É MOLE?

Chegado num extremista, Moro ataca Lula por questão argentina e alisa Javier Milei

Ex-juiz, que não hesitou em colar em Bolsonaro após vitória do radical em 2018, agora acena para monstrengo vizinho cujos seguidores celebram o genocida Jorge Rafael Videla

Créditos: Marcos Oliveira/Agência Senado
Escrito en OPINIÃO el

O senador Sergio Moro (União-PR), ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, que por anos comandou a operação Lava Jato, parece ter confirmado nos últimos dias que é afeito a extremistas reacionários, em que pese seu discurso em nome de um republicanismo que nunca se viu nos seus tempos de magistratura, quando agiu de forma parcial e imbuído de intenções políticas.

Após pedir exoneração do Judiciário para integrar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro mostrou não se importar com a pecha de bajulador do radical de extrema direita e foi nomeado pelo homem que abertamente defende a tortura e a sinistra Ditadura Militar (1964-1985). Agora, para não deixar dúvidas, o senador paranaense faz acenos e afagos a um extremista estrangeiro: Javier Milei, o parlamentar que disputa a presidência da Argentina.

Moro entrou em cena para defender Milei com uma publicação nas redes sociais na qual, como não poderia deixar de ser, atacou primeiramente Lula por conta de um empréstimo autorizado pela Comunidade Andina de Fomento, que é Banco de Desenvolvimento da América Latina, à Argentina, no valor de US$ 1 bilhão, que teria a finalidade de ajudar o país vizinho a renegociar sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma reportagem do diário conservador O Estado de S. Paulo afirma que Lula teria agido de forma direta para pressionar a liberação do dinheiro ao presidente Alberto Fernández, o que o Planalto nega.

“Não satisfeito em desarrumar a economia brasileira e nos colocar rumo a uma crise fiscal futura, Lula tenta afundar a Argentina ajudando o kirchnerismo nas eleições presidenciais contra Milei e Bullrich. Alívio em prazo curto não altera a gestão econômica ruinosa do populismo de esquerda na Argentina”, escreveu Sergio Moro em seu perfil oficial no ‘X’, antigo Twitter.

O que causa estranheza na postagem é a menção direta a Javier Millei e a Patricia Bullrich, dois candidatos à presidência da Argentina. O primeiro é uma figura escatológica do meio político local, que defende que os cidadãos possam vender seus órgãos para ganhar dinheiro e que absolutamente todos os serviços sejam privatizados e passem a ser pagos, como a saúde e a educação, além de advogar em nome dos genocidas que aterrorizaram o país na ditadura autodenominada “Processo de Reorganização Nacional”, que vigorou de 1976 até 1983. Nos últimos dias, partidários de Milei invadiram o Centro Educacional Marielle Franco, em Buenos Aires, e destruíram tudo, deixando mensagens como “Volta Videla”, em alusão ao general genocida Jorge Rafael Videla, que ao lado do almirante também genocida Emilio Eduardo Massera, colocou em marcha o mais violento e mortal regime autoritário da América Latina no século XX.

Em relação ao nome da segunda mencionada, Moro se dirigiu à ex-ministra da Segurança Pública do governo direitista e ultraliberal de Mauricio Macri. Patricia Bullrich encampou à época da gestão (e segue encampando) um discurso policialesco no melhor estilo “Datena”, que tem a finalidade de capturar apoio entre os setores mais reacionários da sociedade argentina.

Tanto cá como lá, o ex-todo-poderoso da Lava Jato, ao que consta, tem grande dificuldade para esconder sua inclinação por déspotas covardes que vilipendiam regimes democráticos. Para quem pensou que apoiar Bolsonaro e juntar-se a ele era o fundo do poço, saibam que no fundo do poço havia um alçapão. Moro agora acena a um sujeito cuja militância defende e idolatra Videla e Massera, dois notórios assassinos monstruosos que foram condenados à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade.