*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum
Em 7 de outubro passado o Hamas realizou seu maior ataque já registrado ao Estado de Israel, com lançamento de foguetes e mísseis e incursões de terroristas fortemente armados por terra, mar e ar.
Desde que começou a guerra em Israel, eu vivi intensamente esse momento. Estou conectada a esta guerra pelos amigos que tenho em Israel, vivendo os horrores da guerra, lidando com o terror e o medo do Hamas. Tenho famílias amigas cujos filhos são reservistas e que vão para a guerra. São mães judias que estão se despedindo de seus filhos sem saber se eles voltarão. Por isso, estive de alma presente nesses tempos tão obscuros.
Como humanista, defensora dos direitos humanos, defensora permanente da dignidade humana, eu condeno os atos terroristas do Hamas, pelos quais bebês, crianças, mulheres idosas, mulheres jovens e homens de todas as idades foram cruel e covardemente assassinados. E considero importante que fique exposto que nesse ataque do grupo terrorista Hamas a Israel foram assassinadas pessoas de diversas etnias, de diversas nacionalidades e dos mais diversos posicionamentos políticos. Foi um massacre do mais alto nível de brutalidade, em que o objetivo era matar todos que fossem encontrados pela frente. Por exemplo, 10 estudantes do Nepal que estavam realizando seus estágios de agronomia em Israel foram assassinados quando Hamas invadiu o Kibutz onde estavam. Mulheres judias e não-judias israelenses feministas que lutam pelos direitos das mulheres foram cruelmente assassinadas. Pessoas pretas vindas da Etiópia que encontraram em Israel um lar, que vêm de uma realidade de violência extrema, que fugiram de um genocídio, também estão entre as vítimas. E quando olhamos para os sequestrados lá estão pessoas das mais diversas origens e nacionalidades, uma violência sem precedentes no século XXI.
Toda essa catástrofe é um episódio de uma guerra que a meu ver já existe há algum tempo, que passou por momentos mais tranquilos e que só vai terminar quando houver dois estados. Quando esse momento de guerra oficialmente declarada passar, ou houver uma trégua, há de se trabalhar para diálogos com os legítimos representantes do povo palestino, para a efetivação de dois estados.
Quando abro as minhas redes sociais, sou bombardeada por imagens feitas por designers que colocam crianças caracterizadas como palestinas abraçadas ou brincando com crianças caracterizadas como judias israelenses. Isso é lindo, mas só será possível quando cada uma dessas crianças tiverem seus lares seguros. Dessa maneira, as próximas gerações poderão construir uma relação mais próxima por escolha.
Eu acredito na autodeterminação dos povos: o meu povo judeu escolheu ter o seu Estado de Israel e o povo palestino quer seu Estado Palestino. A questão é como construir diálogos para a efetivação da coexistência de dois estados. Por tudo que tenho observado nos últimos tempos, o Hamas nesse momento não representa o povo palestino. O Hamas foi criado em 1987 e seu nome é um acrônimo que, em árabe, significa “Movimento de Resistência Islâmica”. Sua cartilha prega abertamente a eliminação do Estado de Israel e do povo judeu, para a instituição de um estado exclusivamente islâmico nos territórios do antigo mandato britânico da Palestina. O Hamas foi eleito para 74 cadeiras de 132 do Conselho Legislativo da Palestina, em 2006, um apoio popular muito grande, mas hoje domina a Faixa de Gaza através de uma ditadura cruel que violenta o próprio povo palestino. Trata-se de grupo terrorista híbrido, com braços militar e político, não representando o povo palestino como um todo e que prega o assassinato de judeus, LGBT’s, de mulheres que não seguem suas cartilhas, e já cometeu as maiores atrocidades dentro das suas possibilidades. Portanto, se tivesse mais poder e ainda mais recursos, cometeria atrocidades ainda maiores.
É fato que nesse momento há uma crise humanitária em Gaza, porém essa crise já existia. Ela foi agravada de forma violenta com o atual contexto, mas um dos responsáveis pela crise do povo palestino é o próprio Hamas, que, de acordo com denúncias feitas por observadores e entidades internacionais, desvia constantemente recursos destinados à ajuda humanitária. Desde o momento em que a autoridade palestina perdeu o controle da Faixa de Gaza em 2007, tornou-se praticamente impossível entender os caminhos dos recursos que chegam à região. A população palestina encontra-se dividida entre Cisjordânia e Gaza, onde estão Hamas, Jihad Islâmica e a Autoridade Palestina, e aqueles dois grupos terroristas encontram-se em disputa por recursos com a legítima autoridade do povo palestino. A corrupção e a lavagem de dinheiro desviam os recursos da assistência humanitária, afetando a confiança da população nas autoridades e instituições constituídas.
Gaza recebe ajuda humanitária de outros países e de entidades internacionais, por meios lícitos, e inclusive recebia apoio financeiro de Israel, mas tudo leva a crer que, por corrupção, muito desse dinheiro nunca chegou na construção do bem-estar do povo palestino. É muito importante que a comunidade internacional atue fortemente para reforçar práticas éticas e auditáveis, para garantir a ajuda humanitária eficaz, para a população realmente necessitada.
