tinham morrido. A estimativa é de 750 pessoas desaparecidos. Um número indefinido de reféns foi levado para Gaza.
Os ataques sem precedentes do Hamas, que teriam pego de surpresa a inteligência militar de Israel, levaram o Knesset, o Parlamento israelense, a declarar guerra.
Dúvidas se de fato houve um apagão de inteligência invadiram as redes sociais, com teorias fazendo paralelo com os ataques a Pearl Harbor (1941) e ao World Trade Center (2001).
Estes ataques, que levaram os Estados Unidos a entrar oficialmente na Segunda Guerra Mundial e a invadir o Afeganistão e o Iraque teriam resultado de falhas da inteligência estadunidense.
Há intensa especulação de que Israel deixou a ofensiva inicial proceder com o intuito de ficar com as mãos livres para lidar com o Hamas e outros grupos que recebem apoio do Irã, como o Hezbollah.
O Hezbollah reagiu cautelosamente ao chamado para se envolver na guerra, promovendo desde o Líbano um ataque contra instalação militar israelense em território ocupado.
O anúncio de que o governo de Israel decidiu pela retirada da população civil de algumas áreas adjacentes a Gaza pode ser visto como sinal de que haverá uma invasão por terra.
Marwan Bishara, o principal comentarista da Al Jazeera, lembrou que milhões de árabes vivem lado a lado com milhões de israelenses e previu que a crise pode desandar em violência comunitária sem precedentes.
Da população de Israel, de pouco mais de 9,3 milhões de habitantes, mais de 20% são árabes.
Mais de 5 milhões de palestinos vivem sob permanente vigilância de Israel em Gaza ou na Cisjordânia.
Hoje, cerca de 650 mil colonos israelenses vivem em território que o plano aprovado pela ONU destinaria a um estado palestino, de acordo com a entidade.
A violência de colonos armados contra civis palestinos é apontada como uma das causas do conflito atual, além da entrada de grupos religiosos judaicos na mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, considerada território sagrado por 1,6 bilhão de muçulmanos.
Lideranças palestinas dizem que é plano deliberado dos governos de extrema-direita de Israel, com forte influência de partidos religiosos, de ocupar toda a Cisjordânia, reduzindo o território palestino ao que definem como "campo de concentração" de Gaza.
A ofensiva de Israel contra Gaza é uma oportunidade para o primeiro ministro Benjamin Netanyahu quebrar a espinha dorsal do Hamas, mas envolve várias armadilhas.
Combates de infantaria em território densamente povoado podem desandar em matança sem precedente de civis, além de oferecer ao Hamas e outros grupos palestinos a oportunidade de reagir com emboscadas e homens-bomba.
Nos últimos anos, a diplomacia de Israel foi razoavelmente bem sucedida na aproximação com vários governos árabes ou muçulmanos, como o da Turquia, o que resultou no congelamento de qualquer negociação de paz.
O apoio à expansão dos assentamentos ganhou tração entre os partidos religiosos que, apesar de minoritários, atuam como fiel da balança na política de Israel.
Massacres de civis em Gaza poderiam custar caro ao esforço diplomático de isolamento da causa palestina.
Do ponto-de-vista interno, no entanto, o Hamas acertou num alvo que Netanyahu terá de reparar, ao custo de eventualmente ser apeado do poder: a sensação de segurança que tornou possível a expansão contínua dos assentamentos de Israel em território ocupado.
Depois de Netanyahu propor um governo de união nacional e obter apoio unânime do Ocidente, lideranças militares ligadas ao governo de Israel falam em redesenhar o mapa da ocupação, da mesma forma que aconteceu depois da guerra do Yom Kippur, em 1973, quando Israel foi atacada por Egito e Síria.
Até agora, os governos árabes reagiram de forma cautelosa ao ataque do Hamas, diferentemente do que se viu no Irã, onde um porta-voz pontuou que "essa operação é um movimento espontâneo de resistência do povo oprimido da Palestina para defender seus direitos e é uma reação natural às políticas provocadoras e belicosas dos sionistas".
Durante a madrugada, no bombardeio aéreo a Gaza, áreas inteiras foram demolidas por ataques do Israel, uma tática que costuma preceder incursões armadas por terra.