ATLANTA

A trilha da série Atlanta é o maior catálogo da música negra jamais feito antes

Criação de Donald Glover, o Childish Gambino, chega ao final, mas deixa como legado muito de toda a beleza da cultura afro-americana

Cartaz promocional da série Atlanta.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Chegou ao fim a consagrada série “Atlanta”, uma criação impagável do ator e cantor Donald Glover, também conhecido pela heterônimo de Childish Gambino. Através de situações que transitam entre a comédia, o non sense e o drama, a trama consegue, através de suas quatro temporadas, mostrar como poucas obras as lutas, preconceitos sofridos e, sobretudo, a cultura pop, que permeiam o dia a dia dos negros americanos.

Além de Glover, o elenco da série é composto por Khris Davis (Judas e o Messias Negro) como Tracy, RJ Walker (Boomerang) no papel de Clark County e Katt Williams (Norbit) interpretando Willy. Harold House Moore (Single Ladies) dá vida a Swiff, Tobias Segal (Mindhunter) interpreta E, Adriyan Rae (Chicago Fire: Heróis Contra o Fogo) está no papel de Candice, entre outros.

A maioria dos episódios de Atlanta foram dirigidos por Hiro Murai (do clipe This Is America). Já Donald Glover dirigiu nove episódios.

A trilha

A despeito de todo o sucesso e da maestria com que a série foi conduzida, há um detalhe nela que merece destaque: sua trilha. E nem poderia ser diferente, posto que o seu criador é um dos maiores expoentes da moderna música americana já não é de hoje.

Apesar de estar intimamente ligada ao universo do rap – a música mais executada e consumida do planeta atualmente – as canções usadas para ilustrar a série formam uma excelente coletânea. Trata-se de um verdadeiro catálogo do que há de melhor desde sempre na música produzida pelos negros, principalmente nos EUA, mas também em várias partes do planeta.

A coletânea de canções reúnes desde rappers contemporâneas, como o trio Migos e OJ da Juiceman, os dois formados na Georgia, até veteranos consagrados, como o Funkadelic, do ícone George Clinton; Billy Paul, com a sua poderosa e provocativa “Am I Black Enough For You (eu sou preto o suficiente pra você)”; a melódica “This Masquarade”, de Leon Russel, na versão inesquecível do guitarrista George Benson, entre outros.

A trilha busca ainda precursores da soul music, como Sam Cooke, com “Chain Gang”; a deusa do R&B Erykah Badu, em “Other side of the Game” e a intensa interpretação de Curtis Mayfield para a sua “When seasons change”.

Épocas e gêneros diversos

Os saltos de gêneros e épocas nos levam a uma viagem surpreendente e extremamente prazerosa por um verdadeiro atlas da rica contribuição afro-americana para a música pop contemporânea. Sempre lançadas através de significados expressivos em cenas estratégicas, gravações inesquecíveis como “My Angel (Mayka)”, com Harry Belafonte e a sul-africana Miriam Makeba, são de tirar o fôlego.

Tem mais, muito mais. Stevie Wonder, Ahmad Jamal, Miles Davis, Marvin Gaye, Herbie Hancock, Sly & The Family Stone e Ray Charles aparecem aqui e ali misturados a artistas novatos que eles ajudaram a forjar com seus álbuns maravilhosos.

As canções usadas na trilha de “Atlanta” estão disponíveis em uma playlist oficial no Spotify. Talvez seja a maior coletânea do gênero já reunida. Um hinário indispensável para se entender a música e o mundo a partir do século XX e tudo o que se fez (e ainda se tem feito) a partir dela.