Para nós judeus que fomos educados com valores judaicos e vivemos em comunidade sempre em trocas constantes, a vida tem um valor imensurável. Somos um povo com uma história de perdas, todas as etnias judaicas espalhadas pelo mundo em algum momento sentiram o peso do antissemitismo e da violência pelo simples fato de ser judeu. A nossa história judaica é marcada por mortes de pessoas simplesmente por serem judias. Não há uma hierarquia de qual vida vale mais, em nenhum momento dentro das nossas sinagogas nós ouvimos um discurso de que vidas israelenses valem mais do que vidas palestinas, isso não condiz com o que somos como comunidade. Queremos a paz.
Ao olhar para os conflitos na região, eles marcam de forma profunda aqueles que ali estão, e são traumas que serão levados para as próximas gerações. Então, eu acredito que para a construção da paz não bastará um diálogo entre o governo do Estado de Israel e a Autoridade Palestina, talvez outros países poderão colaborar com os diálogos e, acima de tudo, no combate aos grupos terroristas da região. Para que alcancemos a existência de dois estados, as lideranças mundiais precisam entender que, neste momento, de um lado há um estado democrático de direito e do outro lado há grupos terroristas atacando Israel e também vitimando o povo palestino. As lideranças mundiais precisam se posicionar para condenar as ações do Hamas, da Jihad Islâmica e do Hezbollah, que não visam a criação de um Estado Palestino independente. O silêncio dessas lideranças potencializa as ações de grupos terroristas, esses ataques terroristas a Israel não ajudam a causa palestina e não representam o povo palestino.
Nos seis primeiros dias do conflito Israel-Hamas, vivi em estado de choque, com dificuldade para comer, dormir e conseguir seguir com alguma normalidade na minha rotina. Cheguei a emagrecer bastante inclusive. Nesta última semana, fui aos poucos recuperando o apetite e voltando a um contexto mais saudável, porque consegui me liberar do estado de choque.
Nos três primeiros dias, só conseguia processar as informações que vinham de lá. Me cerquei de notícias que eram confirmadas e compartilhava com amigos, que contavam comigo para se informar. Trabalhei para cumprir um papel importante, de esclarecer informações para os meus mais próximos, porque há muitas fake news, muitas informações que levam a interpretações com negacionismo histórico. Há uma guerra de narrativas que envolve o conflito Israel-Hamas. A verdade é que existem fatos e qualquer análise do que acontece precisa ser baseada nestes fatos.
Para lidar com essa dificuldade que passei, devotei-me a meditação, flutuação e outros momentos de autocuidado. Mas o que realmente me ajudou foi perceber a importância da minha presença para as pessoas que amo. Refleti sobre o sofrimento de outras pessoas, e não quero comparar os momentos e as dores, pois cada sofrimento está relacionado à realidade de cada um. Percebi que essa situação toda gerou gatilhos muito fortes em pessoas próximas. Precisei ser forte para apoiá-las pois elas precisavam de mim.
Muitos que leem os meus textos me enviaram e-mails, mensagens, pedindo para eu escrever sobre o conflito Israel-Hamas, mas eu estava digerindo os fatos e em estado de choque. Sair do estado de choque envolve também perceber o nosso papel social enquanto indivíduo num contexto comunitário. Entendi que, como alguém com uma excelente formação na área de Pedagogia, eu também poderia contribuir trazendo ideias para atividades com as crianças e ajudando amigos próximos a contar para seus filhos o que está acontecendo. Como alguém que lidera um projeto educacional e socioambiental judaico, tive a obrigação de esclarecer o que estava acontecendo, junto de especialistas em Oriente Médio, de forma imparcial para os jovens que estão conosco.
Tudo isso me transportou para um lugar, onde mesmo muito triste e machucada pelo que estava acontecendo, eu precisava estar forte para ser útil aos meus mais próximos. Eu precisava, como escritora, trazer algumas das minhas percepções e experiências. Neste momento tenho exercido escuta, estou lendo muito, e futuramente posso retornar com um artigo mais robusto sobre o conflito. Por hora, vim através desse texto apenas trazer as minhas primeiras percepções para aqueles que gostam dos meus textos.
Eu me solidarizo à dor das famílias que tiveram seus entes queridos sequestrados pelo Hamas, me solidarizo a tantas mães judias que estão chorando pelos seus bebês que foram assassinados, me solidarizo a todas as mães israelenses que perderam seus filhos neste conflito, me solidarizo às mães palestinas que perderam seus filhos nesta contenda. Que a vida de todos os civis seja preservada.
É hora de controlar as ondas de ódio que estão se espalhando pelo mundo, de antissemitismo e islamofobia, que têm levado vidas inocentes na diáspora.
A verificação dos corpos de muitas mulheres judias idosas, jovens e meninas mostrou que foram estupradas e tiveram as genitálias cortadas. O dia 07 de outubro foi uma demonstração de ódio do Hamas por todo o povo judeu. Uma campanha antissemita com sangue de mulheres e bebês. O dia em que mais judeus foram assassinados desde o fim do Holocausto.