E lá se vai mais um Rock in Rio em que a grande marca não foi, ao contrário de outros tempos, nenhuma grande banda ou artista, mas sim uma sequência de retumbantes e inúmeros impropérios ao presidente Bolsonaro.
E não pra menos. O festival que termina a pouco menos de um mês das eleições presidenciais brasileiras, não teve de fato novidade alguma. Foi um reflexo do que tem sido o grande mercado da música mundial, ou seja, um sem fim de bons artistas, mas que não acrescentam rigorosamente nada ao que já conhecemos e ouvimos desde sempre.
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Entre artistas completamente decadentes, como Axl Rose e Billy Idol, e cantoras que usam e abusam do playback e bailarinos, como Camila Cabello, fico com Ludmilla e, sobretudo, Macy Gray e a sua emocionante homenagem à Elza Soares. Tanto uma quanto a outra deixam claro algo essencial. Você pode se fantasiar e rebolar o quanto quiser, mas se não cantar, não vai enganar ninguém.
Entre os brasileiros veteranos, vale destacar tanto Djavan quanto Maria Rita, que de rock não têm nada, mas dignificam qualquer palco em que se apresentam. Dos novos, vale, e muito, destacar tanto os Gilsons (filhos de Gil) quanto a ótima e divertida banda Francisco, El Hombre. Boa música, honesta e dançante.
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E já que é pra falar de rock, a excelente banda Green Day chegou e fez exatamente o que foi paga para fazer, um excelente show, pesado e bem executado, coisa que vários de seus pares deixaram a desejar. Melhor mesmo e mais surpreendente no gênero ficou por conta dos italianos da banda Måneskin. Uma pauleira do início ao fim, com vitalidade, boa música e energia de sobra. Além disso, eles são lindos e inusitadamente bem vestidos.
Teve muito mais gente que, ou não vi, ou preferi esquecer que vi ou fiz questão de não ver. Mas de tudo, nada valeu tanto à pena quanto a inesquecível apresentação de CeeLo Green. Com uma banda excelente e completa, com direito à seção de metais, uma voz implacável e ainda a participação dispensável e cordial de Luísa Sonza, o cantor americano foi melhor do que tudo que se viu junto e misturado.
Interpretou sucessos seus entremeados de clássicos de James Brown que paralisaram a plateia debaixo de uma chuva torrencial. Nada, nem antes e nem depois foi tão bom quanto ele e sua banda.
No mais, o mais difícil foi aturar os comentários deslumbrados dos repórteres designados pelo Multishow para “elogiar” e empurrar o festival. Com exceção do cantor e VJ China, poucos ali sabiam do que se tratava e repetiam chavões aos borbotões. A expressão da moda entre eles foi que fulano “entregou” um excelente show.
No final das contas, entre a máxima de que rock é 80% atitude e 20% música, fico mesmo com os 20%, se tanto. O excesso de atitude, tanto da indústria quanto de inúmeros artistas, escondida por trás de um talento ínfimo, já não é de hoje que vêm dando sinais de uma estrondosa fadiga de material.