Na semana passada, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro convocou os evangélicos para um “30 dias de oração e jejum” até o 1º turno das eleições. Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2020, Bolsonaro convocou um “jejum nacional” contra o coronavírus. Isso mesmo! Ao invés de buscar vacinas e parar de fazer propaganda de remédios ineficazes, o presidente convocou um “santo jejum”. Resultado: quase 700 mil mortos.
Culpa do jejum? Claro que não... mas de um desgoverno que se esconde atrás de “ações evangélicas” para não assumir responsabilidades ou enfrentar realidades. As “ações evangélicas” estão entre aspas porque não são evangélicas de fato, mas simulacros que têm um único objetivo: enganar o povo evangélico com a ideia de que Bolsonaro é cristão. Não é! Bolsonaro é um aproveitador. E agora usa mais uma arma em sua metralhadora de mentiras quanto a fé: a imagem de Michelle.
Para quem está há tempos na igreja evangélica, sabe o que isso significa: é o momento mais esperado desde a década de 80, quando começa a surgir no Brasil, ainda que timidamente, a ideia de que “precisamos de um presidente evangélico”, acompanhada, entre outras coisas, de frases do tipo: “já imaginou o presidente começando e encerrando seus pronunciamentos com ‘a paz do Senhor’?” ou “que sonho um presidente convocando o povo para um jejum antes de qualquer decisão”…
Bolsonaro sabe disso, e gente próxima dele sabe, e sabe bem o quanto esse “imaginário evangélico” é forte. Um presidente proclamando jejum é quase um reviver bíblico dos reis que impunham “jejuns santos” ao povo de Israel. É um símbolo forte para o evangélico.
O povo evangélico tem o sonho de um “presidente-messias-rei” desde que explodiu no país a “teologia de domínio espiritual”, quando se começou a pensar em ter “servos de Deus” ocupando os espaços de poder e que isso, por consequência, abençoaria o país. É desse espírito e dessa “teologia” que surgem frases de efeito como “o Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso!” e a explosão de placas e outdoors em entradas de cidades declarando que aquele município, agora, “pertence ao Senhor Jesus”.
A convocação para um jejum reforça a ideia messiânica que Bolsonaro quer implantar desde o começo de sua campanha e, principalmente, brincando com a fé evangélica, batizando-se no Rio Jordão e “aceitando Jesus” em vários eventos do mundo gospel brasileiro. E a igreja evangélica, ávida por poder e ansiosa para impor a todos a sua moral, nada de braçadas nesse lamaçal de sujeira, abraçada ao seu “capitão”.
E ainda é só o começo…
Mas, para o azar dessa gente, eles não contavam com uma inesperada inconveniência: a clareza bíblica quanto ao jejum que agrada a Deus:
Senão, vejamos o que diz o profeta Isaías no capítulo 58 versículos 2 a 9
“Eles me perguntam: ‘Qual a coisa certa a fazer?’ e gostam de me ter a seu lado. Mas eles também se queixam: ‘Por que jejuamos e não nos favoreces? Por que nos humilhamos e nem percebes?’.
“Bem, aqui está a razão: “A razão principal dos seus dias de jejum é o lucro. Vocês oprimem seus empregados. Vocês jejuam, mas ao mesmo tempo discutem e brigam. Vocês jejuam, mas acabam se enfrentando a socos. O tipo de jejum que fazem não fará que suas orações passem do teto. Acham que este é o tipo de dia de jejum que eu espero: um dia especial para demonstração de humildade? Um dia para pôr a máscara da piedade e desfilar solenemente em roupa preta por aí? Vocês chamam isto de jejum: separar um dia para que eu, o Eterno, tenha prazer?
“Este é o tipo de jejum que eu quero ver: quebrem as correntes da injustiça, acabem com a exploração no trabalho, libertem os presos, cancelem as dívidas. O que espero que façam é: repartam a comida com os famintos, convidem os desabrigados para casa, coloquem roupa nos maltrapilhos que tremem de frio, estejam disponíveis para sua família. Façam isso, e as luzes se acenderão, e sua vida será mudada na hora. Sua justiça irá pavimentar seu caminho. O Eterno de glória vai garantir sua passagem. Então, quando vocês orarem, o Eterno responderá. Vocês clamarão por ajuda, e eu direi: Aqui estou.”
Ah! Se esse povo lesse a Bíblia…
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.