OPINIÃO

A esperança é agora – Por Marcelo Uchôa

Bolsonaro é um delinquente em escala, que tanto sabe que cometeu crimes que já disse várias vezes que não aceitará, sob hipótese alguma, ser preso. Seus crimes são muitos, mas também é relevante dizer que, dentre entre os variados delitos, ele é imensamente corrupto

Créditos: Foto: Agência Brasil
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A poucas horas das eleições, do Ceará, estado em que, segundo pesquisas, cerca de minguados 20% do eleitorado aprovam o governo de Jair Bolsonaro (outros 20% consideram medíocre e 60% reprovam), a maioria absoluta da população se pergunta: como é que ainda há 7 estados do país em que uma pessoa tão repulsiva consegue estar na liderança das pesquisas de opinião?

Bolsonaro é homofóbico: com todas as letras, disse que preferia filho morto que homossexual; é misógino: comentou que teve quatro filhos homens e a quinta, uma fraquejada; é também racista: questionou a apoiador negro se era pesado em arroba; é xenófobo: para ele, médicos cubanos sequer são médicos; tem aporofobia, trata a pobreza como uma opção de quem não quer trabalhar. As parcas políticas positivas de seu governo para os segmentos vulneráveis da população foram arrancadas à fórceps pela mobilização social ou pela oposição.

Além disso, Bolsonaro é sinônimo de violência: entoa, em alto e bom som, que povo livre é povo armado, não só facilita o comércio de armas, como incentiva e promove sua aquisição; personifica a violência política: em 2018, prometeu fuzilar a petralhada, ação que seus truculentos apoiadores cumprem à risca; não bastasse, é sinônimo de violência contra a imprensa: desde a posse, não há semana em que não vocifere contra a mídia, tornou jornalista profissão de risco num país em que um segmento da sociedade ameaça fisicamente agredir repórteres e cinegrafistas na rua, reproduzindo um ódio espraiado pelo líder; outrossim: é violência indígena e ambiental, considera que povos originários vadiam sobre uma Amazônia que precisa ser desmatada para beneficiar madeireiros, mineradores e agropecuaristas, inclusive mega produtores de agrotóxico.

Como se não bastasse, Bolsonaro também é uma agressão institucional permanente, inimigo contumaz da democracia. Defende a sanguinária ditadura militar de 1964 e venera carniceiros torturadores e assassinos. Ameaçou inúmeras vezes se insurgir contra o STF. Com a faixa da presidência, tem sustentado cotidianamente que o processo eleitoral brasileiro é corrompido, o mesmo processo eleitoral que o elegeu parasita da política a vida toda.  Mente. Diz que a justiça eleitoral está determinada a lhe roubar as eleições de 2022, por isso, dia sim, dia não, promete acionar “suas” forças armadas para promover um golpe de estado. É ás em Fake News, bravatas e factoides. Não é sério.

É um atraso para as relações internacionais brasileiras. Beija a mão de um trambiqueiro como Donald Trump. Chama de feia a esposa do presidente da França. Tem o atrevimento de vociferar contra uma admirada ativista ambiental internacional adolescente e um nonagenário cacique indígena não menos respeitado mundo afora. Insinua que a China, principal parceira comercial do país, criou, em laboratório, por razões econômicas, um vírus violentamente mortal capaz dizimar a humanidade, o qual é adjetivado por sua laia de “comunavírus”. Apoia um embuste, como Juan Guaidó, que sequer possui unanimidade na oposição do próprio país. Apressa-se em reconhecer um golpe de estado obsceno como o de Jeanine Áñez. Confronta a OMS, as instâncias de direitos humanos da ONU. Mete os pés pelas mãos na diplomacia chegando a manter no mais alto posto da chancelaria do país um aloprado que festejou o fato do Brasil ser um pária internacional.

Mas pior de tudo. Como é possível ainda haver estados em que a maioria do eleitorado continua acreditando em um abominável que negou até quando foi possível a gravidade da pandemia de Covid-19? Que até hoje afirma levianamente que o Brasil foi um exemplo no enfrentamento ao coronavírus, logo o Brasil que é o segundo país do mundo em número de mortes? Que perdeu cerca de 700 mil pessoas, centenas de milhares das quais poderiam ter sobrevivido se não fosse a irresponsabilidade de um sociopata que se impôs contra as medidas de isolamento social recomendados pelas autoridades nacionais e internacionais de saúde? Que boicotou as ações desenvolvidas por gestores estaduais e municipais? Que promoveu o uso de medicamentos ineficazes para o tratamento da doença? Que recusou a compra de vacinas oferecidas ao Brasil e postergou, de propósito, o início da vacinação? Que foi contra a vacina! Foi contra a vacina até mesmo para a sua filha, uma criança. Que desde o princípio da pandemia e durante suas 4 ondas no país defendeu a imunização de rebanho por adoecimento? Um desalmado, cujo governo não só deixou o povo morrer sufocado sem oxigênio, como, ele mesmo, em Live, zombou do sufocamento por falta de ar?

Bolsonaro é um delinquente em escala, que tanto sabe que cometeu crimes que já disse várias vezes que não aceitará, sob hipótese alguma, ser preso. Seus crimes são muitos, mas também é relevante dizer que, dentre entre os variados delitos, ele é imensamente corrupto. Não só corrompe, como é corrompido. Usa um orçamento bilionário, “orçamento secreto”, para negociar suas pautas imorais no parlamento com uma bancada apodrecida ética, ideológica e politicamente, composta de mercadores da fé travestidos de sacerdotes, lobistas da degradação ambiental, do armamento pesado e de vendilhões da pátria em geral.

O déspota brasileiro não tem a mínima vergonha na hora de dificultar as investigações contra sua família (filhos e parentes), cuja origem está visceralmente vinculada à milícia (marginalidade policial) do Rio de Janeiro, extremamente periculosa. Sequer se constrange ao dizer indecências como “meus ministros do STF”. 

Do Ceará, onde apenas uma fração insignificante do eleitorado condescende com essa aberração humana, o povo olha o resto do Brasil torcendo para que saiba lidar com seus neurônios e escutar o próprio coração no próximo dia 2 de outubro. Há um estado de coisas indescritíveis acontecendo no Brasil. O mundo, atônito, aguarda que haja temperança. O povo pobre, cada vez mais famélico, não tem mais tempo. Falta comida.

Cearenses irão às urnas no próximo domingo com a expectativa de definir as eleições presidenciais ainda em primeiro turno, em escrutínio com vários candidatos, evitando que, numa eventual segunda rodada, com decisão polarizada entre apenas dois postulantes, Bolsonaro fortaleça-se em suas ardilosas alegações de fraude e tente emplacar uma encenação de golpe ou tumulto qualquer.

Para a sorte do Brasil, há “Luiz” no fim do túnel. Nesta véspera eleitoral, a possibilidade da vitória de Lula é real e plenamente possível. Ele representa o oposto do que está aí. É uma espécie de esperança certa. Uma confiança de conseguir virar a página, derrotando o fascismo e repondo o Brasil nos trilhos dos quais jamais deveria ter saído. E mais, com a consciência de que se há alguém em condições de fazê-lo e fazê-lo bem, esse alguém é ele.

O Lula já provou no passado que é possível construir um governo bom para todos, voltando-se prioritariamente à eliminação da fome, à erradicação da miséria e à diminuição do enorme fosso de desigualdade existente entre os poucos extremamente ricos e os muitos imensamente pobres. Ao lado disso, ele também é um bastião para os que sonham com uma América Latina verdadeiramente independente: soberana na determinação de sua política, livre no desenvolvimento de sua economia e diversa na promoção de sua cultura.

Torçamos para que chegue domingo e as urnas não decepcionem. Em todo caso, se a vitória não vier já no primeiro turno, haverá de vingar no final do mês, dia 30, na segunda tentativa. Importante é vir. E assim seremos felizes novamente. Esperança!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.